Russos não sabem o que esperar de banco do Brics

O banco poderá financiar projetos nos países-membros do grupo e fora deles.

O banco poderá financiar projetos nos países-membros do grupo e fora deles.

Reuters
Economistas se dividem em previsões sobre qual será o acesso do empresariado e do governo a financiamentos do Novo Banco do Desenvolvimento

As principais decisões tomadas na Cúpula do Brics, realizada na cidade russa de Ufá, no mês passado, estão relacionadas ao Novo Banco do Desenvolvimento, que deverá despontar como alternativa ao Banco Mundial.

No caso da Rússia, a instituição terá importância ainda maior, devido às sanções impostas contra o país por Estados Unidos e União Europeia.

Mas, até o momento, os observadores russos divergem quanto ao acesso que o país terá aos fundos do banco, que totalizam US$ 100 bilhões.

"Até o momento, todos os países têm um relacionamento excelente com o banco. Ele se distingue das estruturas existentes. Em primeiro lugar, pelos direitos iguais que prevê para todos os países fundadores. Em segundo, pelo processo de concessão de créditos. As condições não serão tão duras como as do FMI e do Banco Mundial, que exigem o cumprimento das disposições do consenso de Washington", diz a economista especializada em Brics Aleksandra Morozkina, ressaltando as medidas de liberalização impostas Banco Mundial.

Dinheiro e rodovias

O banco poderá financiar projetos nos países-membros do grupo e fora deles, e a Rússia, que perdeu a possibilidade de pedir crédito junto ao BERD (Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento ) passa a ter uma nova alternativa.

"Agora, estão estudando a estratégia operacional e já se pode submeter pedidos de apoio para projetos. As aprovações serão feitas durante o próximo ano, e as empresas russas esperam receber exatamente os mesmos recursos que as empresas dos outros países Brics", diz Morozkina.

Algumas, como a holding agroindustrial Miratorg, que teve, no passado uma joint venture com a Sadia, já manifestaram interesse no banco.

"A Miratorg não exclui essa opção. Mas só poderemos discutir detalhes quando forem conhecidas todas as condições e mecanismo de interação do mutuário com o banco. Ainda é cedo para falar sobre em que condições esse financiamento pode ser interessante", disse à Gazeta Russa a assessoria de imprensa da Miratorg.

Céticos...

No entanto, há economistas que consideram baixas as chances das empresas russas de receber financiamento do Novo Banco de Desenvolvimento.

"Para o banco, o país de origem das empresas não tem importância. Mas os projetos econômicos russos da última década tiveram baixa rentabilidade, ou eram economicamente sem sentido, e poucos conseguirão receber fundos desse banco", disse à Gazeta Russa o professor Ivan Rodionov, da Escola Superior de Economia.

Assim, o status da Rússia como cofundadora do banco não faria nenhuma diferença na escolha de projetos do país.

"Qualquer banco de desenvolvimento, pelo menos no início da sua atividade, deve se envolver com projetos economicamente viáveis. Só assim ele conseguirá conquistar uma boa imagem e ter capacidade para repor ou aumentar o capital que recebeu do Estado com recursos adicionais, por meio da emissão de títulos em condições vantajosas", diz Rodionov.

... e otimistas

Outros especialistas acreditam que o empresariado russo terá acesso ao crédito, pelo menos para projetos de importância estratégica.

"O banco está voltado a projetos de infraestrutura e desenvolvimento. As empresas russas, provavelmente, devem apresentar propostas ligadas ao primeiro ponto. Por exemplo, elas deverão pedir crédito para o desenvolvimento da infraestrutura de transporte", diz Morozkina.

O desenvolvimento da rede rodoviária russa é tão interessante para Moscou, como para a China, que pretende redirecionar seu comércio com a União Europeia das atuais rotas marítimas para as terrestres.

"A construção de novas e eficientes cadeias de transportes e logística, a implementação do cinturão econômico da Rota da Seda e o desenvolvimento das ligações de transporte na parte oriental da Rússia e da Sibéria pode unir de modo dinâmico os mercados em crescimento da Ásia e realizações já amadurecidas, industrial e tecnologicamente ricas, da economia europeia, permitindo, ao mesmo tempo, que nossos países se tornem mais competitivos na busca por investidores, na criação de novos postos de trabalho e na produção de vanguarda", anunciou o presidente russo Vladímir Pútin.

 

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