Moscou prefere 'rivalidade branda' entre EUA e China

Moscou tem interesse não somente em reduzir as tensões entre os EUA e a China, como também no abrandamento da situação no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional Foto: Reuters

Moscou tem interesse não somente em reduzir as tensões entre os EUA e a China, como também no abrandamento da situação no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional Foto: Reuters

Na última cúpula da Apec (Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico), realizada na capital chinesa, os EUA e a China assinaram uma série de acordos na esfera militar. Eles permitirão que as partes reduzam o risco de um confronto militar na Ásia Oriental.

Pequim e Washington desenvolveram um mecanismo de notificações bilaterais sobre as principais atividades militares de cada um dos países, além de acordar sobre um código de conduta no caso de colisões, no mar e no ar, entre objetos de sua propriedade.

As partes se dispuseram a firmar os acordos devido ao recente aumento do número de incidentes que poderiam colocar Pequim e Washington à beira de um conflito.

Entre as motivações para tanto, esteve o fato de a China ter incluído em sua zona de defesa aérea os territórios do Mar da China Oriental.

O especialista em China e membro do Conselho de Política Externa e de Defesa da Rússia, Aleksandr Gabuev, explica que nenhuma das partes está interessada em confronto.

"A China perderia em um conflito militar, e os EUA sofreriam grandes perdas. Por isso, ambos os lados estão interessados na estabilização”, afirma.

Mas outros cientistas políticos acreditam que os atuais acordos também representam o início da construção de um novo formato de cooperação entre os EUA e a China.

“As administrações de Xi Jinping e de Barack Obama, especialmente depois de uma reunião histórica na Califórnia em junho de 2013, passaram a buscar um novo modelo de relações, no qual são  fundamentais as questões de segurança militar,ou seja, as tecnologias para evitar o conflito. Os acordos celebrados na cúpula da Apec podem ser considerados como os primeiros resultados desse processo”, disse à Gazeta Russa o pesquisador-sênior do Instituto de Estudos dos EUA e do Canadá da Academia de Ciências Russa, Serguêi Truch.

Tensão permanece?

O novo modelo não obrigará a China a desistir de uma política mais ativa na região.

"As duas potências têm um entendimento próprio no que se refere à linha vermelha da negociação, aos critérios-chave de segurança, e seguirão esses", diz Trush.

"A República Popular da China continuará a pressão sobre os países vizinhos no Sudeste Asiático, o que é inaceitável para os EUA. Isso mantém o potencial de incidentes", concorda Aleksandr Gabuev.

No entanto, para o vice-diretor do Centro de Estudos Europeus e Internacionais da Escola Superior de Economia, Dmítri Suslov, o ponto positivo do novo modelo é a transformação do conflito EUA-China em uma de rivalidade branda.

"As partes acreditam ser inimigas na esfera militar, mas buscando fazer com que essa rivalidade e concorrência sejam gerenciáveis para evitar uma escalada, que nenhum dos lados deseja", diz Suslov.

"Algo semelhante acontecia nas relações soviético-americanas, quando, na década de 1960, eram realizadas as negociações sobre o controle de armamentos", completa.

O que o Kremlin quer

As consequências da normalização das relações EUA-China para a Rússia podem ser entendidas de diferentes maneiras.

"É evidente que a redução do nível de confronto entre Pequim e Washington limita as possibilidades de Moscou, subtrai seu espaço de manobra. Mas, sob a perspectiva geoeconômica, sem dúvida, Moscou sai ganhando. Recebe um contexto mais positivo para buscar seu nicho na economia da região Ásia-Pacífico, inclusive para atrair investimentos para a modernização de seus territórios no Extremo Oriente", diz Truch.

Além disso, Moscou tem interesse não somente em reduzir as tensões entre os EUA e a China, como também no abrandamento da situação no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional.

 "Se a Rússia pretende aumentar o fornecimento de petróleo e gás na região Ásia-Pacífico, certamente ela está interessada em rotas marítimas seguras", explica Gabuev.

Suslov observa que, no caso de um agravamento acentuado das relações EUA-China, “a Rússia seria obrigada a apoiar a China, e isso seria perigoso não só pelo fato de se transformar definitivamente em um parceiro minoritário da China, mas também por causa da falência das tentativas de estabelecer parcerias estratégicas com outros países do Leste e do Sudeste da Ásia, muitos dos quais são aliados e parceiros dos EUA, e que, no caso da escalada do conflito entre EUA e China, ficariam do lado de Washington”.

 

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