Os mirabolantes planos soviéticos de derreter o Ártico

Pouco realistas ou custosos, projetos não receberam apoio do governo

Pouco realistas ou custosos, projetos não receberam apoio do governo

Serguêi Anisimov/MAMM
Entre as décadas de 1930 e 1960, idealizadores na URSS apresentaram projetos para transformar o norte da Rússia em um jardim florido. Nenhum deles saiu do papel.

A exploração ativa do Ártico e do Oceano Ártico pelos soviéticos, na primeira metade do século 20, deu origem a projetos radicais para “melhor o clima”, segundo as justificativas. Evguêni Guernet, glaciologista que estudava as geleiras do Norte e ex-oficial do Exército tsarista, foi um dos primeiros a sugerir a ideia de acabar com o gelo no Ártico.

Em 1930, Guernet publicou no Japão um folheto no qual afirmava que as geleiras do Oceano Ártico não são permanentes. Segundo ele, se fossem derretidas, o clima do início do Mioceno (entre 24 e 16 milhões de anos atrás), período em que cresciam ciprestes e magnólias na costa escandinava, retornaria ao norte da Eurásia.

Inspirado pelas ideias de Guernet, o climatologista Mikhail Budiko, já nos anos 1950, sugeriu que o gelo fosse derretido com a pulverização de fuligem sobre ele.

Budiko, um dos fundadores da climatologia física e precursor das noções modernas sobre o efeito estufa, defendia que, ao absorver a luz solar, as partículas de carvão iriam promover o derretimento completo das geleiras.

Na década seguinte, foi a vez do plano ousado do geógrafo Piótr Borissov, que propôs transpor as águas quentes da corrente do Golfo para a superfície do Oceano Ártico. “Não vamos reconhecer o Hemisfério Norte de nosso planeta”, lê-se na proposta do projeto de 1959. “Um clima semelhante ao da região central da Ucrânia irá se estabelecer na Sibéria.”

A ideia era bloquear o Estreito de Bering com uma barragem, equipada com enormes bombas de parafuso. Essa estrutura iria bombear para o Oceano Pacífico 500 quilômetros cúbicos de água da camada superficial, fria e com menor salinidade, no lugar da qual uma camada morna, de água mais salina, da corrente do Golfo deveria aflorar à superfície.

Por que nada deu certo?

Segundo Ígor Achik, chefe do departamento de Oceanologia do Instituto de Pesquisa do Ártico e da Antártida do Roshidromet (Serviço Federal de Hidrometeorologia e Vigilância Ambiental) de São Petersburgo, todos os projetos passavam por uma avaliação rigorosa.

“Tive que trabalhar em Tiksi [cidadezinha na costa do mar de Laptev, na Iakútia – Gazeta Russa], onde li em relatórios antigos, referentes à década de 1950, que experimentos locais com foco no derretimento do gelo foram realizados, mas não abrangiam grandes áreas e sim canais navegáveis”, disse Achik à Gazeta Russa.

“Os experimentos foram considerados ineficazes, pois o gelo derretia, porém não completamente e os custos eram muito altos”, completou o especialista.

Entre os projetos também havia “aqueles notoriamente irrealizáveis”, diz Achik. Um delas era uma proposta de 1966, feita pelo engenheiro estoniano Evguêni Pastors, que sugeria rebocar calotas de gelo com a ajuda de navios.

No projeto, Pastors afirmava que, “se introduzirmos cerca de 20 a 25 navios potentes nas geleiras da região central do Ártico, virarmos parte deles em direção ao oceano Atlântico e a outra parte em direção ao Oceano Pacífico, os encostarmos nas geleiras e fizermos com que empurrem...Em meio ano, a calota de gelo sairá do Oceano Ártico”, descreve Achik.

O motivo principal para nenhum dos projetos ter seguindo adiante teria sido outro, contudo. Para Achik, as geleiras do  Ártico só não foram realmente derretidas porque não havia demanda do Estado nesse sentido; os projetos partiam dos próprios cientistas.

Com material da revista Populiarnaia Mekanika

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