Xadrez e boxe unidos em um só esporte

Corretor de imóveis Sajin foi grande vencedor do Campeonato Mundial de Boxe-xadrez, em Moscou Foto: Kirill Kalínnikov/RIA Nóvosti

Corretor de imóveis Sajin foi grande vencedor do Campeonato Mundial de Boxe-xadrez, em Moscou Foto: Kirill Kalínnikov/RIA Nóvosti

Após round de três minutos, atletas sentam-se em frente ao tabuleiro de xadrez no próprio ringue. Na sequência, vestem novamente as luvas e começam a lutar. A Gazeta Russa compareceu ao Campeonato Mundial de Boxe-xadrez, realizado em Moscou na semana passada, para entender como os competidores conseguem ser igualmente eficazes em duas modalidades tão distintas.

Na entrada do clube, uma multidão está de plantão. A minúscula área reservada aos pedestres está lotada de moças em casacos de peles e seus parceiros, assim como de homens com aparência robusta. Perto da entrada está pendurado um cartaz no qual um homem de aspecto brutal é retratado vestindo luvas de boxe junto a um tabuleiro de xadrez. Enfim, a inscrição "Campeonato Mundial de Boxe-Xadrez" acaba explicando do que se trata.

“Tenho curiosidade de ver como é”, diz uma garota de cabelos encaracolados. “Nem imagino como é possível combinar as duas. Sempre tenho a impressão de que o cérebro dos pugilistas já foi danificado pelas pancadas”, continua. Embora tenha surgido há dez anos, o boxe-xadrez ainda é visto como um esporte exótico.  O artista holandês Iepe Rubing foi quem teve a ideia de hibridizar as duas modalidades esportivas um tanto opostas.

A disputa dura 11 rounds: seis de xadrez e cinco de boxe. Cada um deles tem duração de três minutos. Após um round intenso de boxe, os atletas costumam ter apenas um desejo: recuperar o fôlego. O árbitro, por sua vez, fica responsável por ajudar os competidores a não se desviarem do jogo. 

Foto: Kirill Kalínnikov/RIA Nóvosti

“Boxe e xadrez estão no sangue dos russos, que têm muitos campeões nas duas coisas”, diz Rubing. Mas fato é que a popularidade do esporte na Rússia não está apenas ligada às qualidades dos russos. Como qualquer tipo de esporte novo, o boxe-xadrez precisa de patrocinadores, e o torneio em Moscou é visto como a entrada do boxe-xadrez nos trilhos do esporte profissional.

Disputa de peso

Entre os praticantes da modalidade na Rússia, o que mais obteve destaque até o momento foi Nikolai Sajin, um corretor de imóveis siberiano de 100 quilos que detém título mundial na categoria dos pesos pesados. O chamado “Hércules de Krasnoiarsk” se empolgou com o xadrez ainda na infância, e desde os quatorze anos começou a treinar boxe. Quando soube do surgimento do esporte híbrido, encaminhou um requerimento para a Federação Internacional de Boxe-xadrez e, no verão de 2008, tornou-se campeão pela primeira vez.

Foto: Reuters

Em Moscou, o grande adversário de Nikolai foi Gianluca Sirci, 41 anos, cuja aspecto físico se assemelha ao de mafiosos italianos. Porém, Sirci é doutor em ciências biológicas, além de uma pessoa bastante pacífica. Após a luta, ele disse que desde o início decidiu focar no xadrez, porque não sentia disposição de derrotar o adversário nas rodadas de boxe. A plateia foi a primeira a perceber a tática de Sirci. "Desista”, ouvia-se  por toda parte. Mas Gianluca rendeu-se apenas no nono round, dando a vitória de mãos beijadas para Sajin.

 

Publicado originalmente pelo Moscóvskie Nóvosti 

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