A falta de acordos no fim da Guerra Fria

Ilustração: Tatiana Perelíguina

Ilustração: Tatiana Perelíguina

A disputa entre Rússia e Ocidente acerca da expansão da Otan na Europa é a mais importante questão sobre a segurança no continente, e tem como pano de fundo o fim da Guerra Fria e a falta de regulamentações desde então.

No final dos anos 1980, as partes que assinaram os acordos sobre a Alemanha concordaram sobre a não expansão da Otan, diante do consentimento soviético sobre a unificação do país e a retirada de suas tropas. Assim, os países da Otan se comprometeram a não instalar infraestrutura militar na Alemanha Oriental, ajuste que se mantém na atualidade.

Mas, apesar de a URSS expor claramente sua posição contrária à expansão da Otan, nunca se assinou um acordo que garantisse essa contenção. Entre 1989 e 1990, a questão não foi levantada, já que o Pacto de Varsóvia continuava em operação e ainda havia a esperança de um acordo com o Ocidente sobre um novo status quo na Europa. Já em 1991, a URSS perdeu o controle sobre os eventos na Europa Central e Oriental. Com a “Revolução de Veludo” e a extinção forçada do Pacto de Varsóvia, o Ocidente deixou de buscar compromissos com Moscou.

A situação se agravou ainda mais com a tentativa de golpe na União Soviética e a posterior desintegração do país. Os líderes da nova Rússia puseram de lado as exigências soviéticas de não expansão da Otan e ainda sonharam em ingressar na organização. 

Com isso, no início dos anos 1990, escorreu pelas mãos o momento de regularizar as relações russo-ocidentais. A inexistência de acordos levou a uma completa falta de compreensão entre as partes. 

A política não foi revista nem mesmo depois do primeiro desentendimento sério entre a Otan e a Rússia sobre o conflito nos Balcãs. 

A divergência de interesses levou a Rússia a reavaliar suas prioridades nas relações com o Ocidente. Os planos de criar uma ordem mundial justa não se realizaram. Os EUA e a Otan recorreram ao uso da força em conflitos diversas vezes e de forma unilateral, ignorando assim o direito internacional. E a política externa independente russa começou a provocar cada vez mais queixas no Ocidente, quepassou a afirmar que Moscou joga “contra as regras”.

A crise ucraniana foi a última e mais importante consequência da desregulamentação da ordem internacional. Para evitar futuros conflitos na Europa, Rússia e o Ocidente precisam acordar novas regras de cooperação na Europa e no mundo.

 


Andrêi Suchentsov é professor associado na universidade MGIMO e pesquisador no Club Valdai.

 

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