Presidente da Fifa é bola no jogo de poder político, diz Blatter

Blatter lamentou por não ter deixado o posto após a Copa do Brasil

Blatter lamentou por não ter deixado o posto após a Copa do Brasil

EPA
Afastado por três meses pelo Comitê de Ética da Fifa, o presidente da entidade, Joseph Blatter, disparou críticas a Michel Platini, candidato a sua sucessão, e negou rumores de troca de sede para 2018, em entrevista à agência Tass.

Quando você se deu conta dos problemas da Fifa?

A crise começou quando prenderam seis membros, direta ou indiretamente envolvidos com a Fifa. É engraçado, eles tinham um jornalista no hotel às seis da manhã. Um jornalista norte-americano. E então houve um grande tsunami na Fifa. Todo mundo dizia quem era responsável por isso: “É o presidente, Blatter, ele é o responsável!” Mas eu me oponho. Como posso ser moralmente responsável por todas as pessoas?

Você sentiu alguma vez ter se tornado o principal alvo de ataques?

Eu me tornei o alvo principal de ataques porque já há três anos, e especialmente depois da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a Uefa não me queria mais como presidente. Foi um ataque orquestrado contra o presidente da Fifa. Mas as outras confederações, elas estavam comigo. Apenas a Uefa tentou me derrubar. Eles não conseguiram. Mesmo com esse tsunami eu fui reeleito como presidente. E o que estava envolvido nessa situação de ataque ao presidente da Fifa? Política. A União Europeia. Porque essa questão foi depois discutida na União Europeia se você analisar a história, o Parlamento da União Europeia tomou resoluções duas vezes – primeiro, Blatter não será eleito. Mas isso é interferência política no esporte. E depois de ser eleito, Blatter deve sair. Foram duas vezes que ele fizeram isso.

Por que a sua imagem está no centro do ataque? Tem a ver com dinheiro, influência ou política?

No começo, era apenas um ataque pessoal. Era Platini contra mim.

Então, Platini não gosta de você e foi por isso que ele começou o ataque...

Ele começou, mas logo se tornou político. E quando se torna político, não é mais apenas Platini contra mim. É então com aqueles que perderam a Copa do Mundo. Inglaterra contra Rússia. Eles perderam a Copa do Mundo. E os EUA perderam a Copa do Mundo contra o Qatar. Mas você não pode destruir a Fifa. A Fifa não é um banco suíço. A Fifa não é uma empresa comercial. Então, o que eles fizeram junto com os suíços foi criar esse ataque em direção à Fifa e ao presidente da Fifa. E tenho certeza que, no início, quando a Uefa disse que não me queria, eles não sabiam que, no final, assumiria tanta importância política. A Copa do Mundo da Fifa ou o presidente da Fifa são uma bola no grande jogo de poder político.

Se olhar para trás em seus 40 anos de futebol, você se arrepende de alguma coisa? Se tivesse uma segunda chance de fazer algo de forma diferente na organização, o que você provavelmente mudaria?

Não é o momento para ter arrependimentos, porque não se pode mudar nada. Mas eu deveria ter tido coragem de sair depois da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Mas naquela época, cinco das seis confederações me pediram no congresso em 2014, em São Paulo: “Continue como presidente, por favor”.

Você acha que foi um erro realizar simultaneamente as eleições para os torneios de 2018 e 2022?

Em 2010, discutimos sobre a Copa do Mundo e, em seguida, foi decidido fazer uma escolha dupla. Foi acordado que faríamos a Copa na Rússia, porque nunca foi realizada na Rússia, na Europa Oriental, e em 2022 iríamos voltar para os Estados Unidos. E assim teríamos a Copa do Mundo nas duas maiores potências políticas. E tudo estava bem até o momento em que [o ex-presidente francês Nicholas] Sarkozy trouxe em um encontro o príncipe herdeiro do Qatar [Tamim bin Hamad al-Thani], que agora é o governante do Qatar. Em um almoço tempos depois com Platini, ele disse que seria bom fazer a Copa no Catar. E isso mudou todo o programa.

Existe alguma possibilidade de a Rússia perder o posto de sede da Copa?

Não, vocês nunca vão perder a Copa do Mundo. Ela foi ancorada na Fifa. Não haverá mudança na Copa do Mundo.

Versão resumida de entrevista publicada pela agência de notícias Tass

 

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