Por que 2017 representa o início de uma nova era na política global

Obama, Cameron, Renzi e Merkel: líderes ocidentais à beira do abismo

Obama, Cameron, Renzi e Merkel: líderes ocidentais à beira do abismo

AP
Tendências expressas este ano foram resultado de anos de transformação sociopolítica e apontam para necessidade de mudanças, inclusive no governo russo.

O ano de 2016 tem sido de mudanças drásticas na política global, que – após um olhar mais atento – parecem se não previsíveis, ao menos facilmente compreensíveis. Mas esse é o benefício da retrospectiva. Em tempo real, dificilmente alguém preveria o resultado do referendo britânico ou das eleições americanas. No entanto, governos desconectados com a realidade sentem agora a necessidade de ajustar suas políticas diante da reação populista de eleitores desencantados.

O que aconteceu este ano nada mais é do que uma consequência de mudanças acumuladas há muito tempo, de quantidade transformada em qualidade. O ano de 2016 marcou o fim de um período, após a Guerra Fria, em que a crença em uma nova ordem mundial ganhava grande impulso. Porém, verificou-se que algo acontecia em paralelo: uma tentativa de renovar as instituições ocidentais que haviam servido a Guerra Fria e um confronto bipolar para se adequar a um mundo americano. Mas sem sucesso: diferentes circunstâncias globais exigiam formatos diferentes.

Isso ficou evidente agora, embora não se saiba o que virá pela frente. Por enquanto, esse entendimento para ter tomado a forma de uma crescente onda de “soberania” e um recuo da globalização, embora ninguém negue a interdependência entre os países no mundo de hoje. À medida que a ordem política muda, a responsabilidade recai sobre os líderes, que devem e foram confiados a coordenar esses processos.

As caras e os caras de 2016

Em uma avaliação puramente subjetiva, o rosto da política global este ano foi o do presidente filipino Rodrigo Duterte.

De forma exagerada, Duterte encarna uma tendência global representada por Donald Trump, pelos líderes do movimento Brexit no Reino Unido e por outras figuras que são tradicionalmente descritas como populistas. Até recentemente, um político desse tipo estaria condenado ao fracasso e à exclusão da cena política. Mas tudo parece estar diferente: tanto o equilíbrio de poder no mundo como o humor das pessoas.

Outra categoria típica deste ano é formada por representantes da corrente política que perderam o contato com a opinião pública em seus países.

O primeiro-ministro britânico David Cameron e seu homólogo italiano, Matteo Renzi, decidiram usar a opinião direta dos eleitores para resolver questões de governança e perderam-se de forma estrondosa. Realizar referendos quando praticamente todas as pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com os “chefões” não é apenas um risco, mas sobretudo uma derrota quase garantida.

A categoria dos que não fizeram uma avaliação adequada da situação inclui ainda a ex-candidata pelo Partida Democrata, Hillary Clinton, que descreveu os eleitores de Trump como “deploráveis” e não percebeu (assim como os líderes da campanha para permanecer no Reino Unido) que os “deploráveis” são muitos e podem se ofender.

Um lugar isolado na Europa e no mundo em geral pertence à chanceler alemã Angela Merkel – uma encarnação da estabilidade na política, tanto no sentido positivo quanto negativo. No positivo porque Merkel, apesar de todos os deslocamentos tectônicos dentro e fora de seu território, continua mantendo controle da situação; mas é também negativo pois a política alemã apresenta uma característica cada vez mais nacional: firmeza na busca de um objetivo definido e indisposição para ajustá-lo.

Enquanto isso, o futuro ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não está terminando seu mandato com uma nota altíssima. É provável acabe sendo visto na história como um político com a sutil habilidade de sentir as mudanças, mas que nunca soube como lidar com elas.

Uma nova política para a Rússia

O presidente russo Vladímir Pútin vem fortalecendo sua reputação como o chefe de Estado mais poderoso do mundo. Desde meados de 2016, houve inúmeros boatos sobre uma suposta interferência russa no processo eleitoral dos EUA; e o mesmo irá provavelmente acontecer na Alemanha em meio às eleições de 2017.

Vale a pena ressaltar que Pútin se tornou símbolo de algo que o Ocidente vê como assustador não na arena global, mas dentro de cada país.

O principal resultado de 2016 são as mudanças no núcleo do sistema global, nos países ocidentais. A crescente relutância das pessoas em seguir um caminho que a classe dominante até recentemente acreditava ser o único possível é desconcertante para as elites governantes, que agora precisam ajustar suas políticas.

Além disso, esses ajustes devem ser feitos com o máximo de urgência: enquanto os governos não se adaptarem à opinião pública, não será possível brecar o avanço dos chamados “populistas”. No próximo ano, por exemplo, esse ajuste inteligente poderia ocorrer na França, caso François Fillon impeça que a Frente Nacional suba ao poder tomando emprestado alguns de seus slogans.

Seja como for, 2017 marcará o início de uma nova era. O quarto de século desde a dissolução da União Soviética chegou ao fim, junto com a agenda trazida pelo fim da Guerra Fria. Isso precisa ser entendido por todos, incluindo a Rússia, que necessita de uma política substancialmente nova.

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