Uma revolução econômica de proporções olímpicas

Ilustração: Niiaz Karim

Ilustração: Niiaz Karim

Fórum Internacional de Investimento de Sôtchi pôs fim à dúvida de onde a economia russa pode buscar dinheiro para crescer.

Existe no folclore russo um personagem conhecido como “peixinho dourado”, que sabe falar a língua dos homens e realiza três desejos a quem o pescar. No início de setembro passado, o primeiro-ministro Dmítri Medvedev conseguiu pegar um “peixinho” desses. Ele reuniu os sete principais economistas do país e colocou três questões à mesa.

O primeiro-ministro quis saber: se seria necessário alterar a regra orçamental que determina que o nível das despesas do orçamento dependa do preço do petróleo; se deveria ou não aumentar os impostos; e se a Rússia precisa pedir dinheiro emprestado no mercado aberto.

O relator principal foi o reitor da RANKhiGS (Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e da Administração Pública) e colunista da Gazeta Russa, Vladímir Mau. As respostas a essas questões-chave deveriam ajudar o governo a decidir como compensar os gastos do orçamento no contexto de estagnação econômica e esfriamento das relações com os parceiros ocidentais.

Desde o verão que se verificava no governo um confronto entre os defensores da transição para uma mobilização brusca de modelo econômico “fechado” e os adeptos do caminho liberal. Os ideólogos do primeiro sistema insistiam no aumento dos impostos, sendo que uma das opções lançadas seria a introdução do imposto de 3% sobre as vendas – banido na Rússia ainda em 2003 devido à sua ineficácia.

Eles também propunham solucionar os problemas das empresas atingidas pelas sanções, incluindo a gigante petrolífera Rosneft, à custa do Fundo Nacional de Previdência e do Fundo de Reserva – do depósito especial das receitas do petróleo e gás, criado em 2004. Até o momento, esses fundos acumularam cerca de 6,5 trilhões de rublos, ou seja, aproximadamente US$ 170 bilhões, sendo que só parte deles são gastos e apenas em projetos infraestruturais.

Por sua vez, os partidários do liberalismo propuseram ao governo que, acima de tudo, reduzisse as receitas de impostos.

A decisão foi finalmente anunciada no fórum de Sôtchi, um dos principais acontecimentos econômicos da Rússia. Enquanto nos anos anteriores a figura central do fórum acabava sendo o presidente Vladímir Putin e o evento propriamente dito tinha um caráter protocolar bastante pronunciado, este ano se tornou um evento exclusivamente empresarial, cuja principal estrela foi o primeiro-ministro, Dmítri Medvedev. Todas as respostas que o primeiro-ministro recebeu do “peixinho dourado” foram incluídas em seu discurso de abertura do fórum.

Em primeiro lugar, o Estado irá manter as despesas e, para tal, foi decidida a criação de uma comissão governamental para otimizar os gastos orçamentais. Em segundo lugar, o governo não vai rever as regras de aplicação dos meios do antigo fundo de estabilização. Por último, a Rússia não vai aumentar os impostos. Portanto, além de comprovar a vitória dos liberalistas, a decisão mostra ser improvável que a Rússia se transforme em uma economia fechada de mobilização.

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