País registra deflação pela primeira vez em cinco anos

Frutas e legumes ficam geralmente mais baratos durante o verão russo

Frutas e legumes ficam geralmente mais baratos durante o verão russo

Valéri Melnikov/RIA Nôvosti
Queda sazonal dos preços de alimentos, associada a declínio na demanda, estaria por trás de números registrados no início deste mês. Tendência pode acelerar processo para atingir meta de 4% de inflação ao ano, destacam especialistas.

O governo russo registrou, pela primeira vez em cinco anos, uma queda nos preços de bens de consumo, segundo um relatório divulgado pela Rosstat, agência de estatísticas federal. Os preços caíram cerca de 0,1% na primeira semana do mês de agosto.

“Para a economia russa, a redução da inflação é uma boa notícia. Se as coisas não mudarem, isso fará com que a inflação atinja mais rapidamente a marca de 4% definida pelo Banco Central da Rússia para 2017”, diz Timur Nigmatullin, analista financeiro da Finam Holding. Em 2015, a inflação na Rússia fechou em 12,9%.

A meta foi estipulada pelo regulador russo no final de 2014, quando o rublo passou para um regime de câmbio flutuante. Desde então, a moeda russa sofreu queda de 50% em relação ao euro e ao dólar dos EUA.

Principais razões

Segundo analistas, a deflação registrada em 2016, assim como há cinco anos, pode ser explicada por razões sazonais.

“Geralmente, no verão, os preços dos alimentos caem significativamente. Frutas e legumes ficam mais baratas, pois novas colheitas chegam ao mercado”, destaca Andrêi Kotchetkov, analista da Otkrytie Broker.

“Nas grandes cidades, os preços de serviços diminuem por causa da temporada de férias. As redes de comércio muitas vezes fazem várias promoções para atrair compradores nesses meses”, acrescenta.

Outras “razões básicas” para a queda dos preços, como a diminuição da demanda pelos consumidores, também desempenha um papel significativo, segundo o economista Mikhail Poddubski, da TeleTrade.

“Com a queda do PIB, ficou mais difícil para os russos manter o antigo volume de gastos, pois o nível de rendimentos reais caiu”, explica.

Apesar das restrições, a deflação ainda é uma notícia positiva para o mercado russo. “Isso aumenta a confiança na moeda nacional e deve ter um bom efeito sobre a atividade econômica”, diz Dmítri Bedenkov, diretor do departamento de análise na Russ-invest. Segundo ele, antes de tudo, a diminuição da inflação “aumenta o poder de compra dos consumidores se os seus rendimentos forem estáveis”.

Inflação em 4%

A deflação registrada no início de agosto indica que a Rússia poderá, até 2017, atingir o nível de 4% de inflação pela primeira vez em sua história, segundo Bedenkov, para quem o resultado se deve à política de crédito rigorosa adotada pelo governo.

“As taxas de juros no mercado financeiro são superiores a 10%, o que limita o acesso das pessoas ao crédito e impede o crescimento econômico”, ressalta o especialista.

“Ainda assim, é uma boa notícia para a população, já que isso levará a um aumento do rendimento disponível [renda para consumo após impostos e pagamentos] e à redução das taxas de juro no crédito, inclusive no imobiliário”, continua Nigmatullin.

No entanto, para que a inflação atinja a marca de 4% ao ano será necessário que os preços do petróleo aumentem e as sanções ocidentais contra Moscou sejam suspensas, de acordo com o ex-vice-presidente do Banco Central russo, Konstantin Korischenko.

“É mais realista considerar que até o final de 2017 a inflação vai cair para 5% ou 6%”, prevê Poddubski. O economista afirma também que, devido à dependência da economia russa em relação a importações, a taxa de câmbio do rublo também terá grande influência no processo. “Quanto mais fraco o rublo, mais difícil será para a Rússia atingir o nível de inflação desejado”, arremata Poddubski.

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