Novo estudo sugere método para acelerar decomposição de resíduos nucleares

Segundo AIEA, há mais de 68 milhões de metros cúbicos de resíduos nucleares no mundo Foto: Lori/Legion Media

Segundo AIEA, há mais de 68 milhões de metros cúbicos de resíduos nucleares no mundo Foto: Lori/Legion Media

Na natureza, a maior parte das substâncias radioativas leva dezenas ou centenas de anos para se decompor. Um grupo de pesquisa do Instituto de Física Geral Prokhorov, da Academia de Ciências da Rússia, encontrou uma maneira de neutralizá-las e torná-las seguras em apenas uma hora. Com a ajuda do novo método, os cientistas acreditam que será possível reverter a situação da água em Fukushima, entre outras aplicações.

A equipe de pesquisa do Instituto de Física Geral Prokhorov anunciou estar perto de agilizar o processo de neutralização de resíduos nucleares por meio de exposição a raios laser. A descoberta foi feita por acaso durante experiências de laboratório para obtenção de nanopartículas sob a ação de raio laser.

“Nem nós, cientistas nucleares, somos já capazes de dar uma explicação científica para o fenômeno”, declarou Gueórgui Chafeev, líder da equipe de pesquisa, à Gazeta Russa.

Quando os funcionários do Instituto Prokhorov colocaram ouro na solução de tório radioativo 232, eles descobriram que, com o surgimento das nanopartículas, o último deixava de emitir radiação. O mesmo efeito foi repetido com urânio 238.

“Muito provavelmente, ao submeter a solução a essas condições, nós alteramos o entorno dos núcleos dos seus átomos”, sugeriu Chafeev.

Após os primeiros resultados, os pesquisadores fizeram novos testes com outras soluções e metais, incluindo o césio 137.

Mais conhecido devido à tragédia de Fukushima, no Japão, esse metal, que leva 30 anos para se decompor na natureza, precisou de apenas uma hora para se transformar em bário neutro no laboratório.

Os cientistas também descobriram também que, para acelerar a decomposição, a solução precisa ter qualquer metal refratário, isto é, ouro, prata ou titânio. “A rapidez da decomposição de uma substância depende do ambiente químico”, explicou o líder da pesquisa.

De acordo com o relatório Nuclear Technology Review 2015, publicado recentemente pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), havia mais de 68 milhões de metros cúbicos de resíduos nucleares, com diferentes graus de radioatividade, acumulados no mundo no final de 2014.

Do argumento à prática

A equipe do Instituto Prokhorov está agora aguardando a verificação dos resultados por parte do Instituto Central de Pesquisas Nucleares (ICPN), na região de Moscou.

Nos testes, experiência, um espectrômetro permitirá observar os raios e todo o processo em tempo real. A experiência de controle será feita com césio 137.

“Precisamos ver esse processo com os nossos próprios olhos e, em seguida, procurar uma explicação. Tenho mais de 50 anos no campo da física nuclear experimental, acho difícil acreditar em uma forte aceleração da decomposição de um núcleo sob o efeito do raio laser ou de um entorno químico específico”, diz Sarkis Karamian, do Laboratório de Reações Nucleares do ICPN.

Otimistas, os pesquisadores do Instituto Prokhorov já pensam em aplicações concretas da descoberta.

Por meio desse processo seria difícil neutralizar a radiação na Terra, , como em Chernobyl, por exemplo, já que o poder de penetração do laser no solo é medido em micrômetros. Mas, no que diz respeito à água, abrem-se grandes possibilidades, segundo Chafeev.

“É claro que é possível coletar Terra e, em seguida, filtrá-la”, explica o cientista. “Porém, nesse caso especifico, é mais fácil trabalhar com soluções. Ou seja, em Fukushima, onde ainda hoje a água continua carregada de trítio e césio.”

 

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