Colapso do governo ucraniano é tema de reportagens da imprensa russa

De acordo com especialistas entrevistados pelo jornal, "a manobra de Iatseniuk significa que ele realmente vai para a oposição ao chefe do Estado" Foto: Reuters

De acordo com especialistas entrevistados pelo jornal, "a manobra de Iatseniuk significa que ele realmente vai para a oposição ao chefe do Estado" Foto: Reuters

A renúncia do premiê da Ucrânia e a dissolução da maioria governista no parlamento são sinais da crise enfrentada pelo país.

Uma ameaça de “colapso do poder” na Ucrânia foi o tema abordado pelo jornal "Kommersant" nesta sexta-feira (25): num mesmo dia, a coalizão majoritária do parlamento se desfez e o premiê, Arséni Iatseniuk, renunciou.

"A renúncia de Arséni Iatseniuk, considerado uma das figuras-chave das novas autoridades de Kiev, e que contava com o apoio quase incondicional do Ocidente, provocou uma crise política aguda", disse a publicação. A aliança entre o primeiro-ministro e o presidente Petro Porochenko, que segundo o "Kommersant", começou a se formar nas últimas semanas, acabou se desfazendo com o anúncio.

De acordo com especialistas entrevistados pelo jornal, "a manobra de Iatseniuk significa que ele realmente vai para a oposição ao chefe do Estado" e o ex-premiê pode chefiar o partido Solidarnost. Outros especialistas defendem que a maior preocupação do presidente ucraniano deve ser o "duro golpe dado por seus recentes aliados do partido Udar", que provocou a desintegração da maioria parlamentar na Rada (o parlamento ucraniano).

Para o jornal, em meio ao calor da operação militar no leste da Ucrânia, a uma crise financeira e no início da campanha pré-eleitoral, o país pode mergulhar na anarquia. "Tudo o que está acontecendo desperta dúvidas se Porochenko conseguirá permanecer no cargo pelo período completo de cinco anos", resumiu o "Kommersant".

"A dissolução da coalizão governista do parlamento da Ucrânia abre caminho para eleições parlamentares antecipadas no país. Para quê o presidente Porochenko irá realizar eleições num país em guerra?", perguntou o jornal "Vzgliad" em sua última edição. Enquanto no leste da Ucrânia há uma guerra, em Kiev oligarcas continuam a lutar pelo poder, escreveu o jornal.

A publicação lembrou que Porochenko, antes de ser eleito presidente, falou do seu desejo de novas eleições parlamentares: "Isso é compreensível, pois ele não tem maioria no parlamento, e contar com uma aliança de longo prazo com Timochenko é impossível". Para o jornal, todos esses argumentos seriam adequados em tempos de paz, mas agora a Ucrânia está em guerra. "O fato de que a lei marcial não foi formalmente anunciada explica-se exatamente pelo fato de que, em tempos de lei marcial, é impossível realizar eleições. Porochenko está confiante de que vencerá sem reconhecimento formal da lei marcial", escreveu o "Vzgliad", acrescentando que realizar eleições em condições de guerra, sob a ameaça de colapso do país, “é o cúmulo da loucura”.

De acordo com o jornal, Porochenko, assim como outros participantes da batalha pelo poder em Kiev, precisa fixar suas novas posições, e eles preferem não pensar se a Ucrânia vai ou não sobreviver até meados do outono, mas como pressionar os adversários. “As eleições da Rada são um ato de loucura no drama do colapso do Estado ucraniano”, observou o "Vzgliad".

A revista "Expert" escreveu que a dispersão do parlamento ucraniano era esperada, "mas a renúncia simultânea do primeiro-ministro tornou-se uma surpresa desagradável para algumas pessoas". "O colapso da coalizão dominante tornou-se uma confirmação oficial do fracasso da política do governo, que é baseada em decisões incompetentes e irresponsáveis​​", disse a "Expert”.

Segundo a publicação, o país permaneceu por vários meses sem um parlamento funcional, e a nova composição provavelmente será mais adequada ao clima atual da sociedade ucraniana.

A revista entende que se o presidente pudesse faria eleições agora, mas pela lei isso é impossível. De acordo com a lei, os deputados têm um mês para construir uma nova maioria, e as chances de isso acontecer, segundo a opinião da "Expert", são mínimas. Conforme explicou a publicação, este atraso das eleições causa problemas ao presidente: as autoridades devem resolver o impasse com as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk antes da determinação das eleições. "Talvez isso explique a promulgação da nova lei de mobilização parcial, que provocou uma reação muito negativa do povo ucraniano," disse a "Expert".

A publicação relatou que havia rumores de que o "presidente estaria disposto a tomar Donetsk e Lugansk até o fim de agosto a qualquer preço". No entanto, algumas pessoas deixaram claro que não estão dispostas a arcar com as consequências de uma ação do tipo. Arseni Iatseniuk "simplesmente decidiu saltar do barco pouco antes do acidente, para que não lhe culpassem pelo naufrágio", disse a revista.

 

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