Pútin promete tecnologia para contrapor escudo dos EUA

Discurso de Pútin mostra “desejo de Moscou de manter a paridade estratégica com Washington”, segundo especialista

Discurso de Pútin mostra “desejo de Moscou de manter a paridade estratégica com Washington”, segundo especialista

Reuters
Moscou pretende desenvolver armas de ataque capazes de neutralizar sistema de defesa antimíssil dos EUA, que será implantado no Leste Europeu.

Em reunião dedicada ao desenvolvimento da defesa nacional, o presidente russo Vladímir Pútin declarou que os EUA e seus aliados na Otan prosseguem com a implementação do sistema global de defesa antimísseis, cuja “verdadeira finalidade é neutralizar o potencial nuclear estratégico de outros países que possuem armas nucleares (...) e, em primeiro lugar, da Rússia”.

“Nós dissemos mais de uma vez que a Rússia tomaria as medidas necessárias para reforçar o potencial das forças nucleares estratégicas”, acrescentou Pútin durante o discurso de terça-feira (10).

O alerta vem seguido de uma série de demonstrações de insatisfação desde 2001, ano em que os Estados Unidos resolveram abandonar unilateralmente o Tratado ABM de 1972, sobre a interdição de sistemas balísticos antimísseis.

Diversas autoridades russas já ressaltaram a  necessidade de desenvolver as forças estratégicas em resposta à implementação do sistema de defesa de mísseis norte-americanos, embora Moscou se manifeste contra a corrida armamentista e qualquer confronto em larga escala com os EUA.

“O planeta sobreviveu a duas guerras mundiais. É óbvio que não podemos permitir, nem em pensamento, que volte a acontecer algo desse tipo”, disse o primeiro-ministro Dmítri Medvedev, em uma entrevista exclusiva publicada pelo jornal “Rossiyskaya Gazeta” na quarta-feira (11).

A declaração de Pútin não deve afetar as relações russo-americanas, que já atravessam o momento mais crítico do pós-Guerra Fria. “O discurso do presidente registra um determinado status quo existente e o desejo de Moscou de manter a paridade estratégica com Washington”, afirma o diretor da Associação dos Cientistas Políticos do Exército, Vassíli Belozerov.

Potências de hoje

Ainda segundo Pútin, a indústria de defesa da Rússia criou e testou, ao longo dos últimos três anos, uma série de sistemas defesa antimísseis com potencial para missões de combate.

Os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa não souberam especificar o armamento ao qual se referiu o presidente russo, já que diversos projetos são mantidos como segredo de Estado.

Nos últimos anos, porém, um dos principais armamentos recebidos pelas forças estratégicas russas foram os mísseis balísticos intercontinentais Yars (ICBM) SS-24, que em cinco anos deverão se tornar a principal força nuclear terrestre do país.

Diferentemente de seu antecessor, o Topol-M, o Yars possui três ogivas em vez de uma. Além disso, é menos vulnerável, ganha velocidade mais rapidamente, e suas ogivas, que se separam, são manobráveis na fase final do voo.

Outro destaque do arsenal russo é o míssil balístico intercontinental Bulava, desenvolvido para disparos a partir de submarinos. Cada míssil desses transporta 10 ogivas nucleares hipersônicas manobráveis de alvo individual ​​capazes de mudar a altitude e a trajetória do voo.

A neutralização do sistema de defesa antimísseis dos EUA poderá incluir ainda o sistema tático-operacional de mísseis Iskander-M, equipado com ogivas nucleares, e os novos mísseis de cruzeiro Kalibr, cujo potencial foi recentemente comprovado na incursão à Síria.

Defesa sem crise

O governo russo financia já há alguns anos projetos ligados ao potencial de dissuasão nuclear, entre eles um novo míssil pesado de combustível líquido, o Sarmat, que em pouco tempo deverá substituir o R-36M. Devido a seu poder destrutivo, esse projétil foi apelidado de ‘Satanás’.

No entanto, durante a reunião do setor de defesa, as lentes das câmeras captaram um slide nas mãos de um dos participantes indicando o desenvolvimento do chamado sistema multimissão oceânico Status-6 – tipo de raquete-torpedo com ogivas nucleares e lançamento a partir de um submarino.

“Não foi por acaso que a divulgação desse projeto passou para os meios de comunicação, pois as autoridades queriam mostrar a existência de projetos como esse”, diz o especialista militar independente Konstantin Bogdanov.

Apesar da atual crise econômica, que levou à queda do PIB russo, não deve haver dificuldade de alocar verbas para o desenvolvimento de novas armas nucleares estratégicas.

“As Forças Nucleares Estratégicas são uma prioridade incontestável. Preservar a estabilidade estratégica é um objetivo claro do Ministério da Defesa e do governo”, disse à Gazeta Russa o especialista do Conselho Russo para Assuntos Internacionais, Prokhor Trébin.

 

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