Naválni fora da prisão é bom para o governo, dizem analistas

Naválni tenta representar papel de "Mandela russo", segundo analista político, o que não é bom para o poder estabelecido Foto: EPA

Naválni tenta representar papel de "Mandela russo", segundo analista político, o que não é bom para o poder estabelecido Foto: EPA

Contra pedidos do Serviço Federal de Execução de Penas, tribunal mantém suspensa condenação de oposicionista Aleksêi Naválni. Para analistas políticos, prisão efetiva de blogueiro seria desfavorável ao governo.

Na última quarta-feira (13), o tribunal responsável pelo caso do oposicionista Aleksêi Naválni por desvio de verbas da empresa estatal Kirovles decidiu manter sua condenação suspensa, apesar de pedidos do Serviço Federal de Execução de Penas para efetivá-la. Pronunciado em 2013, o veredito previa cinco anos de prisão.

Em fevereiro passado, Naválni chegou a ser detido por 15 dias por distribuir no metrô de Moscou panfletos chamando a população a participar da marcha anticrise “Vesná"  (do russo, “Primavera”).

Então, a marcha, que acabou não acontecendo, não tinha autorização do governo para acontecer. A ação foi considerada uma violação da lei: o apelo para uma iniciativa não autorizada.

De acordo com a legislação russa, a transgressão poderia motivar a alteração da pena suspensa em efetiva, mas somente se fosse sistemática. O tribunal considerou como não sistemáticos os atos de Naválni, pois esse praticou a ação apenas duas vezes.

Sessões intermináveis

Quando foi informado sobre a sentença do tribunal, o opositor afirmou que as “sessões judiciais intermináveis” foram uma forma de testar a reação da sociedade a sua eventual detenção efetiva e pressionar seu Partido do Progresso (que perdeu o registro no final de abril), assim como sua Fundação Contra a Corrupção.

“Não vamos nos iludir, em breve vão inventar qualquer outra história: atravessei mal uma rua, não me apresentei como devia às autoridades, olhei de lado para as pessoas... Ou simplesmente vão abrir outra ação criminal”, escreveu Naválni.

Na quinta-feira (14), outra sessão judicial estabeleceu que o blogueiro deve se apresentar aos inspetores em dias determinados, e não sem programar.

Naválni também foi sentenciado a 3,5 anos de pena devido a seu envolvimento no caso de desvio de verbas da empresa de produtos de beleza Yves Rocher. A sentença foi pronunciada em dezembro do ano passado. Seu irmão, Oleg, cumpre o mesmo prazo em uma colônia penal.

Por que Naválni não irá para a prisão?

“[As últimas sessões judiciais contra Naválni] são um processo de rotina que nada têm a ver com política”, disse à Gazeta Russa o codiretor do Instituto de Pesquisas Sócio-Econômicas e Políticas, Aleksandr Pojalov.

Para ele o Serviço Federal de Execução de Penas apenas cumpre sua função para não ser acusado de negligência, ou seja, chama a atenção do tribunal para o delito cometido e a eventual necessidade de mudanças na pena.

“Do mesmo modo, o tribunal cumpriu suas tarefas ao reconhecer que houve transgressões, ainda que não sistemáticas”, disse.

Já o diretor do Instituto Internacional de Análises Políticas, Evguêni Míntchenko, disse à Gazeta Russa que a prisão do opositor não convém ao governo.

“Naválni quer ser preso, mas isso não convém ao poder estabelecido, para que ele não vire um 'Nelson Mandela russo', cujo papel tenta representar”, diz.

Segundo Míntchenko, enquanto há ativistas que participaram dos protestos na Praça Bolôtnaia desde 2012 na cadeia, assim como outros parceiros de Naválni presos e exilados, o político "é tratado com benevolência, e isso não favorece a imagem da oposição”.

Já o analista político do Laboratório de Krichtanóvskaia, Mikhail Korostikov, acredita que os casos judiciais referentes a Naválni são políticos.

“A prisão do líder mais conhecido da oposição em tempos de sanções, recessão econômica e confronto internacional, complicaria ainda mais nossa posição na cena mundial", diz. “Hoje, o Estado não ganharia nada com sua prisão, que não favoreceria os níveis de aprovação do presidente e só provocaria consequências indesejáveis.”

 

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