Combate ao terrorismo requer nova estratégia

Memorial improvisando na estação Tekhnologicheskiy Institut, em São Petersburgo

Memorial improvisando na estação Tekhnologicheskiy Institut, em São Petersburgo

Reuters
O atentado em São Petersburgo expõe certa fraqueza nas defesas do país e demonstra que as medidas federais de combate ao terrorismo estabelecidas ao longo das últimas décadas já não são suficientes. A missão das autoridades agora é intensificar o combate às ameaças do chamado ‘terrorismo de baixa intensidade’.

O ataque terrorista em São Petersburgo rompeu a primeira linha de defesa russa contra os extremistas. O crime, no entanto, revela mais do que apenas deficiências na defesa da cidade contra o terrorismo – o paradoxo é que a própria ocorrência desse tipo de ataque é um sinal da eficácia dos serviços de segurança russos.

Prova de amadorismo

Os ataques terroristas de baixa intensidade são agora motivo de grande preocupação. Uma célula terrorista pequena e pouco organizada pode facilmente preparar duas ou três bombas de baixa intensidade e detoná-las em um lugar lotado. Tais atentados não têm o mesmo impacto da situação dos reféns do teatro Dubrovka, em Moscou, em outubro de 2002, por exemplo, mas, ainda assim, são capazes de gerar uma tragédia.

Para combater esse mal, é preciso ir além dos métodos convencionais de contraespionagem, e o fator humano continua a ser um componente crucial. Por outro lado, a vistoria de cada e todo indivíduo, talvez, só seja possível em Israel, que é frequentemente mencionado como modelo de combate ao terrorismo. No entanto, apenas 8 milhões de pessoas vivem no país e estão claramente divididas em “nós” e “eles”. Assegurar a segurança em Israel é muito mais fácil do que em países maiores, como a Rússia ou as principais nações da UE. Sem falar que nos últimos 10 a 15 anos, os serviços de segurança da Rússia – ao contrário de muitos outros – têm mostrado sucesso ao enfrentar inúmeras ameaças.

É relativamente fácil, porém, produzir uma bomba pequena, preenchê-la com pregos, embrulhá-la em um saco plástico para escapar da detecção e, em seguida, detonar o dispositivo em um lugar lotado. Paralelamente, a expectativa de que uma bomba que exploda entre estações crie uma onda de explosão maior é totalmente infundada, já que o dispositivo não seria capaz de causar danos em mais de um vagão.

É por isso que, em termos de tecnologia, o recente atentado foi organizado e realizado por amadores. O mesmo pode ser dito sobre o extintor de incêndio com dois quilos de explosivos e projéteis deixado na estação de metrô Ploshchad Vosstaniya.

Medidas localizadas

O atual sistema de segurança nos transportes públicos da Rússia foi desenvolvido na época em que os ataques terroristas constituíam uma séria ameaça à segurança nacional, e, atualmente, os serviços de segurança do país são capazes de neutralizar planos mal-intencionados de grupos antigoverno.

Devemos agradecer às agências de segurança russas por metodicamente neutralizar, ao longo de anos, a ameaça de terrorismo na Federação Russa e para além das suas fronteiras. Entretanto, a eliminação completa da ameaça de terrorismo é uma missão impossível. Qualquer indivíduo com alguma experiência e imaginação pode planejar grandes ataques terroristas nos quais não seja preciso penetrar em lugares altamente, mas que mesmo assim tenham um enorme impacto público.

Proteger-se contra uma bomba caseira de baixa intensidade feita em uma garagem é muito mais difícil.

Transferir a luta contra o terrorismo ao nível das autoridades municipais seria uma decisão mais fácil, porém equivocada. Vistoriar portões e focar em aparências físicas seria o primeiro nível de defesa; poderiam representar a “proteção contra um louco”, mas que, no caso de São Petersburgo, não funcionou.

Em nível federal, existem planos e recomendações que, quando aplicados de forma inteligente em campo, produzem resultados mais satisfatórios.

A única dúvida que resta agora é o nível de prontidão para se enfrentar uma nova ameaça: o retorno à Rússia de membros de todos os tipos de organizações terroristas que agora fogem da Síria e do Iraque. O ataque à Guarda Nacional na Tchetchênia, por exemplo, se enquadra justamente nessa categoria.

No entanto, o atentado em São Petersburgo deve levar as autoridades locais (e não apenas na capital do norte) a repensar as medidas antiterroristas básicas. Enquanto as autoridades federais continuarão a lidar com o terrorismo global, as autoridades locais também devem fazer algo para proteger as pessoas de terroristas amadores.

Publicado originalmente pelo jornal  Vzgliád

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