Lavrov e Kerry reforçam luta contra Estado Islâmico, mas não convencem

Kerry (à esq.) se reuniu com Lavrov em um hotel de Viena, na Áustria Foto: Reuters

Kerry (à esq.) se reuniu com Lavrov em um hotel de Viena, na Áustria Foto: Reuters

Combate ao terrorismo no Oriente Médio foi o tema central de conversações entre o chanceler russo, Serguêi Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry. Depois de trocarem ideias sobre ‘ações concretas’, diplomatas decidiram que a luta contra o Estado Islâmico requer consolidação. Mas, segundo os especialistas, os países não estão prontos para atuar em conjunto.

Reunidos em Viena, na Áustria, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguêi Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, discutiram possibilidades de combinar esforços, entre si e envolvendo outros países, na luta contra os extremistas do Estado Islâmico. “O objetivo da Rússia é buscar ações práticas conjuntas”, declarou Lavrov, antes mesmo do encontro. 

Depois de mais de duas horas de conversações, os políticos concordaram em reunir “todos aqueles que consideram o EI um mal absoluto” e reprimir os grupos terroristas por meio de ações conjunturais. “A situação na região requer uma atuação mais ativa”, disse Kerry, após a reunião.

Segundo o diretor do Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências, Vitáli Naumkin, o fato de as autoridades dos EUA e da Rússia se comprometerem a negociar sobre essa questão já é um “passo em frente”. “Isso significa que há um entendimento mútuo, um interesse comum, que não existe em relação à Ucrânia”, afirma.

Porém, apesar do anúncio positivo, nenhuma das partes divulgou informações sobre uma possível “ação concreta”, e os especialistas garantem que será difícil atingir o objetivo proposto pelos políticos em Viena.

“Em primeiro lugar, há falta de vontade por parte dos EUA em colaborar com o governo sírio. Além disso, os demais Estados não têm força para iniciar um diálogo político”, diz Naumkin, referindo-se a uma declaração recente do ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, em Moscou.

Muallem, que se reuniu com Lavrov e com o presidente russo Vladímir Pútin um dia antes do encontro na Áustria, havia tecido duras críticas à postura dos EUA. “Os norte-americanos exigem uma solução política, mas alocam bilhões de dólares em apoio a terroristas”, disse.

Bloqueio como solução

O formato de coalizão é encarado com ceticismo pela maioria dos especialistas russos. “A coalizão já existe – EUA e seus satélites –, e isso não funciona”, diz o cientista político e diretor-geral do Centro Independente de Informação Política, Aleksêi Mukhin. “É justamente a atuação dessa coalizão americana que tem levado à expansão do EI sobre vários territórios.”

Para o vice-decano da Faculdade de Economia Mundial e Política Mundial da Escola Superior de Economia, Andrêi Suzdaltsev, a coalizão estará fadada ao fracasso enquanto a Rússia estiver sob sanções do Ocidente. “Além disso, o EI é um produto da política norte-americana no Oriente Médio. Eles falharam na empreitada de Washington, anunciada ainda em 2001, contra o terrorismo. Mas naquela altura combatiam forças clandestinas – agora estão combatendo um Estado terrorista”, diz.

“Esses foram erros norte-americano, e agora (...) a ideia é forçar a Rússia, humilhada e coberta de sanções, a pôr em jogo o seu bom nome, porque eles próprios não conseguem lidar com isso”, acrescenta Suzdaltsev.

Ambos os especialistas também ressaltam a ineficiência de ações anteriores, como bombardeamento aéreo e ataques localizado. “Já se foi o momento em que isso poderia ter funcionado”, diz Mukhin, definindo como “tolice” a possibilidade de declarar guerra ao EI.

Segundo o especialista, uma das principais iniciativas deve ser o bloqueio econômico do EI. “Enquanto alguns países comprarem petróleo do grupo e fizeram chegar armas ali, de uma ou outra maneira, será impossível enfraquecer a sua expansão”, conclui Mukhin.

 

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