Campanha na Síria comprova reforma militar russa, e agora?

Desfile militar na Praça Vermelha marcou 71 anos da vitória soviética e apresentou novas máquinas

Desfile militar na Praça Vermelha marcou 71 anos da vitória soviética e apresentou novas máquinas

Mikhail Klimentiev/RIA Nôvosti
Foram necessários anos de reformas e dois ministros da Defesa para transformar um Exército em decadência em uma força moderna e capaz. Enquanto alguns observadores tentam dimensionar a importância das transformações, outros expressam preocupação com a possibilidade de Moscou começar a ‘resolver disputas pela força’.

A campanha russa na Síria, além de aumentar a procura por armas russas, revelou a extensão das transformações no Exército desde que Moscou lançou uma reforma militar em 2008.

“Há duas forças armadas diferentes em combate: uma em 2008 e outra em 2014”, diz o analista militar Michael Kofman, que colabora no Instituto Kennan do Centro Wilson, em Washington.

A reforma militar contínua permitiu a Moscou, segundo Kofman, “sacudir a tradição soviética de mobilização em massa e criar uma força consolidada e permanente”.

O sucesso das operações na Crimeia e na Síria levantam, porém, uma nova pergunta: será que Moscou recorrerá agora à força militar mais prontamente para perseguir seus interesses políticos?

Reforma desde 2008

A reforma militar em curso começou em 2008, após o fraco desempenho das tropas russas em combate com o Exército georgiano durante os dez dias da guerra russo-georgiana. Embora tenha prevalecido no conflito, o Exército russo sofreu perdas inesperadas.

“Esse conflito menor expôs muitas fraquezas das forças russas: a falta de prontidão para repelir a agressão de um Estado pequeno e a lentidão da máquina militar russa”, afirma o coronel aposentado e observador militar da agência de notícias Tass, Víktor Litôvkin.

A column of Russian armoured vehicles moves along aroad in South Ossetia, near the border with North Ossetia August 23, 2008. Source: ReutersColuna de tanques em estrada ligando Ossétia do Sul e do Norte, em 2008 Foto: Reuters

As medidas tomadas depois para modificar o Exército melhoraram radicalmente a prontidão das tropas, a coordenação, e a mobilidade das tropas, segundo os analistas entrevistados.

Após exercícios intensos e vistorias, “o novo Exército russo se tornou uma força pronta para lançar e sustentar operações de combate em curto período de tempo”, diz Michael Kofman.

Segundo Litôvkin, um comandante de um dos quatro distritos militares recém-formados adquiriu autoridade para controlar todas as divisões das forças armadas posicionadas em seu território, incluindo tropas terrestres, de aviação, defesa aérea e marinha.

“Neste caso, foi possível coordenar os vários braços do Exército em uma harmonia não vista durante o conflito georgiano”, diz o analista militar.

Além disso, divisões pesadas foram substituídas por brigadas menores para aumentar a mobilidade do Exército, sobretudo no terreno montanhoso do Cáucaso.

Tentação da força

Embora as conquistas militares favoreçam a liderança política russa, alguns críticos do país se preocupam com a força crescente de Moscou. A ideia é que, quanto mais capaz o Exército russo se tornar, maior seria a probabilidade de usá-lo para exercer pressão política sobre outros países.

“A tendência dos últimos dez anos tende a continuar – quanto mais a Rússia desenvolve a sua capacidade militar, mais segura e agressiva se tornará”, escreveu Keir Giles, diretor do Centro de Pesquisa e Estudos sobre Conflitos, de Oxford, no último relatório sobre a Rússia da Chatham House, sede do Royal Institute for International Affairs.

Outros, porém, veem a modernização da estrutura militar como uma necessidade básica de qualquer país em busca de segurança e engajamento na política internacional. “Produz certo efeito, mas isso não significa que a Rússia irá necessariamente usá-la”, diz Litôvkin.

Russian servicemen near a Sukhoi Su-30 fighter aircraft at the Khmeimim airbase in Syria, May 4, 2016. Source: Maxim Blinov / RIA NovostiMilitares checam caça Su-30 na base de Hmeimin, na Síria Foto: Maksim Blinov/RIA Nôvosti
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