Suspensão russa lança três cenários para a Rio-2016

AP
Decisão da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) de suspender o atletismo russo de competições internacionais pode gerar novos desdobramentos. Tendo em vista as declarações de autoridades e os últimos acontecimentos, a Gazeta Russa analisa os possíveis cenários do atletismo nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.

Após ser provisoriamente suspenso de torneios internacionais, na sexta-feira passada (13), o atletismo russo se transformou em símbolo da polêmica internacional sobre o uso de substâncias químicas para aumentar a performance de atletas.

A proibição se deu após o relatório de uma comissão da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) alegando uma possível participação do FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia, órgão que sucedeu a KGB) no encobrimento de casos de doping na Rússia.

Agora, além do risco de ter seus atletas excluídos dos próximos Jogos Olímpicos de 2016, o país também está proibido de sediar a Copa do Mundo de Marcha Atlética, em Tcheboksari, e o Mundial de Atletismo júnior, em Kazan.

Embora as investigações, tanto internas como externas, estejam em curso, três cenários distintos despontam como possíveis no futuro do atletismo russo e internacional:

1. Rússia contorna rapidamente a situação e restabelece seus direitos

O canadense Richard “Dick” Pound, 73, que presidiu a comissão da Wada para apurar as irregularidades, declarou que a Rússia pode ser admitida nos Jogos Olímpicos de 2016 se eliminar rapidamente as infrações relacionados à prática de doping.

Após a denúncia da Wada e a consequente decisão da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo), o cenário começou a se desenvolver rapidamente no país.

Um laboratório moscovita de análise antidoping teve sua licença de funcionamento suspensa no dia seguinte a divulgação dos casos de doping, e o diretor do estabelecimento, Gregóri Rodtchenkov, que teria destruído 1.417 testes de doping positivos, foi imediatamente demitido.

Já no dia seguinte à decisão da Iaaf, o Ministério dos Esportes russo anunciou também que praticamente toda a direção da Araf [Federação Russa de Atletismo] seria substituída.

“Criamos uma comissão para investigar os casos de doping no atletismo russo, e ela vai cooperar com a Iaaf e a Wada. O Comitê Olímpico Russo (COR) também desenvolveu um roteiro de recomendações que garante a reforma da Araf e a punição de todos os envolvidos em violações antidoping”, disse à Gazeta Russa o vice-presidente da Araf, Valentin Maslakov.

Também no sábado (14), o diretor do COR, Aleksandr Jukov, anunciou que o comitê estava pronto para “tomar as rédeas da reforma na Araf e alinhá-la às exigências da Iaaf e da legislação antidoping”.

“Isso deve ser feito de forma eficiente e o mais rápido possível, para garantir que os nossos atletas participem dos Jogos Olímpicos no Rio”, acrescentou Jukov, citado pela agência de notícias esportivas R-Sport.

2. Atletismo russo não participa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas atletas podem disputar torneio sob a bandeira olímpica

A decisão anunciada pela Iaaf na sexta provocou descontentamento entre diversos atletas russos. Este é o caso da saltadora Elena Issinbáeva, que é bicampeã olímpica em Atenas-2004 e Pequim-2008. Em carta aberta, a atleta diz ser injusto privar os jogadores “limpos” do direito de participar das Olimpíadas por causa da violações de outros.

No entanto, caso o atletismo russo seja proibido de participar das Olimpíadas de 2016, os atletas não envolvidos em casos de doping poderão participar do evento sob a bandeira olímpica.

Embora essa possibilidade tenha sido apontada pelo ministro dos Esportes russo, Vitáli Mutko, e esteja prevista na Carta dos Jogos, o diretor do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, classificou esse cenário como “especulação total”.

A comentarista Olga Bogoslovskaia, que conquistou a prata no revezamento 4x100 feminino nos Jogos de Barcelona, em 1992, participou do torneio na Espanha sob a bandeira olímpica. Na época, as colegas das ex-repúblicas soviéticas também enfrentaram a mesma condição.

“Quando soa o hino que não é do seu país e é hasteada outra bandeira, mesmo que seja a prestigiada bandeira olímpica, a emoção é diferente”, disse Bogoslovskaia à Gazeta Russa.

“Mas tenho 95% de certeza de que a situação vai se normalizar bem antes das Olimpíadas.”

3. Provas de atletismo são excluídas das Olimpíadas no Rio

O relatório da Wada tem uma segunda parte que, segundo a comissão responsável, virá a público apenas em dezembro. O documento, que não será restrito às violações russas, tratará da corrupção nas altas esferas da Associação Internacional das Federações de Atletismo.

Segundo Richard McLaren, membro da comissão independente da Wada, se as atividades da Iaaf forem suspensas, o atletismo corre risco de ser excluído dos Jogos do Rio de Janeiro.

A possibilidade de exclusão de todas as provas de atletismo é também apontada pelo advogado esportivo Valéri Fedoreev. “Se o ex-presidente da Iaaf [Lamine Diack, que foi preso] aceitava subornos para ocultar testes positivos de doping, então ele pode ter aceitado esses subornos não apenas da Rússia”, sugere o advogado.

Segundo Fedoreev, todo o sistema antidoping precisa ser reformado, para que os atletas de outras modalidades esportivas “pensem seriamente antes de usar substâncias proibidas”.

 

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