Rosneft reforça presença com Solimões

A Rosneft adquire a participação por um preço relativamente baixo, mas, por enquanto, são mais visíveis as vantagens políticas que as comerciais da participação russa. Foto: shutterstock/legion-media

A Rosneft adquire a participação por um preço relativamente baixo, mas, por enquanto, são mais visíveis as vantagens políticas que as comerciais da participação russa. Foto: shutterstock/legion-media

Apesar da necessidade de investimento em infraestrutura básica para projeto, presença na bacia intensifica imagem internacional da companhia.

A Rosneft e a PetroRio fecharam, no final de maio, um acordo de US$ 55 milhões que passará 55% do capital acionário e o controle do projeto da bacia de gás do Solimões à petrolífera russa.

Com o acordo, a empresa continuará os trabalhos de exploração geológica para a detecção de jazidas e na implementação de um projeto conjunto com a Petrobras para estudar a monetização das reservas de gás já comprovadas.

Originalmente, o ajuste se baseava em possíveis reservas de petróleo do Solimões. Mas até agora só se detectou gás ali. A constatação, porém, não deve ser de todo má, levando-se em conta a grande dependência brasileira de importações: em 2013, o país comprou mais de 35% da commodity consumida, inclusive na forma do caro GNL (gás natural liquefeito). 

Por outro lado, o petróleo representa mais de metade da balança energética brasileira, enquanto o gás, menos de 10%. Isso significa que a probabilidade de substituição das importações e crescimento da demanda é elevada.

 Presente de grego?

 O projeto Solimões apresenta uma série de obstáculos aos russos, de acordo com o analista da consultoria VTB24, Oleg Dúchkin. 

A primeira delas é distância e a necessidade de se construir gasodutos. Há também as particularidades climáticas: de outubro a junho chove torrencialmente onde a bacia está localizada. Por fim, toda essa riqueza está em rochas basálticas.

“Por isso, a Rosneft adquire a participação por um preço relativamente baixo. Por enquanto, são mais visíveis as vantagens políticas que as comerciais da participação russa na economia brasileira”, diz. 

O investimento estimado para o projeto é de US$ 9,2 bilhões, e a construção de gasodutos está na casa dos US$ 14 bilhões.

“A eficácia econômica dos projetos é questionável: os custos de desenvolvimento do setor upstream [de extração direta e processamento primário] na Rússia são menores”, diz Elizaveta Belúguina, da consultoria FBS. “Por outro lado, a Rosneft quer se posicionar como uma petrolífera integrada, de classe mundial”, completa.

O empreendimento no Brasil, em conjunto com outros projetos de grandes proporções na Venezuela, ajudaria a companhia russa a reforçar sua posição no mercado energético da América Latina.

Atravessando fronteiras

 A Rosneft está envolvida com a PDVSA (Petróleos de Venezuela) em cinco projetos petrolíferos no país latino-americano. Suas reservas geológicas de petróleo são estimadas em um total de 20,5 bilhões de toneladas. 

“Isso ultrapassa todas as reservas atuais da Rosneft,”, diz Dúchin. A porcentagem da Rosneft na Venezuela, porém, é bastante baixa: de 9% a 10% das reservas. Mas a participação em projetos como esses permite à empresa garantir seu futuro a longo prazo, mesmo com as dificuldades que enfrenta na exploração de reservas no Ártico.

O presidente da Rosneft, Ígor Sétchin Foto: Sacha Mordóvets/Getty Images

Ainda na semana passada, o presidente da Rosneft, Ígor Sétchin, encontrou-se em Caracas com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Ao final das negociações, anunciou-se que em 2019 o volume de investimentos da companhia russa no país chegará aos US$ 14 bilhões. A Rosneft também poderá aumentar sua porção na joint venture com a PDVSA, PetroMonagas, de 16,7% para 40%.

“Os mercados latino-americanos de commodities estão entre os poucos que continuam a crescer”, explicou à Gazeta Russa o diretor da agência de avaliações RusRating, Anton Tabakh. 

Além disso, embora os EUA sejam líderes na produção de óleo cru, verifica-se um desequilíbrio em muitos tipos de derivados do petróleo. 

Mas Tabakh acredita que o projeto Solimões tenha gerado interesse na Rosneft principalmente devido à possibilidade que abre de diversificação das atividades da empresa. “No Brasil, as condições de produção são outras, e o fornecimento é realizado nos mercados latino-americanos, que têm tido crescimento bastante rápido”, diz.

O rápido aumento da produção e a descoberta de grandes campos offshore poderão transformar o Brasil em um dos maiores produtores de petróleo do mundo, de acordo com a agência norte-americana EIA (da sigla em inglês, “Administração de Informação Energética”). 

Segundo essa, as reservas de hidrocarbonetos do país chegam a 13,2 bilhões de barris, perdendo na América do Sul, em termos de volume, apenas para a Venezuela.

 

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