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Decisão oficial do COI é esperada para esta quinta-feira (21)

Decisão oficial do COI é esperada para esta quinta-feira (21)

Reuters
O escândalo de doping envolvendo a Rússia é resultado de um ataque político ou consequência de um trabalho de má gestão esportiva? Para o jornalista Vassíli Konov, as tentativas da Agência Mundial Antidoping de proibir a participação do país nos Jogos Olímpicos no Rio carecem de provas e, assim, pendem mais para o primeiro caso.

Travis Tygart sabe de alguma coisa. É óbvio que, no sábado, 16 de julho, ele sabia mais do que o Comitê Olímpico Internacional (COI), mais do que o Comitê Olímpico Russo, do que o Ministério dos Esportes da Rússia, assim como mais do que eu e você. No sábado, 16 de julho, Travis Tygart sabia algo que todo mundo só conheceria na segunda-feira, 18 de julho, às 16h00, no horário de Moscou.

Travis Tygart é o chefe da Agência Norte-Americana Antidoping (Usada), o homem que preparou uma carta ao COI pedindo que a Rússia fosse banida dos Jogos Olímpicos e Parolímpicos no Rio de Janeiro – uma proibição baseada nos resultados da investigação de uma comissão independente liderada por Richard McLaren.

Com base nas conclusões de uma comissão, a) que é independente, b) que não está relacionada à Usada, c) cujas conclusões deveriam permanecer secretas até às 16:00, no horário de Moscou, de 18 de julho, há certa discrepância. Ou Tygart integrava a comissão da McLaren (que não é o caso), ou houve um vazamento de dados, e este foi planejado. Seja como for, algo que não deveria ter acontecido ocorreu.

Esporte versus Política

Na verdade, resta pouca dúvida de que a Usada seja uma das partes interessadas no processo contra o esporte russo. A carta vazada é prova disso, na minha opinião, sem qualquer margem para erro. É óbvio que o caso da proibição dos atletas russos foi transferido do plano esportivo para o político.

Apesar de toda a conversa sobre o esporte estar além da política, este não é o caso. Mesmo no momento em que nasceu, o esporte fez parte da política – durante os Jogos Olímpicos antigos, guerras eram cessadas. Agora, os Jogos Olímpicos se tornaram, na verdade, a razão para iniciar uma guerra desportiva, e contra a Rússia.

Nós não negamos o fato de existir problemas de doping no país, estamos lutando contra isso, deixamos o sistema antidoping a mercê de estrangeiros [desde novembro de 2015, o programa antidoping na Rússia tem sido controlado pela agência antidoping britânica, ou UKAD], nós não obstruímos a viagem ao exterior de dois funcionários-chave do nosso sistema antidoping – Grigôri Rodtchenkov, que se tornou informante da Wada, e seu assistente, Timofei Sobolevski.

Os atletas flagrados usando substâncias proibidas foram punidos, a Araf (Federação Russa de Atletismo) foi completamente revirada, aqueles que foram convidados a deixar seus postos foram removidos. Mas a pressão só tem aumentado: novos documentários, publicações e revelações.

Pouca evidência

Surge, então, a pergunta – se a situação é tão ruim na Rússia, como descrevem os colegas estrangeiros, tão ruim que comissões independentes são convocadas, por que, então, não vemos qualquer investigação de verdade?

Não me refiro a pilhas de papel de um projeto para romance policial emocionante de autoria de Rodtchenkov, um paciente de uma das clínicas psiquiátricas em Moscou, nem confissões de uma atleta medíocre como Iúlia Stepanova, que usou drogas ilegais por vários anos, mas não conseguiu ganhar nada mais ou menos significativo, mesmo com a ajuda de recursos escusos – refiro-me a documentos e provas.

No entanto, com base nas declarações dessas pessoas, sem qualquer base de evidência, sem investigação, sem provas, toma-se repentinamente uma decisão após a outra. Sem ouvir a parte russa, sem levar em conta os argumentos do nosso lado.

Toda essa situação cheira mal. As etapas que hoje vemos foram claramente pensadas, preparadas e, na minha opinião, concebidas para o público, e não aos profissionais.

O COI tem poucos dias para pensar. Deve ser uma decisão muito ponderada, uma decisão que possa brecar a guerra, que é o que justamente os Jogos Olímpicos deveriam fazer. Mesmo porque, em outro caso, as consequências são incalculáveis.

Vassíli Konov é editor-chefe do porta de notícias esportivas R-Sport.

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