União Europeia forte é de interesse russo

Segundo comentarista, Moscou considera que própria decadência das relações deveu-se ao enfraquecimento da UE. Ilustração: Dmítri Dívin

Segundo comentarista, Moscou considera que própria decadência das relações deveu-se ao enfraquecimento da UE. Ilustração: Dmítri Dívin

De políticas de imigração a combate a terrorismo, passando por regulação da crise na Ucrânia, diversas posições do bloco dependem de seu fortalecimento. E posição enfraquecida não favorecia a Rússia nesses aspectos.

A imprensa e os políticos europeus costumam dizer que a Rússia está interessada em uma União Europeia enfraquecida e que fará de tudo para apoiar sua desintegração.

A explicação seria que, em primeiro lugar, Moscou prefereria manter diálogo e resolver problemas diretamente com os Estados, em vez de fazer isso com a União Europeia; e, em segundo, que a Rússia financiaria partidos de direita, como a Frente Nacional na França.

Mas, apesar de ser mais fácil interagir com os países e forças políticas na União Europeia que estão interessados em uma cooperação construtiva atualmente, a Rússia não quer que a UE se desintegre ou enfraqueça.

Pelo contrário, por mais paradoxal que possa parecer, uma UE fraca iria contra os interesses práticos da Rússia.

Além disso, Moscou considera que os problemas atuais nas relações com a UE tenham aparecido devido ao enfraquecimento da UE.

A atual situação nas relações entre o país e o bloco resultam de processos de fragmentação e desintegração que começaram em meados da década de 2000.

Parceiro de defesa

Em primeiro lugar, a Rússia precisa de uma UE forte como parceiro em questões de defesa no espaço europeu.

Uma UE forte poderia participar mais ativamente dos debates sobre defesa antimísseis, armas nucleares táticas, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, o controle de armamentos e a expansão da infraestrutura da Otan no Leste da Europa.

A UE tem que ser um parceiro viável no diálogo sobre o sistema de segurança europeia. Além disso, é pouco provável que uma UE forte considere a Rússia como inimigo externo.

Já uma UE fraca apresenta outro problema para a segurança europeia. Sob essas condições, os países europeus pediriam que os americanos assumissem um papel mais ativo na segurança europeia e aumentassem sua presença militar na Europa Oriental.

Ao mesmo tempo, uma União Europeia fragmentada seria incapaz de adotar a política externa de pressionar a Ucrânia para que essa executasse os acordos de Minsk.

Além disso, na situação atual, a UE não consegue desenvolver uma nova política no Oriente.

Com o bloco fragmentado, Estados que guardam ressentimento contra a Rússia, como a Polônia e os Países Bálticos, teriam uma maior influência sobre os processos de tomada de decisões, enquanto seu papel fica em segundo plano em uma UE forte.

Nova situação no Oriente Médio

A Rússia precisa de uma UE forte também para resolver os problemas no Oriente Médio.

Apenas compartilhando de uma política externa comum seus países podem desempenhar um papel disciplinador nas relações com a Turquia, a Arábia Saudita e o Irã, o que ajudaria a garantir o surgimento de uma nova política internacional na região.

Hoje, a UE não é capaz de implementar uma política eficaz para imigração e combate do terrorismo, não consegue agir como um centro internacional que quebre a tendência da divisão global em duas grandes comunidades político-econômicas ou estabilizar o mundo.

Uma UE forte seria capaz de negociar com os EUA sobre o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (APT) e, ao mesmo tempo, seria um parceiro mais interessante para a China, enquanto uma UE fraca seria subordinada a Washington e tornar-se-ia um fator poderoso na divisão global.

Dmitri Suslov é vice-diretor do Centro de Estudos Europeus da Escola Superior de Economia e diretor de programa do clube "Valdai".

Publicado originalmente em russo pelo portalLenta.ru.

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