“Estamos transitando para um novo modelo de desenvolvimento econômico”

Uliukaiev: “As empresas que ainda não trabalham no mercado russo [são as] que falam sobre o clima negativo”

Uliukaiev: “As empresas que ainda não trabalham no mercado russo [são as] que falam sobre o clima negativo”

Aleksandr Korolkov/RG
Há dois anos, um pacote de sanções econômicas foi, pela primeira vez na história, imposto contra a Rússia. Em entrevista exclusiva à Gazeta Russa, o ministro do Desenvolvimento Econômico Aleksêi Uliukaiev falou sobre como essas medidas influenciaram a economia nacional e que oportunidades o país continua a oferecer para os investidores estrangeiros.

Dois anos atrás, os EUA e a Europa introduziram sanções financeiras contra a Rússia. O que mais afetou a economia do país: as sanções ou a queda dos preços do petróleo?

Aleksêi Uliukaiev: Obviamente, a queda dos preços de matéria-primas teve um impacto mais significativo sobre a economia do país. O petróleo barato levou a alterações significativas nas receitas do orçamento federal, de empresas privadas e dos cidadãos. As sanções afetaram, em primeiro lugar, as empresas russas que trabalham ativamente no mercado financeiro global. No entanto, hoje, a economia está completamente adaptada às sanções e consegue se beneficiar delas.

Como foi essa adaptação?

Inicialmente, as sanções intensificaram a fuga de capital. Assim, as empresas russas tiveram que pagar imediatamente todas as dívidas. Em curto prazo, isso provocou a desvalorização do rublo, mas, em longo prazo, resultou na redução de custos para as empresas russas. As dívidas dessas empresas diminuíram drasticamente e, consequentemente, os riscos externos quase desapareceram, porque as empresas começaram a buscar fontes de financiamento internas.

Antes, a diferença entre a taxa de poupança doméstica (30% do PIB) e de investimento (20% do PIB) era geralmente coberta com o fluxo de capital do exterior, mas, agora, esse modelo não existe mais. É com pesar que estamos transitando para um novo modelo de desenvolvimento econômico significativamente menos arriscado.

De acordo com uma pesquisa da União Russa de Industriais e Empresários, mais da metade das empresas estrangeiras declararam que o clima empresarial na Rússia se deteriorou. O que o senhor poderia responder a eles?

Encontro com representantes de empresas estrangeiras frequentemente e sei que as empresas que trabalham na Rússia nunca falam da deterioração do clima de investimento, eles [os empresários] apontam problemas concretos. Nós discutimos regularmente esses problemas durante as sessões do Conselho para Investimentos Estrangeiros e tentamos resolvê-los. Em geral, são as empresas que ainda não trabalham no mercado russo que falam sobre o clima negativo.

Por quê? Elas têm pouca informação ou a imagem da Rússia está piorando? 

Ambos. Em primeiro lugar estão a falta de informações objetivas e o excesso de informações negativas. Para resolver esse problema, precisamos apenas tornar os mecanismos de tomada de decisões mais transparentes. O clima de investimento no país está melhorando lentamente. No âmbito da Iniciativa Empresarial Nacional, tentamos derrubar as barreiras que impedem a realização dos negócios. A posição da Rússia no ranking Doing Business [sobre o melhor ambiente para negócios] do Banco Mundial está melhorando. [Em 2015, a Rússia subiu 11 posições, de 62º a 51º lugar, entre os 183 países envolvidos].

Em fevereiro, o senhor discursou na Alemanha em uma conferência de médias empresas organizada pela Comitê de Relações Econômicas na Europa Oriental.  Em sua opinião, as pequenas e médias empresas podem ajudar a melhorar as relações comerciais entre a Rússia e os países ocidentais? 

Sim, claro. As pequenas e médias empresas têm um grande potencial, comprovado pelo grande interesse das empresas russas e alemãs nesse evento anual. Estamos desenvolvendo o Centro de Exportações Russo junto com os representantes da Agência para o Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas da Rússia.

Muitas empresas russas podem se tornar exportadores. O nosso objetivo é ajudar os potenciais exportadores a lançar os negócios. Prestamos ajuda no processo de promoção, na logística, na redução dos custos de transporte, na proteção de patentes, certificados etc. Hoje, é muito difícil entrar nos mercados ocidentais, mas temos todo o potencial para resolver esse problema.

O senhor foi um dos autores das reformas econômicas radicais na Rússia no início dos anos 1990. O país precisa de reformas estruturais novamente?

As reformas estruturais são, basicamente, um elemento comum. Não precisamos de uma mudança drástica na política econômica ou da introdução contínua de novidades normativas. O que é realmente necessário é realizar o trabalho sistemático sujo. O objetivo não é transformar a economia radicalmente, mas ver as sementes que já existem, cuidar delas, em vez de tentar transplantar plantas exóticas para o nosso solo. A Rússia já está realizando mudanças estruturais nos setores de agricultura e petroquímico. O nosso objetivo é apoiá-las.

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