‘Objetivo no Brasil não é transferência de tecnologia’

Einchcomb: “As sanções não limitam a cooperação com empresas fora de nossas operações a montante na Rússia”

Einchcomb: “As sanções não limitam a cooperação com empresas fora de nossas operações a montante na Rússia”

Arquivo pessoal
No último dia 17 de fevereiro, a Rosneft Brasil (RNB), subsidiária da maior petroleira da Rússia, anunciou o início da perfuração de seu primeiro poço na Bacia do Solimões. Em exclusiva à Gazeta Russa, o diretor de projetos internacionais a montante da Rosneft, Chris Einchcomb, falou sobre os objetivos e obstáculos da corporação no Amazonas, e a possibilidade de integração com outros desenvolvimentos na Venezuela.

Gazeta Russa: Devido às sanções impostas pelos EUA, muitas empresas americanas com tecnologias avançadas foram impedidas de prestar serviços às corporações russas de petróleo e gás. Apesar disso, a Rosneft conseguiu atrair a empresa franco-norte-americana Schlumberger para realizar o trabalho de perfuração em seu projeto brasileiro. Isso significa que as sanções estão geograficamente limitadas à Rússia? Essa parceria seria uma forma de driblar a proibição de transferência de tecnologia?

Chris Einchcomb: As sanções não limitam a cooperação com empresas de serviços fora de nossas operações a montante [realizadas entre o sujeito passivo e os seus fornecedores e/ou prestadores de serviços] na Rússia. O Projeto Solimões é um projeto de exploração onshore e convencional de petróleo e gás e, portanto, mesmo em sua forma mais ampla, não está sujeito a sanções. É importante ressaltar que a empresa-mãe da Schlumberger foi escolhida por meio de um concurso público para prestar serviços de Gestão Integrada de Projetos (GIP) nos trabalhos de perfuração no Solimões, sendo a sua proposta a mais financeiramente atrativa para a empresa. Tanto a Rosneft quanto a contratada revisam, regularmente, os serviços e os contratos para garantir a sua conformidade com as restrições impostas por sanções antes de assiná-los.

É claro que, ao estabelecer parceria com outras empresas (independentemente de seu país de origem), sempre se ganha experiência, além do aumento das habilidades (e isso se refere a todos os participantes do projeto). Mas não estamos falando de transferência de tecnologia – a tecnologia que estamos implementando no Solimões não é diferente da tecnologia que utilizamos diariamente em nossas operações onshore convencionais. A Rosneft é uma das líderes no mercado de serviços de petróleo da Rússia; a companhia é um importante operador interno de serviços de perfuração e suporte e já possui as tecnologias que estão sendo implementadas no Brasil. A contratação da Schlumberger, como já destacamos, tem a ver apenas com aspectos econômicos do projeto.

GR: Quantos poços vocês planejam perfurar em 2017? E quais os prazos?

CE: Além da Schlumberger, a Rosneft Brasil contratou a Queiroz Galvão Óleo e Gás (QGOG) para uma plataforma de perfuração onshore e para serviços em plataformas associadas no 1º poço, lançado ainda fevereiro; esperamos iniciar um segundo poço no segundo semestre de 2017. A Rosneft Brasil planeja perfurar, pelo menos, 4 poços na próxima campanha de perfuração, para obter informações geológicas e confirmar o potencial de exploração e de obtenção de hidrocarbonetos na Bacia do Solimões.

O alto custo em relação às operações na Rússia é uma das razões pelas quais a Rosneft planeja perfurar vários poços, otimizando, assim, os custos de logística e equipamento das operações. O tempo estimado para perfuração é de 60 dias, além de 23 dias para testes e avaliação dos poços, resultando em um total de 83 dias.

GR: Os trabalhos de perfuração foram atrasados em um mês (anteriormente, a data de início anunciada era 9 de janeiro de 2017). Qual foi a razão disso?

CE: Um dos desafios na Amazônia é a logística para transferência de equipamentos à região e otimização dos períodos de seca para a construção das plataformas. A Rosneft Brasil conseguiu que os empreiteiros chegassem ao local do primeiro poço em junho/julho de 2016, durante a janela de navegabilidade, e o local foi preparado no período de outubro a dezembro, durante a estação seca da Amazônia. O equipamento para perfuração, porém, só pode ser levado quando há um volume de água suficiente nos rios, e isso determinou o momento da transferência, que foi em janeiro de 2017.

GR: Vocês esperam encontrar petróleo ou gás na região?

CE: Os estudos de modelagem geológica conduzidos na Bacia do Solimões apontaram que há potencial de encontrar petróleo e gás nessa área fronteiriça. Independentemente do nível de extração do poço, seus resultados terão um grande impacto na compreensão técnica da bacia e orientarão os futuros trabalhos de exploração na área.

Embora os desafios do desenvolvimento no Solimões não sejam diferentes dos desafios do desenvolvimento em áreas remotas da Rússia, a Rosneft tem larga experiência no desenvolvimento de projetos de petróleo em terra e isso pode influenciar a concepção e a natureza de qualquer desenvolvimento futuro no Solimões.

GR: Como a Rosneft pretende monetizar o gás do projeto Solimões? A empresa está estudando o uso de barcaças de GNL (gás natural liquefeito) para levá-lo ao mercado?

CE: A Rosneft elaborou alguns cenários para a monetização do gás do projeto Solimões. Completamos dois anos de cooperação conjunta com a Petrobras, que destacou o GNL e o gás como alternativas energéticas. A Rosneft Brasil está avançando com essas ideias por conta própria, mas discutindo as oportunidades de parceria com a Petrobras e com terceiros para selecionar a melhor opção para a monetização dos recursos.

Quanto às barcaças de GNL, esta é apenas uma das opções disponíveis, embora estejamos inclinados a utilizar o gás tradicional para opções de energia. A experiência anterior da Petrobras indica que, para a monetização do petróleo, a exportação da produção inicial por meio de barcaças fluviais é viável como solução de curto prazo; já como solução de longo prazo, [o ideal seria] exportar petróleo e gás através de oleodutos multifásicos da floresta para o mercado em Manaus.

GR: A Rosneft pretende integrar o desenvolvimento do projeto Solimões com os ativos da empresa na Venezuela?

CE: O Projeto Solimões ainda está na fase de exploração, enquanto a Venezuela já desenvolve projetos e está envolvida na produção. Devido à sua natureza, a campanha de perfuração é autônoma e, portanto, há oportunidade limitada de integrar os dois projetos. Qualquer sucesso no Brasil nos permitirá reanalisar a estratégia de desenvolvimento do projeto.

É claro que gostaríamos de ampliar nossa presença na América Latina, assim como nossos ativos e experiências na Venezuela com os do Brasil (e de Cuba), mas há ideias diferentes em questão. A opção mais atraente em termos de integração pode ser a prestação de serviços de perfuração e construção em que a alavancagem de múltiplos ativos gere a otimização dos custos.

GR: Com o leve aumento dos preços do petróleo, algumas empresas estão aumentando o investimento em projetos mais caros, entre eles os de exploração offshore. A Rosneft está avaliando a possibilidade de seguir essa tendência no Brasil?

CE: Por ser uma grande companhia internacional de petróleo, a Rosneft está sempre analisando a possibilidade de aumentar seu portfólio de projetos mundo afora. O Brasil planeja lançar uma rodada de licenças em 2017, que inclui projetos offshore, além das oportunidades de aquisição continuamente propostas pela Petrobras. Nós iremos rever as opções e faremos recomendações adequadas à cúpula da empresa.

GR: As operações são realizadas em uma área ecologicamente delicada. Como a empresa se preparou para um possível incidente?

CE: A segurança é um valor central para todas as operações e instalações da Rosneft. A condução de operações criteriosas ​​na Bacia do Solimões é fundamental para o desenvolvimento dos recursos da região. Os planos operacionais na Bacia do Solimões têm por base a redução de impactos ambientais adversos.

A prevenção de incidentes é uma prioridade e aspecto importante no planejamento e na execução de nossas operações de perfuração. A Rosneft Brasil realizou um estudo completo de análise de risco para implementar todas as barreiras de prevenção necessárias. Também foram realizadas auditorias em 17 fornecedores para mitigar problemas na gestão de saúde, segurança e meio ambiente.

A Rosneft desenvolveu ainda um plano de resposta de emergência usando os cenários de risco identificados. Licenças ambientais foram emitidas por agências estatais do Brasil, e seguiremos 100% dos compromissos tal como apresentados nos requisitos legais.

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