O mistério do monge budista que ‘ressuscitou’ quase um século depois de morrer

Dachi-Dorjo Itiguilov.

Dachi-Dorjo Itiguilov.

Wikipedia
Médicos forenses ficaram surpresos com as excelentes condições do corpo exumado.

O monge budista Dashi-Dorzho Itiguilov morreu oficialmente há 90 anos na Buriátia, região da Sibéria.

De acordo com seu testamento, o monge alcançou o Nirvana, mas pediu para ser exumado 30 anos depois.

Desde então, coisas estranhas têm acontecido com o corpo do monge, e não está claro se ele realmente morreu ou está em um estado de profundo repouso.

O lama Dashi-Dorzho Itiguilov assumiu a posição de lótus 90 anos atrás, reuniu seus discípulos, pediu que rezassem por ele e caiu em um estado de profunda meditação.

“Visitem-me e vejam meu corpo em 30 anos, e em 75 anos me tirem da Terra”, disse o monge antes de morrer.

Sentado na posição de lótus, ele foi colocado em um cubo de cedro e coberto por sal, como recomendado em seu testamento.

A última vez em que seu corpo foi examinado foi em 2005. Desde então, não são permitidos outros exames ou fotografias.

De forma estranha, por mais de um século seu corpo tem ganhado e perdido peso, transpirado e não tem se deteriorado.

O mais famoso budista russo

Nascido em 1852 em Ulza Dobo, no território da Buriátia (4.400 km a leste de Moscou), Itiguilov perdeu os pais quando era jovem e quase não há informações sobre a família.

Com o tempo, o fato originou lendas entre os monges sobre sua origem divina. Por exemplo, a de que ele veio à Terra como um menino de 5 anos, como uma entidade divina: o Bodhisattva, ou Buddha.

Órfão, Itiguilov trabalhou como pastor e era fascinado, de acordo com os monges, por túmulos e objetos funerários.

O garoto levava seu rebanho para o cemitério e lá brincava com os mortos, penteando seus cabelos e dizendo “Se ao menos vocês me ouvissem, não estariam deitados mortos”.

Na época, as pessoas da região não usavam caixões e não costumavam enterrar seus mortos, deitando-os em plataformas entre árvores ou colinas.

Um dia, o jovem Itiguilov se aproximou de algumas pessoas, uma das quais levava um bastão com uma caveira espetada na ponta.

“O menino será um grande mestre e enganará a morte”, disse o lama.

Lendas monásticas dizem muitas coisas sobre Itiguilov que parecem irreais. Por exemplo, acredita-se que ele era capaz de separar a água.

A única coisa que é certa é que, quando tinha 15 anos, ele foi a um monastério budista, a 300 km de sua vila natal, e ali permaneceu por 23 anos estudando textos religiosos.

Lá, ensinou seus discípulos, tornou-se chefe do monastério e participou de uma audiência com o tsar Nikolai II. Logo antes da Primeira Guerra Mundial, tornou-se líder dos budistas do leste da Sibéria.

Com a ascensão do Estado soviético ateu, Itiguilov recomendou a seus companheiros lamas que deixassem o país, prevendo repressões. Mas ele não deixou a Rússia, dizendo que não o prenderiam a tempo.

De acordo com documentos, ele morreu em 1927, com 75 anos de idade.

Piada budista?

Seu corpo foi exumado 28 anos depois e não 30 anos, como foi estipulado em seu testamento.

Na época, um forte furacão atingiu Buriátia, e os moradores da região quiseram rezar para o monge pedindo ajuda, por isso abriram a caixa com seu corpo.

Suas juntas pareciam estar flexíveis, a pele manteve a elasticidade e a área em torno de seu coração estava aquecida.

Suas roupas foram trocadas e ele foi enterrado novamente. O procedimento foi repetido em 1973.

Em 2002, como indicado em seu testamento, a caixa foi exumada e levada para o monastério de Ivolguinski, próximo a Ulan-Ude.

A tampa não foi removida naquela noite, e os monges só rezaram e acenderam velas.

Pela manhã, um médico forense abriu a caixa e encontrou o corpo coberto de sal até a altura dos ombros.

A cabeça do monge estava em tão boas condições que era possível suspeitar que ele ainda estivesse vivo, de acordo com testemunhas.

“Primeiro, todos acharam que era algum tipo de piada budista, mas agora não. Seus órgãos internos estão ótimos, assim como os olhos. Um especialista examinou-o recentemente e disse que seu corpo é como o de uma pessoa morta há apenas algumas horas”, disse Ianjima Vasilieva, diretor do Instituto de Pandito Hambo Lama Itiguilov.

Palácio de Pandito Hambo Lama Itiguilov.

Os pesquisadores não puderam examinar o peito de Itiguilov com um estetoscópio, mas os monges concordaram em enviar dois gramas de amostras para exame, incluindo cabelo, pele e pedaços de unhas do corpo.

“Exames de raios infravermelhos mostraram que as amostras de proteínas tinham características vivas, e quando exumado o corpo não tinha o odor de um corpo em putrefação e ainda não tem”, concluiu Victor Zviagin, ex-diretor de identificação do Centro Russo de Exames Médicos Forenses. 

Isso não quer dizer, no entanto, que o lama ainda esteja vivo. Análises de pele mostraram que a taxa de bromina em seu corpo é 40 vezes mais alta do que o normal e que a temperatura corporal é 20 graus mais baixa, um claro sinal de morte.

Os monges (com a exceção do Dalai Lama, que prefere não comentar) dizem o oposto, assim como milhares de peregrinos que viajam para ver o corpo de Itiguilov.

Além disso, desde que foi exumado, seu corpo tem ganhado cerca de 2 kg por ano. Nos últimos seis anos, seu peso aumentou cerca de 10 kg, e o excesso de umidade às vezes aparece no corpo e lembra o suor.

Cientistas acreditam ter encontrado uma explicação natural para o fenômeno. Legumes possuem altos índices de bromina e podem suprimir a sensibilidade do corpo e limitar o impacto de estímulos externos quase sem influenciar as partes do cérebro que controlam a respiração e a circulação do sangue.

Isso porque há uma teoria de que quando Itiguilov estava vivo comia muitos legumes e, com a ajuda da auto-hipnose, desligou as funções metabólicas vitais de seu corpo.

Em outras palavras, ele teria entrado em um estado de profunda meditação e de anabiose, após o qual morreu.

O sal ou tecidos secos podem absorver vapor d’água e influenciar o peso do corpo quando este é exposto ao ar.

LEIA TAMBÉM: 3 múmias russas famosas (que vão muito além de Lênin!)

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies