Cientistas iniciarão testes de tireoide bioimpressa em 3D

Tiroide foi selecionada para o estudo por ser uma glândula com estrutura relativamente simples e muito prática para projetos de pesquisa Foto: Bioprinting Solutions

Tiroide foi selecionada para o estudo por ser uma glândula com estrutura relativamente simples e muito prática para projetos de pesquisa Foto: Bioprinting Solutions

Glândulas produzidas recentemente em bioimpressora serão testadas em ratos antes de aplicação em humanos. Expectativa da fabricante Bioprinting Solutions é que, com o tempo, os órgãos impressos ficarão mais acessíveis para o cidadão comum.

Em março passado, o laboratório russo Bioprinting Solutions conseguiu realizar com sucesso a bioimpressão de uma glândula tireoide. Agora os cientistas planejam implantar essa glândula em ratos de laboratório e apresentar os resultados do estudo no Congresso Internacional de Bioimpressão, em Singapura, na metade do ano.

Entretanto, o chefe do laboratório, Vladímir Mirônov, garantiu à Gazeta Russa que não tem dúvidas quanto ao sucesso da experiência.


Vladímir Mironov (centro) com equipe de cientistas envolvidos no estudo Foto: Bioprinting Solutions

Como você avalia o resultado da impressão da tireoide em 3D?

Criamos um “protótipo de órgão”. Acontece que a glândula impressa não se encaixa na classificação convencional da hierarquia de todas as coisas vivas. O atual sistema só reconhece moléculas, tecidos, órgãos, sistemas de órgãos e organismos.

Um tecido é um grupo de células de uma espécie. Um corpo é um conjunto de tecidos. O objeto criado por nós está bem mais perto do órgão, uma vez que é formado por vários tipos de tecido, vasos sanguíneos e tem uma função no organismo.

A escolha da glândula tireoide para ser impressa não foi casual: trata-se de uma glândula com estrutura relativamente simples e muito prática para projetos de pesquisa.

Como funciona uma bioimpressora?

A impressora criada pelos cientistas não tem uma estrutura tão complexa quanto se imagina. Ela é composta por três elementos principais: o dispositivo de posicionamento mecânico, o dosador e o sistema de controle. A bioimpressora funciona como um robô que se mova em três direções e está equipado com uma ‘seringa automatizada’ que injeta hidrogel ou esferoides.

Como foi o processo?

Os cientistas da Bioprinting Solutions utilizaram a tecnologia de impressão tridimensional – com a ajuda da qual já se produzem plásticos, cerâmicas e metais – e adaptaram-na ao material biológico, ou seja, às células. Esse processo é chamado de produção estratificada.

O processo de bioimpressão ocorre da seguinte forma: primeiro se pulveriza um gel, uma fina camada de proteína fibrina. Em seguida são introduzidos nesse gel nanotecidos – os esferoides, que posteriormente se fundem com a estrutura tridimensional.

Que partes do corpo você acredita que poderão ser impressas nos próximos anos?

Glândula tireoide, vasos sanguíneos, pele, cabelo, bem como cartilagem, osso e tecido adiposo. Algumas coisas dessa lista já foram feitas.


Bioimpressora usada por cientistas da Bioprinting Solutions Foto: Bioprinting Solutions

Pelas suas estimativas, o órgão impresso vai custar entre 200 a 250 mil dólares. Isso significa que poucas pessoas terão acesso a essa tecnologia?

A história do desenvolvimento tecnológico mostra que, em caso de produção em massa e de penetração generalizada no mercado, o preço de qualquer produto de ponta acaba eventualmente por cair, não dezenas, mas milhares de vezes. Com o tempo, os órgãos impressos ficarão mais acessíveis para o cidadão comum.

Vocês estão contando com clientes estrangeiros?

Sim, temos um mercado global. Só na China, existe um milhão e meio de pessoas que necessitam de órgãos para transplante com urgência. 

Promessa contra o câncer

A tireoide é uma das principais glândulas endócrinas do corpo humano. Ela produz hormônios que participam da regulação do metabolismo e do crescimento de determinadas células. De acordo com a organização Mundial de Saúde (OMS), existem hoje 665 milhões de pessoas no mundo sofrendo de anomalias da tireoide.

“A disfunção da tireoide com causas oncológicas, por exemplo, ainda não pode ser tratada com medicamentos. O transplante de órgãos e tecidos nesses casos de câncer também não é viável”, explica o chefe do departamento de microcirurgia do Instituto Guertsen de Pesquisa Oncológica (MNIOI, na sigla russa), Andrêi Poliákov.

“Isso porque os pacientes precisam passar por um processo de imunossupressão, ou seja, de redução da eficiência do sistema imunológico, que causaria a progressão do tumor”, acrescenta. Porém, segundo Poliákov, o transplante de órgãos e tecidos criados pela bioimpressora tridimensional dispensaria essa terapia imunossupressora.

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