Cinco lendas que superam a fama do Kalashnikov

Mikhail Kalashnikov exibindo sua mais famosa criação, em 1997

Mikhail Kalashnikov exibindo sua mais famosa criação, em 1997

AP
O rifle de assalto Kalashnikov é não só um dos modelos de armas de fogo mais populares do mundo, mas também símbolo de simplicidade e confiabilidade. Porém, embora seja um nome familiar, sua história é cercada de mitos.

1. Cópia do Sturmgewehr

Algumas pessoas alegam que a base para a criação desse rifle de assalto foi o fuzil alemão G-44 (Sturmgewehr), mas isso está longe da verdade. A criação de uma série de armas de pequeno porte (rifle de assalto, carabina, metralhadora) usando um cartucho intermediário foi sugerida pela primeira vez na União Soviética em julho de 1943, após a captura de uma amostra da carabina alemã Mkb-42 (H).

Mais tarde, os projetistas soviéticos foram incumbidos de criar armas automáticas usando o cartucho intermediário de 1943. O rifle de assalto (AS-44) projetado por Aleksêi Sudaiev venceu o concurso realizado em 1944, entretanto, tendo em vista o feedback e as sugestões levantadas, foi decidido aprimorar a arma e então adotá-la.

Dois anos depois, Sudaiev morreu repentinamente aos 34 anos, e não havia ninguém disponível para terminar seu trabalho. A criação do rifle de assalto foi deixada em aberto e só depois lançada uma nova competição. As especificações técnicas, porém, baseavam-se principalmente nas características da já testada arma de Sudaiev, e não na Sturmgewehr Stg-44 (que era então utilizada em testes comparativos).

Após uma série de longos e complexos testes, a liderança soviética, enfim, optou pelo fuzil de assalto Kalashnikov de calibre 7,62 mm (AK), ou AK-47.

2. Surgiu em 1947

Há uma crença antiga de que o rifle de assalto Kalashnikov apareceu no Exército em 1947. No entanto, geralmente leva muito tempo para passar da adoção de um modelo ao início da produção em massa e sua efetiva introdução nas forças armadas.

Esta é a história do PPSh-41, SKS-45 e vários outros exemplares de armas pequenas – e o Kalashnikov não foi exceção. Embora designado como “modelo de 1947”, o rifle começou a ser produzido em massa – e foi introduzido no Exército – apenas em 1949.

O AK-47 foi usado pela primeira vez em combate na operação de codinome Vikhr (Furacão), quando as tropas soviéticas intervieram em uma revolta anticomunista na Hungria, em novembro de 1956. O grande público, no entanto, já havia conferido um modelo de Kalashnikov um ano antes, na comédia soviética “Maksim Perepelitsa”.

3. Tornou-se popular por ser fácil de montar

Muitas vezes, ao falar sobre os méritos do rifle de assalto Kalashnikov, as pessoas mencionam a simplicidade e confiabilidade dessa arma – e isso é verdade. Entretanto, esse feito foi difícil de alcançar. O modelo definitivo foi adotado somente em 1959, sob o nome Kalashnikov AKM (“M” de modernizado).

Fato é que o AK-47 era extremamente difícil e caro de produzir e, por isso, sua fabricação tornou-se intermitente. A escassez de armas pequenas no Exército foi então compensada com o uso da carabina de Simonov, mas era cada vez mais necessário simplificar a fabricação do Kalashnikov.

Não é à toa que a arma passou por várias mudanças: o peso do rifle foi reduzido em 600 gramas, e a baioneta com formato de faca foi introduzida pela primeira vez, em substituição à baioneta padrão.

Uma das principais vantagens da nova versão, em comparação com a AK-47, era seu processo de produção altamente mecanizado e custo relativamente baixo.

“Esse modelo é confiável em termos de operação, garante alta precisão de disparo e é relativamente leve”, descreveu, na época, Fiódor Tokarev, famoso projetista soviético da pistola TT e do rifle semiautomático SVT-40.

Produzido entre os anos de 1960 e 1976, o AKM foi provavelmente o modelo de Kalashnikov com maior produção no Exército soviético e continua em serviço nas tropas aéreas russas até os dias de hoje.

4. Exclusivo ao extremo

Havia exemplares em outros países de armas pequenas como a Kalashnikov, mas que não eram cópias do original? Este modelo foi criado na Tchecoslováquia pós-guerra.

O fato é que, por vezes, os países do Pacto de Varsóvia usavam armas projetadas não só na URSS, mas modelos que eles mesmos criavam. A Tchecoslováquia, com sua rica tradição de desenvolvimento e produção de armas pequenas, era um deles.

Em 1958, o Exército da Tchecoslováquia adotou o rifle de assalto Čermak CZ SA Vz.58, que se parece muito com o Kalashnikov, mas tem design significativamente diferente. Esse rifle de assalto é caracterizado pela alta qualidade de sua produção, embora, quando se trate de confiabilidade, ainda seja inferior ao Kalashnikov.

5. AKS74U para combate

Geralmente se diz que AKS74U, com seu cano mais curto e coronha desmontável, foi feito para as tropas aerotransportadas – mas não é verdade. O modelo foi inicialmente projetado como uma arma para tripulações de veículos de combate, unidades de artilharia e comunicações. Isto é, para soldados que, devido à especificidade de suas tarefas, não precisavam passar muito tempo na linha de frente.

Primeiro modelo de AK-47 em exibição durante evento que marcou 60 anos do famoso rifle Foto: Grigóri Sisoiev/TASSPrimeiro modelo de AK-47 em exibição durante evento que marcou 60 anos do famoso rifle Foto: Grigóri Sisoiev/TASS

Nesse aspecto, um modelo mais compacto era plenamente justificável. No entanto, aconteceu que, para testar o novo rifle em uma situação de combate, em 1982 e 1983, o AKS74U foi enviado ao Afeganistão. Todos os apelidos desagradáveis ​​​que recebeu se devem à tentativa de usar essa arma em unidades envolvidas em intensos combates.

Foi nesse cenário que ficaram evidentes as principais desvantagens do modelo menor – sua baixa precisão, menor alcance de mira e rápido superaquecimento do cano.

Depois que as tropas soviéticas se retiraram do Afeganistão, em 1989, o AKS74U foi retirado de serviço. Mais tarde, com o avanço da criminalidade no país, a arma foi adotada pelos oficiais do Ministério do Interior, onde ainda está em uso.

Esta era a única versão do rifle de assalto Kalashnikov fabricada em Tula; todos os outros modelos tinham produção concentrada em Ijevsk.

Com o jornal Rússkaia Semiórka

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