Nova crise, velhas causas

Ilustração: Tatiana Pereliguina

Ilustração: Tatiana Pereliguina

Instabilidade global traz à superfície problemas não resolvidos durante crise econômica de 2008. Fatores internos e externos vão dificultar o crescimento positivo da economia nacional, ainda que os preços do petróleo subam novamente.

O mercado de petróleo é febril. Em agosto de 2014, o barril de petróleo tipo Brent custava mais de US$ 90; um ano depois, o preço caiu para US$ 45. Nessas condições, o orçamento russo, que depende majoritariamente das receitas de exportações, fica em situação difícil.

O rublo cai e sobe proporcionalmente à diminuição e aumento dos preços do petróleo. Por isso, não é exagero dizer que o mercado e os consumidores russos estão vivendo em condições significativamente diferentes da realidade financeira dos últimos 10 anos.

Muitos economistas e representantes da comunidade empresarial começam a dizer que a crise de 2008 não foi “curada”, mas apenas “inundada” de dinheiro barato. O que vemos hoje é um retorno dos problemas que não foram resolvidas naquela época.

A política de flexibilização quantitativa nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão não resolveu os problemas de endividamento excessivo e dos riscos acumulados antes de 2007. Pelo contrário, só colocou-os de lado e até agravou a situação.

Ao longo desses anos, a Rússia, assim como outros países em desenvolvimento, sobreviveu a uma onda de “dinheiro quente”, ao crescimento da dívida externa privada e ao novo aumento das despesas orçamentais no contexto de preços do petróleo acima dos US$ 100 por barril.

Porém, a partir de 2013, o cenário começou a piorar. Os principais componentes do PIB russo se deterioraram drasticamente: a renda média real da população, o comércio e os investimentos em empresas caíram, enquanto o grau de despesas do Estado e das exportações foi paralisado.

O pior é que o rublo continuou a se fortalecer em termos reais, remetendo aos cenários pré-crise em 1998 e 2008. A principal diferença, no entanto, é que a atual queda dos preços do petróleo é muito mais profunda do que em 1997, embora a economia russa seja muito mais estável.

Se os preços do petróleo recuperarem rapidamente o valor de US$ 60 por barril, a economia russa continuará abalada, mas, pelo menos, o fundo de reserva do país não será esgotado, e o PIB voltará a crescer. Mesmo assim, os fatores internos e externos vão dificultar o crescimento positivo da economia nacional.

Entre os problemas domésticos, o mais importante é a insuficiente capitalização do sistema bancário, especialmente nas condições de intensa flutuação do rublo. É extremamente importante injetar dinheiro estatal para recuperar os empréstimos à economia.

Outra barreira interna para a estabilidade econômica da Rússia é o elevado nível da taxa de juros. Em meio a saltos significativos da moeda nacional, a diminuição da taxa básica de juros para estimular o crescimento econômico pode levar à fuga de capital.

Quanto aos fatores externos, o mais expressivo, além do preço do petróleo, é o risco relacionado ao contexto nos EUA e na China. A desaceleração econômica chinesa gera alto risco de esfriamento da economia mundial e uma nova queda dos preços do petróleo.

Paralelamente, o esperado – e constantemente adiado – início da “normalização” da política monetária dos Estados Unidos não ajuda a acelerar o crescimento da atividade econômica.

 

Konstantin Koríschenko foi vice-presidente do Banco Central da Rússia.

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