Agrícolas russos para saciar a fome chinesa

China é maior importador de agrícolas russos desde o primeiro semestre

China é maior importador de agrícolas russos desde o primeiro semestre

Iorsh
Demanda de classe média chinesa por produtos de boa qualidade e ecologicamente corretos abre nicho de mercado para os produtores russos, sobretudo do Extremo Oriente.

Até meados dos anos 1980, a União Soviética estava entre os líderes mundiais na produção de trigo, centeio, beterraba, batata, leite e gado. A partir de então, porém, a indústria agrícola russa perdeu força, e foram necessárias duas décadas e meia para que conseguisse se recuperar.

O setor recebeu um grande impulso em 2014, quando o Kremlin impôs sanções aos produtos alimentares provenientes dos Estados Unidos e União Europeia (em retaliação às medidas impostas contra Moscou), e iniciou uma política focada na substituição de importações.

Além disso, a competitividade dos preços dos produtos agrícolas russas aumentou principalmente nos últimos dois anos, devido à forte desvalorização do rublo.

Já a China, encontra-se em um movimento oposto: enquanto a demanda por agrícolas aumenta, a capacidade de produção do país está em declínio. Com população cada vez maior e menos terras aráveis no país, nível de urbanização chinês já chega a 55%.

O governo de Pequim, percebendo que a situação põe em risco a segurança alimentar nacional, anunciou no final de 2015 que, como parte do 13º Plano Quinquenal (2016-2020), o país teria que depender mais da importação de alimentos.

É justamente nesse cenário que as perspectivas de médio e longo prazo para exportação à China parecem favoráveis aos produtores russos.

Extremo Oriente na largada

As regiões russas que fazem fronteira com a China, especialmente no Extremo Oriente, terão, no entanto, uma vantagem comparativa na exportação de produtos agrícolas para o vizinho. O desenvolvimento da infraestrutura na região irá estimular ainda mais o avanço do setor agrícola local, e vice-versa.

O quadro institucional para tal tendência já está sendo formado. O recém-criado Fundo de Desenvolvimento Agrícola russo-chinês, que tem por objetivo desenvolver projetos de infraestrutura agrícola nas regiões de Amur e Primorski, e na Região Autônoma Judaica, pretende investir até 200 bilhões de rublos (US$ 3 bilhões).

A cooperação entre os países no setor alimentício não está isenta de problemas, contudo. O primeiro obstáculo encontrado por produtores agrícolas russos é o procedimento burocrático para receber a certificação fitossanitária na China.

Os reguladores chineses são muito cautelosos ao permitir que empresas estrangeiras acessem o seu mercado agrícola. As negociações sobre a importação de carne da Rússia para o mercado chinês, por exemplo, se arrastaram por mais de um ano, e os primeiros produtos de carne russos só deverão chegar ao país no final de 2016.

Exportando sustentabilidade

Em 2015, a população da China consumiu 120 milhões de toneladas de trigo (quase o mesmo volume da União Europeia), 150 milhões de toneladas de arroz (um terço do consumo global), e 57 milhões de toneladas de carne suína (1º lugar no mundo).

Hoje, comparativamente em dólar norte-americano, os salários médios na China são mais altos do que na Rússia, e o crescimento da classe média chinesa tem estimulado a venda de alimentos de melhor qualidade.

Enquanto os fabricantes chineses muitas vezes sacrificam a qualidade dos alimentos produzidos para aumentar a produtividade, os agrícolas russos são vistos por chineses como produtos ecológicos cultivados nas vastas extensões de seu “vizinho ao norte”.

O nicho de produtos ecologicamente corretos ainda não foi explorado pelos fabricantes locais. Assim, apesar de todas as complexidades no momento, as perspectivas de médio e longo prazo para as exportações agrícolas russas parecem realmente promissoras. Não é por acaso que, no primeiro semestre de 2016, a China se tornou o maior importador de produtos agrícolas russos.

Oleg Remiga é chefe dos Estudos sobre China na Escola de Administração Skôlkovo, em Moscou.

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