Motovilikha, herói anônimo desde o Império

Museu instalado na fábrica de Motovílikha reconta trajetória do complexo industrial

Museu instalado na fábrica de Motovílikha reconta trajetória do complexo industrial

Arquivo Motovílikha
As fábricas de Motovilikha são hoje uma parte importante, embora injustamente esquecida, do complexo industrial militar da Rússia. Além de fabricarem artilharia de primeira classe, já saíram dali máquinas agrícolas e equipamentos para mineração.

Desde o tempo de o tsar Pedro, o Grande, que os Urais se tornaram o núcleo da produção de armas na Rússia. Ali se extraía o minério que era depois transformado no metal utilizado na fabricação de toda uma gama de armas de fogo e armas brancas.

Os montes garantiam todo o necessário para a produção: matéria-prima, combustível devido às grandes reservas de madeira, força de trabalho e vias de escoamento da produção através de uma extensa rede de grandes e pequenos rios.

Em 1736, sob as ordens da imperatriz Anna Ioannovna, o administrador da produção metalúrgica dos Urais, Tatichev, instalou uma fábrica para a fundição de cobre nas florestas perto do rio Kama. Sua principal função era fornecer metal bruto para pistolas e fuzis.

No final do século 18, porém, a demanda por armas de fogo aumentou. Foi então decidido criar, na região do antigo povoado de Motovilikha, a 1.150 quilômetros de Moscou, unidades de produção adicionais especializadas na fabricação de armas e canhões.


Vista panorâmica da fábrica de Motovílikha Foto: Arquivo Motovílikha

Os canhões de Motovilikha começaram a chegar ao Exército e demonstraram a sua eficácia em todas as guerras que a Rússia travou na primeira metade do século 19: contra a França napoleônica, o Império Otomano e os poloneses. Na Guerra da Crimeia, eles também defenderam firmemente a fortaleza de Sevastopol.

Em 1868, os mestres de Perm criaram uma verdadeira obra-prima do armamento: um imenso canhão de 60 cm de calibre e cerca de 450 toneladas de peso. O Canhão do Tsar de Perm foi colocado em um dos fortes de Kronstadt, a fortaleza marítima que defendia os acessos à então capital do Império, São Petersburgo.

Mas o desenvolvimento posterior da produção de armas exigia a modernização das fábricas. Na segunda metade do século 19, o ambicioso programa de renovação das fábricas de armamento do país uniu em um único local as oficinas dispersas de fundição de metal com as oficinas de fabricação de peças de artilharia.

Foi assim que, em 1871, começaram a operar as fábricas unidas de Perm (na segunda metade do século 19, Motovílikha passou a fazer parte de Perm), e, em 1914, um terço de todos os canhões fabricados na Rússia era produzido nessas fábricas.

Selo de qualidade

Os armeiros de Perm foram os pioneiros da nova metalurgia russa. Em 1875, eles fabricaram o maior martelo a vapor do mundo, que pesava 50 toneladas. Quase vinte anos depois, um metalúrgico de Perm, chamado Slavianov, propôs um novo método de soldagem: a arco elétrico com eletrodo revestido. Hoje, trata-se de um dos métodos mais usados na produção metalúrgica em todo o mundo.


Primeira locomotiva produzida na fábrica de Motovílikha, em 1872. Fonte: Arquivo Motovílikha

Durante a Primeira Guerra Mundial, um em cada cinco canhões disparados no front tinha o selo das fábricas de Perm. A industrialização da década de 1930 levou à renovação completa das unidades e, além de peças de artilharia, começaram a produzir uma ampla gama de artigos de metal: ferramentas e equipamentos de construção.

No entanto, a Grande Guerra Patriótica, como é conhecida a Segunda Guerra Mundial na Rússia, forçou de novo a empresa a voltar à sua vocação principal. Entre 1941 e 1945, uma em cada quarto armas que combatiam pelo Exército Vermelho era feita pelos operários de Motovílikha.

Para além de guerras

Depois do conflito, a fábrica começou a produzir máquinas agrícolas, turbinas e equipamentos para mineração que foram amplamente utilizados na URSS e no exterior. Em 1958, os EUA e a Alemanha Ocidental compraram a licença para fabricar as brocas de turbina de Perm.

Na década de 2000, a empresa de Perm redefiniu os seus objetivos. Em 2011, ela iniciou uma linha de produção renovada de peças de artilharia, a mais moderna na Rússia.


Valor total de produção na fábrica de Motovílikha deve chegar a US$ 1 bi em 2017 Foto: Igor Kataev/TASS

A fábrica, que opera com base nas oficinas de Motovílikha, é a única unidade de produção de armas de artilharia que engloba o ciclo completo de fabricação. A expectativa é que, em 2017, o valor total da venda da sua produção atinja um bilhão de dólares.

 

Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies