Datcha, o refúgio dos russos que encanta estrangeiros

Vladimir Smirnov/TASS
As atitudes dos russos em relação às suas casas de campo variam do amor ao ódio, mas os estrangeiros parecem ter sentimentos calorosos por esse aspecto da vida russa.

“Era uma daquelas manhãs de domingo em que eu estava exausta depois de quatro horas de trabalho, mas tive que fazer um bate-volta para minha datcha para trazer minha mãe de volta à cidade”, lembra a guia turística Elena. “Após um passeio de bicicleta de quatro horas em torno de São Petersburgo, os turistas que estavam comigo, um casal holandês, disseram que tinham ouvido que a aldeia russa é um lugar esplêndido e perguntaram onde poderiam ir para ter um gostinho dessa experiência. No fim das contas, eles acabaram indo junto para minha datcha”, continua Elena.

Casas de madeira com janelas padronizadas; bábuchkas (vovós russas) envoltas em um xale e sentadas na entrada; e um samovar na sala de estar – é assim que a maioria dos estrangeiros imagina uma datcha russa. Esse refúgio aparentemente exótico, e longe da cidade barulhenta, seria um cantinho do paraíso para curtir o silêncio.

Na realidade, entretanto, a datcha é um lugar onde os russos precisam trabalhar duro para que as flores, hortaliças – ou seja lá o que plantem – cresçam bem. Além disso, tudo está constantemente precisando de reformas, e nem sempre há um banheiro adequado – em vez disso, é comum uma casinha de madeira com um buraco no chão.

Afinal, por que os estrangeiros ficam fascinados com esse tipo de lazer?

Aquele clima de feriado

O neozelandês Max é casado com uma russa e mora em Moscou há cinco anos. A família tem sua própria datcha, uma casa de madeira datada da década de 1950 e que foi construída pelo avô de sua mulher – sem água corrente nem banheiro de verdade.

Há três anos, porém, o casal modernizou completamente a casa, e agora pode relaxar ali durante o ano todo, até mesmo no longo feriado de Ano Novo russo, quando a temperatura lá fora bate 20 graus negativos. Eles também costumam convidar amigos e dar longas festas de fim de semana, com comida, crianças e diversão.

“Ar limpo, a chance de tomar sol. Temos a sorte de ter um lago no qual possamos nadar durante o verão, bem como remar em pequenos barcos, ou andar de skate no inverno”, conta Max, acrescentando que a experiência é “como um miniferiado”.

Segundo ele, a família não deixa de cultivar alguns alimentos, mas mantém essa atividade sob controle. “Nós cultivamos algumas coisas (muito poucas), mas não entramos muito nessa vibe de trabalho louco durante o dia todo”, diz.

Entre amigos e vegetais

Já o sueco Håkan, que vive na Rússia há sete anos, afirma que a datcha dos sogros é um lugar perfeito para reunir amigos. Eles possuem uma moderna casa de madeira de dois andares com bânia (sauna), piscina coberta e vários quartos para hóspedes.

Às vezes, a família de Håkan recebe, inclusive, amigos suecos que adoram a datcha. Mas há um segredo por trás desse sentimento: “Eles amam a comida da minha sogra, e todas as coisas boas que ela faz com os legumes, as frutas e as batatas do jardim”.

Para o sueco, isso justifica todo o trabalho envolvido – provar comida caseira, cozida e em conserva, “que é incomparável com os produtos vendidos nos mercados”. 

No ritmo da Mãe Natureza

“A ideia de curtir a natureza, trabalhar com a terra e cultivar os próprios vegetais e frutas é muito relaxante em comparação a ficar em seu apartamento na cidade”, conta Hugh, da Irlanda, admitindo, porém, que teve que se acostumar com a ideia.

Vivendo há 10 anos em Moscou, Hugh diz que, embora a datcha sempre exija certo trabalho, trata-se de um bom ritmo quando comparado ao da cidade.

“Há um rio nas proximidades e é bom passear com as crianças e descontrair, e, basicamente, se reconectar com a Mãe Natureza”, afirma o irlandês.

No entanto, Hugh tem certeza de que, se recebesse o convite para um fim de semana em Roma ou Paris, provavelmente aceitaria, e seria mais rápido de chegar a esses países. “Porque só haveria congestionamento para o aeroporto, em vez do engafarramento insano na estrada de Iaroslávski, ao norte de Moscou”, arremata.

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