Brasil é uma das prioridades da Rússia, diz Pútin a Temer

Ano de 2018 marcará 190 anos do estabelecimento relações diplomáticas entre Brasil e Rússia, enfatizou Pútin

Ano de 2018 marcará 190 anos do estabelecimento relações diplomáticas entre Brasil e Rússia, enfatizou Pútin

Kremlin.ru
Declaração conjunta, assinada entre presidentes nesta quarta-feira (21) em Moscou, abrange desde política externa a cooperação espacial. Chefes de Estado se comprometeram a somar esforços para combater ameaças latentes, como terrorismo.

O Brasil “é, sem dúvidas, uma das prioridades da Rússia e um dos parceiros mais importantes na América Latina”, disse o presidente russo Vladímir Pútin, nesta quarta-feira (21), ao iniciar a conversa no Kremlin com seu homólogo brasileiro, Michel Temer.

Apesar do declínio do comércio bilateral em 2016, “o crescimento já ultrapassou a marca dos 30% nos primeiros quatro meses deste ano”, acrescentou o chefe de Estado russo.

Durante as conversações em Moscou, os dois líderes discutiram sobre status atual das relações bilaterais, situação na Síria e no Oriente Médio, iniciativas planejadas para combate à corrupção e ao terrorismo, cooperação no espaço, e, ao fim, assinaram uma declaração conjunta que estabelece um diálogo estratégico na área de política externa.

“Ele [o documento] prevê maior nível de coordenação de nossos países na luta contra novos desafios e ameaças, como terrorismo, manutenção da estabilidade, medidas de não proliferação nuclear e no controle dos armamentos”, explicou Pútin.

O presidente observou que ambos os países “cooperam construtivamente no âmbito das Nações Unidas, G20, Organização Mundial do Comércio”, e ainda operam juntos no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

De acordo com a declaração, a Rússia e o Brasil irão empreender esforços “para construir um sistema de relações internacionais mais justo, democrático e multipolar baseado no papel central das Nações Unidas, na supremacia do direito internacional e em atividades conjuntas dos membros da comunidade global”. As partes enfatizaram ainda a importância de medidas destinadas a promover a reforma da ONU.

Um acordo sobre a visita oficial de Pútin ao Brasil também foi incluído no comunicado conjunto. Mas o porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov, adiantou que a viagem do presidente russo dificilmente ocorrerá antes do final do ano. “As datas não foram definidas. Elas [serão especificadas] por meio de canais diplomáticos”, disse Peskov, a um repórter da TASS.

Na noite anterior, Pútin e Temer compareceram ao Teatro Bolshoi, na capital russa, para assistir a um espetáculo com os vencedores da 13ª Competição Internacional de Bailarinos e Coreógrafos.

Novas ameaças

No documento, os líderes corroboraram a necessidade de “melhorar a coordenação para combater novas e velhas ameaças” e manifestaram apoio às atividades da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). “A Rússia e o Brasil irão considerar a possibilidade de ampliar a parceria no campo do uso pacífico da energia nuclear”, lê-se na declaração.

O documento aponta para o terceiro reator da Usina Nuclear de Angra, concluído recentemente, bem como para a construção de novas usinas nucleares no Brasil. 

Além disso, menciona a importância de “reforçar os esforços globais na luta contra a corrupção, com a ONU desempenhando um papel central”.

“A cooperação anticorrupção deve se concentrar na obtenção de resultados práticos, com base nos sistemas jurídicos nacionais e realizados em atmosfera despolitizada, sem qualquer pressão sobre os Estados soberanos”, continua o comunicado.

Síria e Oriente Médio

De acordo com a declaração assinada por Pútin e Temer, o acordo na Síria deve ser alcançado “com base na Resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU e no processo político conduzido pelos sírios para preservar a independência, a integridade e a soberania da Síria, e a estima pelos interesses legítimos do povo sírio”.

Moscou e Brasília confirmaram o apoio às negociações de paz de Genebra e destacaram o acordo alcançado em Astana para criar zonas de ‘desescalada’ na Síria.

Ambos os líderes expressaram preocupação com os desenvolvimentos no Oriente Médio e no Norte da África e defenderam a solução do conflito palestino-israelense sob o princípio de coexistência pacífica.

Cooperação espacial

Rússia e Brasil também estão estudando as possibilidades de ampliar a cooperação na esfera espacial, disse Pútin após negociações com Temer.

“Estão sendo estudadas as possibilidades de lançamentos conjuntos a partir do cosmódromo brasileiro e a produção conjunta de foguetes portadores de pequeno e médio porte”, disse o presidente russo. Também “há ideias para o desenvolvimento da cooperação na esfera de monitoramento remoto da Terra”, acrescentou Pútin.

No início de abril passado, a agência espacial russa Roscosmos lançou um sistema optoeletrônico para detecção de lixo espacial no Observatório do Pico dos Dias, no sudoeste de Minas Gerais. Além disso, quatro estações terrestres do sistema de navegação global russo Glonass já estão em operação no território brasileiro.

Nesse aspecto, Temer manifestou interesse em expandir a rede de estações Glonass, uma alternativa ao GPS, no Brasil. “Nós avaliamos positivamente a experiência de criar as estações do sistema russo Glonass no Brasil”, disse o presidente.

As partes debateram ainda outras oportunidades de interação no setor de alta tecnologia. “Consideramos promissor o trabalho para (...) criação de novas alianças tecnológicas. Uma delas foi estabelecida pela Fundação Skôlkovo [perto de Moscou] e pelo Vale do Silício Brasileiro [na região de Campinas]”, disse Pútin.

Mercosul mais União Eurasiática

Na manhã desta quarta-feira, o presidente brasileiro também manteve negociações com o primeiro-ministro russo, Dmítri Medvedev, e exortou os empresários locais a investir ativamente na economia do país.

“Nossa principal tarefa é oferecer novas ideias sobre a necessidade de impulsionar os investimentos mútuos nos dois países”, disse Temer, antes de acrescentar que “há mais de 50 setores, incluindo indústria elétrica, e setores de gás e petróleo que podem ser interessantes para Rússia.”

A expectativa é que os países contribuam para antecipar a assinatura de um Memorando de Cooperação sobre questões comerciais e econômicas entre a União Econômica Eurasiática e os países-membros do Mercosul.

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