Futebol russo se prepara para adotar fair play financeiro proposto pela Uefa

Clube daguestanês Anji Makhatchkalá já contou com estrelas do futebol Foto: RIA Nóvosti

Clube daguestanês Anji Makhatchkalá já contou com estrelas do futebol Foto: RIA Nóvosti

Seguindo as regras europeias, clubes russos terão que aprender a viver conforme possibilidades financeiras.

A janela de transferências do mercado de verão está prestes a fechar. Entre os negócios mais impressionantes está a transferência mais cara da história do futebol internacional: o meio-campo Gareth Bale passou a defender as cores do Real Madri, depois de o clube espanhol pagar 100 milhões de euros ao Tottenham Londres. A transação superou a transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madri, em 2009, por 94 milhões de euros.

Os clubes russos também ganharam reforços. O Dínamo Moscou, por exemplo, gastou 68 milhões de euros em transferências, o Spartak Moscou, 32 milhões de euros, e o Locomotiv Moscou, 31 milhões de euros. Tudo isso parece bastante contraditório diante da entrada em vigor do fair play financeiro implantado pela Uefa, entidade que comanda o futebol na Europa.

O fair play financeiro estabelece que, em um ano, os clubes não possam gastar mais do que ganharam, com a ressalva de que, se um clube tem um proprietário rico, ele pode cobrir por conta própria os prejuízos sofridos no valor não superior a 45 milhões de euros. Essa opção, no entanto, só pode ser usada nos primeiros anos de vigência do novo regulamento. Com o tempo, o valor permitido será reduzido para 30 milhões, e assim por diante até que, até o final da década, os clubes se tornem autossuficientes.

Porém, os clubes não passaram a gastar menos, os salários dos jogadores continuam crescendo e o número de transferências ainda vem aumentando.

“O fair play financeiro vale na íntegra para os clubes russos desde 2012”, diz o diretor comercial do Zenit, Dmítri Mankin. Em 2012, o Zenit de São Petersburgo, cidade com cinco milhões de habitantes, ganhou US$ 81 milhões, gastando, porém, muito mais. Basta mencionar as contratações do brasileiro Hulk e do belga Axel Witsel, no valor total de 100 milhões de euros.

“O principal problema do Zenit é não ter despesas superiores às receitas. Estamos preocupados com essa situação porque o sucesso comercial do campeonato russo é muito menor do que o dos principais campeonatos europeus. Isso se deve a uma série de fatores externos incontroláveis como baixas rendas da população, mau estado de infraestrutura esportiva, pirataria e limitações legais de toda a espécie”, completa Mankin.

Na Rússia, os progressos em termos de receitas pelas transmissão televisa são insignificantes. Portanto, a única maneira de evitar as sanções da Uefa é cortar os gastos em transferências ou apostar em seus próprios jogadores.

Campo aberto

O atual campeão russo, o CSKA Moscou, liderou o caminho. O clube mantém suas contas equilibradas e ficou com saldo positivo nas últimas cinco temporadas. Neste verão, o CSKA contratou apenas três jogadores promissores por valores razoáveis: o búlgaro Georgi Milanov (3,4 milhões de euros), o suíço Steven Zuber (3,4 milhões de euros) e o brasileiro Vitinho (9 milhões de euros). Paralelamente, vendeu Vágner Love por 12 milhões de euros ao chinês Shandong Luneng e emprestou Pável Mamaev, Sekou Oliseh e Tomas Necid por 3,5 milhões de euros.

O Anji Makhatchkalá, um dos projetos mais polêmicos do futebol europeu, também reviu sua política de contratação e se livrou de todas as estrelas caras, ganhando 136 milhões de euros com a venda de jogadores.

"Os diretores dos clubes russos cooperam com a Liga Russa de Futebol Profissional (LRFP) e a Uefa para elaborar um conceito de conduta financeira correspondente ao regulamento do órgão europeu”, disse, em entrevista à Gazeta Russa, o vice-presidente da LRFP, Serguêi Tcheban. “Muitos clubes já estão minimizando seus gastos. Entendemos que vamos atuar na Europa e deveremos fazer isso de acordo com as regras da Uefa. Por isso, estamos tentando elaborar um modelo de fair-play financeiro conveniente ao nosso país.”

Ainda de acordo com Tcheban, os clubes russos não poderão mais se dar ao luxo de fazer contratações semelhantes às do Real Madri, que tem uma das maiores torcidas do mundo. “O Real Madri usa um modelo de negócios bem sucedido e amortizou a contratação de Cristiano Ronaldo em três anos. Os clubes russos estão longe disso. Só estamos começando a nos desenvolver nesse sentido e investir dinheiro grande em nosso futebol, depois de um período difícil dos anos 90”, explicou. Apesar disso, ele acredita que o futebol russo está no caminho certo. “Se continuarmos progredindo no atual ritmo, em 5 a 6 anos poderemos competir em condições de igualdade com as maiores ligas de futebol do mundo, inclusive em termos financeiros”, ressaltou.

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