Brics investirão US$ 500 milhões em mineração de ouro na Rússia

Ouro russo está na mira dos países do Brics, sobretudo a China, onde aumenta a demanda e diminui a oferta.

Ouro russo está na mira dos países do Brics, sobretudo a China, onde aumenta a demanda e diminui a oferta.

Kommersant
Financiamento levará a retomada da exploração de uma das jazidas mais difíceis da Rússia.

Um grupo empresarial formado pela China National Gold Corporation, a indiana Sun Ouro, o Fundo Russo de Desenvolvimento no Extremo Oriente e os fundos da África do Sul e do Brasil anunciou nesta quinta-feira (21) que investirá US$ 500 milhões na exploração da jazida de ouro Kliutchévskaia, 6,5 mil km a leste de Moscou.

O acordo foi assinado durante a cúpula do Brics, ocorrida entre 15 e 16 de outubro em Goa, na Índia.

A exploração da Kliutchévskaia deve começar três anos após o recebimento dos investimentos, e a jazida poderá produzir 6,5 toneladas de ouro por ano.

Esse é o primeiro documento na área de mineração assinado por todos os cinco países do Brics.

“O acordo pode abrir o caminho para diversos projetos maiores que beneficiarão os investidores do Brics”, diz o chefe de pesquisas de commodities do banco de investimentos VTB Capital, Viktor Biélski.

Congelada

A exploração da jazida Kliutchévskaia se iniciou ainda durante a era soviética, mas foi congelada no final dos anos 1990.

A maior parte do ouro da jazida não foi extraída devido ao alto custo da exploração, de acordo com o analista da empresa financiera Finam, Aleksêi Kalatchev.

“Para reiniciar a exploração, é preciso receber novas tecnologias para o processamento de minérios refratários. A chinesa China National Gold tem essas tecnologias e experiência com elas”, explica Kalatchev.

Segundo ele, no momento, a jazida pertence à empresa indiana Sun Gold Ltd., que não iniciou os trabalhos de exploração.

Em agosto de 2016, o Serviço Antimonopólio Federal da Rússia anunciou que a chinesa China National Gold Group estava disposta a comprar 70% das ações da jazida.

Assim, segundo Kalatchev, a ideia de criar o grupo empresarial surgiu, provavelmente, devido à necessidade de acelerar o processo de venda das ações à empresa chinesa.

Especialistas afirmam que a jazida Kliutchévskaia não é excepcionalmente rica.

“Com os volumes de produção declarados, seu prazo de duração será de apenas 11 a 12 anos, enquanto a vida média de uma jazida é de 15 a 16 anos”, diz o gerente de portfólio da financeira Leon Family Office, Artiom Kalínin.

“Os custos de produção também serão médios. No entanto, os chineses estão acostumados a trabalhar desse modo: as indústrias do aço e do carvão na China têm um custo de produção muito baixo, mas, devido ao financiamento barato e apoio do governo, são lucrativas”, diz Kalínin.

Hoje, as empresas de mineração russas não participam da exploração da Kliutchévskaia. Mesmo assim, o acordo beneficiará a Rússia.

"A Rússia poderá adotar novas tecnologias e ganhará infraestrutura construída pelos chineses”, diz Kalínin.

“Além disso, o acordo permitirá aumentar as receitas fiscais, criar novas vagas e atrair novos investimentos estrangeiros”, acrescenta Aleksêi Kalatchev.

Interesse chinês

Apesar de ser líder mundial em termos de produção de ouro, a base de recursos da China é fraca, de acordo com Artiom Kalínin.

Segundo ele, 28% das reservas de ouro estão localizadas em países da CEI (Comunidade dos Países Independentes), e outros 20%, na América do Norte.

A China, por sua vez, é a maior consumidora de ouro do mundo, e a produção de metais preciosos no país diminui (-0,4% em 2015), enquanto seu consumo cresce (+3,7% em 2015), de acordo com o pesquisador da Escola de Administração Skôlkovo, Oleg Remiga.

“Por isso as empresas chinesas querem tanto entrar em mercados estrangeiros", diz Remiga.

O investimento da China National Gold Group na jazida Kliutchévskaia não é a primeira tentativa de obter acesso a minas no exterior.

As empresas chinesas já adquiriram uma participação na empresa Canadá Pinnacle Mines Ltd. e compraram 50% das ações de uma mina em Papua Nova Guiné da Barrick Gold Corp.

"Isso é só o começo das compras de ativos de ouro russos por empresas chinesas, como a Zijin Mining, a China ouro, a Zhaojin Indústria de Mineração e a Shandong Gold", diz Remiga.

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies