Um olhar eurasiático sobre o futuro

Ilustração: Iorsh

Ilustração: Iorsh

A cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), realizada em Ufá, paralelamente à reunião de líderes do Brics, encerrou o ano da presidência da Rússia no grupo de asiáticos. As conclusões – tanto da cúpula, como do último ano – terão um impacto profundo não só no desenvolvimento da SCO, como na região Ásia-Pacífico e no mundo.

 

Em coletiva à imprensa após o evento, o presidente russo Vladímir Pútin destacou o poder de influência da SCO no atual sistema de relações internacionais, além de se firmar como um importante elemento na manutenção da segurança e da estabilidade na região, e como uma plataforma de interação e promoção de interesses diversos.

A decisão de criar a SCO surgiu em 2001, quando o combate ao terrorismo passou a encabeçar não só a agenda internacional, como a lista de prioridade para garantir a segurança nacional em muitos países. Esse foi, em grande parte, o contexto que levou à criação da organização formada por Rússia, China, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão.

Muito foi feito ao longo desses anos, e as tarefas levantadas na época estão hoje, em grande maioria, resolvidas. Mas, como o mundo caminha mais rápido do que nunca, até as iniciativas fundamentais de oposição ao terrorismo e ao extremismo foram suplantadas por outras questões atuais.

Daí a importância da cúpula em Ufá: reforçada com novas condições, a organização formula suas metas e objetivos para a próxima década. A SCO confirma a lealdade às bases de sua atuação, previstas na Carta Fundadora, mas, paralelamente, torna mais precisos e concretos os seus objetivos e orientações de trabalho. 

Uma estrutura internacional que adota uma estratégia para um período de dez anos compreende claramente a sua manobra e até cresce em termos numéricos – é uma estrutura que está funcionando bem. “Com ela pode se fazer parceria”, pensa-se.

Como o processo de admissão de novos membros é feito por etapas, acredita-se que a SCO vai continuar trabalhando com a mesma composição até, pelo menos, a próxima cúpula, que será realizada em Tashkent em 2016.

Não é à toa que o assunto em torno da expansão da SCO foi o que provavelmente causou maior ressonância e, em geral, é natural que assim seja: pela primeira vez desde a criação do grupo, foi tomada a decisão de aumentar o número de participantes, com a provável adesão da Índia e do Paquistão (vide box).

Com isso, a SCO terá maior potencial político e econômico e, consequentemente, ganhará novas possibilidades de combater as ameaças e os desafios modernos. Ao se transformar da atual “SCO dos seis” na “SCO dos oito”, parte dessa união regional será composta pelos países-chave da Eurásia. Mas o que isso realmente significa?

Os países-membros do SCO, os observadores (Afeganistão, Irã, Índia, Mongólia, Paquistão e Bielorrússia) e os parceiros de diálogo (Turquia e Sri Lanka, aos quais se juntaram recentemente Armênia, Azerbaijão, Camboja e Nepal) são unidos não só por sua localização, mas, em muitos aspectos, por afinidades de pensamento.

Eles conduzem suas políticas internas e externas de forma independente, defendem o direito ao desenvolvimento, tendo sempre em conta as particularidades nacionais, e mantêm uma posição relativamente uniforme em relação aos grandes problemas do mundo moderno.

Como um dos polos do mundo multipolar em formação, a SCO é guardiã dos fundamentos da ordem mundial existente e dos mecanismos de governança global estabelecidos após a Segunda Guerra Mundial. Isso se reflete, em particular, na declaração que os chefes de Estado aprovaram no âmbito do 70º aniversário da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial.

Já em Ufá, a SCO exprimiu novamente apelos ao reforço do papel de coordenação central da ONU em questões de manutenção da paz e segurança internacionais e no reforço da não proliferação de armas de destruição em massa. Paralelamente, os horizontes econômicos da grupo continuam se expandindo.

 

A criação da União Econômica Eurasiática (UEE) e o conceito proposto por Pequim referente ao Cinturão Econômico da Rota da Seda vem mudando radicalmente a atmosfera na região e aumentando o grau de otimismo no ar. Em um cenário de dificuldades econômicas generalizadas, esse é um fenômeno muito importante.

E não foram poucos os comentários ocidentais em relação às cúpulas da SCO e do Brics. Podemos olhar para essas uniões como quisermos, mas é impossível ignorá-las. Quanto mais o tempo avança, mais elas dão o tom ao desenvolvimento internacional. Esse, sim, é um fato. 

 

Kirill Bárski é embaixador da Rússia na Tailândia e foi enviado especial do Presidente da Federação Russa para a SCO entre 2011 e 2014.

 

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies