Negócios nem tão à parte assim

"O Conselho acompanha vários eventos especializados, tais como a visita da delegação brasileira de cooperação técnico-científica à Rússia, o Fórum de Energia no Rio de Janeiro, entre outros"- diz Serguêi Vassíliev

"O Conselho acompanha vários eventos especializados, tais como a visita da delegação brasileira de cooperação técnico-científica à Rússia, o Fórum de Energia no Rio de Janeiro, entre outros"- diz Serguêi Vassíliev

Nikolai Koroliov
Às vésperas da visita de Michel Temer a Moscou, chefe de órgão russo de cooperação fala sobre metas bilaterais.

Presidente russo do Conselho Empresarial Brasil-Rússia desde 2009 e vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da Rússia, Serguêi Vassíliev comanda, junto ao governo russo, a organização da Comissão de Alto Nível, chefiada pelo primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev e o vice-presidente Michel Temer, e da Comissão Intergovernamental de Comércio e Cooperação Econômica, que ocorrem na capital russa entre 14 e 16 de setembro.

Em entrevista à Gazeta Russa, ele fala sobre os acordos esperados para os eventos e os êxitos alcançados durante a presidência do órgão de cooperação bilateral:

Quais são as principais atividades do Conselho Empresarial Rússia-Brasil e quais são as metas para os próximos anos?

Dois órgãos coordenam as relações russo-brasileiras: a Comissão de Alto Nível, que é chefiada pelo primeiro-ministro da Rússia, Dmítri Medvedev, e pelo vice-presidente do Brasil, Michel Temer, e a Comissão Intergovernamental de Comércio e Cooperação Econômica.

O conselho colabora com o trabalho desses órgãos e, em paralelo, presta auxílio político a empresas russas no Brasil e organiza fóruns de negócios. Dois desses já foram realizados na Rússia e dois no Brasil.

O conselho também acompanha diversos eventos especializados, tais como a visita da delegação brasileira de cooperação técnico-científica à Rússia e o Fórum de Energia no Rio de Janeiro, entre outros.

O que se pode esperar da reunião da Comissão de Alto Nível e da Comissão Intergovernamental da Rússia em setembro?

É um fato inédito, por que essas duas comissões nunca aconteceram simultaneamente. Além disso, estamos organizando um amplo fórum de negócios do qual participará uma grande delegação dos círculos empresariais brasileiros. A última vez que nos reunimos nesse formato foi em 2012, quando a presidente Dilma visitou Moscou.

No fórum serão discutidos três temas-chave: infraestrutura, inovação e agricultura. Estamos ansiosos pelo discurso do vice-presidente Michel Temer. Acredito que o fórum será um evento muito importante, que poderá acelerar o desenvolvimento de uma série de projetos russo-brasileiros.

O senhor poderia especificar quais são esses projetos?

Sim, um deles é a participação da empresa Russian Railways na licitação para construção de ferrovias no Brasil. Além disso, há a participação da Inter Rao na construção de uma grande hidrelétrica na Amazônia e outros de grande porte.

O embargo russo sobre alimentos provenientes dos EUA e da União Europeia levou a uma troca de fornecedores no país. Como isso afetou as relações entre Brasil e Rússia?

Após a introdução do embargo, além do fornecimento tradicional de carne e derivados, o Brasil passou a exportar para a Rússia laticínios, sobretudo queijos. Em função das normas sanitárias e dos padrões russos, porém, a entrada de produtos brasileiros no mercado russo não se dá tão rapidamente.

E como se desenvolve a cooperação no setor financeiro?

Entre os bancos comerciais, a cooperação não corresponde às expectativas. Nosso Banco de Desenvolvimento assinou o primeiro acordo com o BNDES em 2008, e temos um acordo de apoio ao investimento que, infelizmente, até agora não está ativo, pois não existem projetos que satisfaçam as condições necessárias.

Mas é importante notar que todos os projetos de empresas russas no Brasil e vice-versa podem receber apoio por esse acordo.

Empresas russas e brasileiras se queixam de diferenças nas legislações dos dois países. Por que isso acontece?

Essas reclamações se devem, em primeiro lugar, à impossibilidade de se efetuar transações com as moedas nacionais. Existe uma discussão sobre esse tema há pelo menos seis anos.

Em 2009, o presidente brasileiro do Conselho Empresarial Brasil-Rússia, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, esteve em Moscou para discutirmos o assunto. Logo ficou claro que o principal obstáculo é a conversão incompleta da moeda brasileira.

Trata-se de uma característica histórica da legislação de câmbio brasileira, e é pouco provável que ela seja modificada em um futuro próximo. Já a legislação russa não impede transações em moedas nacionais.

Quer dizer que não se deve esperar as trocas com uso de moedas nacionais?

O uso de moedas nacionais implica o início de conversões entre as contas em reais para exportadores russos e em rublos para os brasileiros. E, segundo a legislação brasileira, não se pode pagar pelo fornecimento de bens a partir de uma conta em rublos.

Como o sr. vê a organização do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics e o que espera para o futuro dessa instituição?

A criação desse mecanismo foi discutida diversas vezes nos fóruns de negócios dos Brics. A nova estrutura contribuirá para o desenvolvimento da cooperação em investimentos entre os Brics, inclusive entre Rússia e Brasil.

É uma nova fonte de financiamento de grandes projetos, sobretudo infraestruturais. Dentro de três a quatro anos, o Novo Banco de Desenvolvimento deve se tornar uma instituição financeira muito forte.

Raio-X: Serguêi Vassíliev

  • Idade: 56 anos
  • Formação: Doutor em economia

Nascido em 1957, Serguêi Vassíliev recebeu título de doutor em Economia em 1979 e ocupou diversos postos públicos até alcançar o cargo de vice-ministro da Economia, que exerceu de 1994 a 1997. Também foi vice-chefe de governo a partir de 1997 e presidente do conselho administrativo do Banco Internacional de Investimento. Hoje, além de liderar a ala russa do Conselho Empresarial Brasil-Rússia, é vice-presidente do Banco de Desenvolvimento do país (Vneshekonombank).

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