Café brasileiro busca terreno no país do chá

Café brasileiro tem sido importado pela Rússia desde a década de 1980 e, pela primeira vez nos últimos trinta anos, produtores brasileiros se reuniram em Moscou para analisar o mercado russo.

Nesta quarta-feira (17), a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em colaboração com “RusTeaCoffee Association”, organizou um seminário sobre o mercado russo de café na Feira Anual “World Food Expo”. O evento em Moscou foi o primeiro do gênero ocorrido na Rússia, embora as importações do café brasileiro tenham um longo histórico.

“O seminário apresentou dados consolidados sobre o mercado russo”, disse Almir Ribeiro Américo, gerente do Centro de Negócios de Moscou da Apex. “Moro em Moscou desde os anos 90 e, sendo uma pessoa com grande experiência de trabalho com empresas russas, acho que o mercado aqui tem grandes perspectivas inclusive perspectivas para produtores brasileiros”, continua.

Tradicionalmente, os russos costumam preferir chá ao café. Por isso, o maior concorrente do café no mercado russo não são produtores de café estrangeiros ou locais, mas os fabricantes de chá que vendem seu produto por um preço mais acessível. Mesmo assim, na década de 1980, quando a Rússia começou a fazer grandes compras dos produtos estrangeiros, os produtores brasileiros de café entraram rapidamente na corrida pelo mercado russo. Naquela época, as marcas “Cacique” e “Pelé” eram as mais populares.

Importação de café solúvel em 2012

1) Índia – 12,5 toneladas

2) Brasil – 9,2 toneladas (19% de café solúvel importado)

3) Alemanha – 6,8 toneladas

4) Equador – 5,5 toneladas

5) Suíça – 2,3 toneladas

Com a queda do regime soviético, os governadores deixaram de centralizar as importações e a forte demanda de café fez com que os agentes do mercado se multiplicassem. O mercado de café russo abriu suas portas para produtores estrangeiros e logo se estabeleceram dois maiores produtores de café que tinham as vendas mais altas na Rússia, “Nestle Kuban” e “Kraft Foods Russia”.

Pelas estatísticas da Central de Negócios de Moscou, o café solúvel sempre foi o tipo preferido pelos consumidores russos. Além disso, entre 2000 e 2008 o país apresentou crescimento de 8% no consumo de café. “Ao estudar o mercado russo de café, destaquei várias razões para esse aumento, como mudança geral dos hábitos da população, o crescimento geral da renda, melhoria da qualidade de vida, marketing pesado e política de impostos”, diz Américo. “Todas elas levaram à situação em que desde os anos 80 a Rússia tem o aumento estável do consumo de café.”

Importação de café verde em 2012

1) Vietnã – 42,2 toneladas

2) Brasil – 22,8 toneladas

3) Indonésia – 17,8 toneladas

4) Etiópia – 3,2 toneladas

5) Peru – 3 toneladas

Mercado atual

De acordo com Ramaz Chanturia, presidente da Associação Rus TeaCoffee, que colabora com o Ministério da Agricultura da Rússia e consiste de 19 empresas de chá e café russas, a principal tendência no mercado de café na Rússia é a mudança das preferências e dos gostos da população. “Pouco a pouco os russos passam por escolher café natural em vez de café solúvel”, comenta. 

O café na Rússia atual é, na maior parte, café sublimado e aglomerado que já é produzido e vendido por duas principais empresas nacionais – “Nestle Kuban” e “Kraft Foods Russia”. 

“Isso torna a entrada de outros produtores estrangeiros para o mercado de café na Rússia um pouco mais complicada”, acrescenta Chanturia.

Nos últimos anos, produção local de café foi intensificada, causando prejuízos aos grandes produtores estrangeiros, além de queda no custo e qualidade do produto. “Nesse contexto, o melhor para as empresas brasileiras de café seria contribuir para capital social de uma companhia russa e fazer torragem aqui”, afirma Chanturia. Além disso, levando em conta o fato de que, recentemente, a demanda por café verde e pelo chamado “specialty coffee” tem aumentado, o Brasil, como um grande produtor desses tipos de café, tem grandes perspectivas.

Estatísticas

50% de todo café arábico importado pela Rússia

1,5% de todo café robusto vem do Brasil

Demanda média anual de café na Rússia é de 3,6 milhões de saco

Estima-se que para 2021 o consumo seja de 172 milhões de sacos

A maior particularidade da economia russa em geral consiste na dependência das vendas dos produtos dos recursos energéticos. Se os preços de petróleo e gás no país fossem baixos, a cultura do consumo de café também cairia. “A Rússia, infelizmente, ainda não pode gabar de uma alta cultura do consumo de café. A elevação dessa cultura e o desenvolvimento dos hábitos alimentares são essenciais no país de hoje”, comenta Chanturia.

Ainda de acordo com ele, é importante lembrar de que o comércio e a própria produção de café devem ficar perto um ao outro. Se a Rússia precisa de café, é lógico que comprar matéria prima nos países vizinhos e fazer produção local seria a melhor opção. Quanto mais distante for o país exportador de grãos, mais difícil e caro será arrumar as vendas no país. “Assim, para que café brasileiro chegue às prateleiras russas, é necessário que ele faz caminho através da Finlândia ou países do mar Báltico e esse processo leva algum tempo e pressupõe umas etapas burocráticas obrigatórias”, finaliza Chanturia.

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