Rússia não decola no mercado brasileiro de exploração espacial

Governo brasileiro negocia com EUA concessão de base no Maranhão

Governo brasileiro negocia com EUA concessão de base no Maranhão

AFP
Em anúncio recente, a Agência Espacial Brasileira divulgou que o Centro de Lançamento de Alcântara, maior base de lançamento de foguetes do país, poderá ser disponibilizado para os EUA. Trata-se de um final decepcionante para a cooperação brasileiro-ucraniana no campo da exploração espacial.

Em 2003, a Ucrânia e o Brasil assinaram um acordo intergovernamental que, como parecia na época, era vantajoso para ambas as partes. Em troca do acesso à sua base aeroespacial e da criação da infraestrutura do complexo de lançamento, o Brasil receberia acesso a tecnologias que não eram caras e bastante modernas. Por sua vez, a Ucrânia iria obter o financiamento necessário à sua indústria aeroespacial, bem como a possibilidade de realizar lançamentos de foguetes-portadores a partir da base de Alcântara (Maranhão), situada próximo à linha do Equador, com a respectiva redução de custos.

O projeto não foi bem-sucedido por razões de natureza puramente comercial. O custo do lançador de satélites ucraniano "Cyclone-4" era proibitivo. Sofrendo as consequências da crise econômica, o Brasil simplesmente não pode arcar com os custos financeiros do projeto. Além disso, a demanda projetada para os lançamentos a partir da base de Alcântara também se revelou insignificante. Em 2015, o tratado brasileiro-ucraniano foi rompido. O debate sobre quem poderia substituir Kiev no papel de parceiro do Brasil no campo da exploração espacial se prolongou por mais de um ano e meio.

Por que os Estados Unidos?

O programa espacial brasileiro é assombrado por fracassos fatais há vários anos. Basta citar um único fato: um país que está entre as maiores economias do mundo, até agora, não conseguiu lançar um satélite no espaço usando um foguete de fabricação própria. Invariavelmente, precisa recorrer à ajuda de empresas estrangeiras.

Os Estados Unidos têm um interesse de longa data no programa espacial brasileiro. Em 1997, Brasil e Washington assinaram um acordo sobre a participação conjunta na construção da Estação Espacial Internacional e, três anos mais tarde, o Brasil permitiu que os EUA utilizasse a base de Alcântara para o lançamento de naves espaciais. A Boeing, que tem fortes laços com a Embraer, maior empresa brasileira fabricante de aeronaves, também vem manifestando interesse em projetos do país sul-americano há muito tempo.

Até agora, a cooperação brasileiro-americana na esfera espacial vinha enfrentando dificuldades de caráter político. No ano 2000, os planos de usar a base de Alcântara em prol dos interesses da Nasa a agência espacial dos Estados Unidos, se confrontaram com a relutância dos brasileiros em permitir que o governo americano controlasse parcialmente sua base espacial. Os americanos também exigiam garantias de que as tecnologias transferidas ao Brasil não seriam exportadas a outros países, de uma forma ou de outra. Até 2016, os líderes brasileiros se recusavam a aceitar essas condições. No entanto, a mudança de poder que ocorreu o ano passado no Brasil, provavelmente, abriu caminho para a cooperação entre os dois países.

Isto explica, em grande parte, porque atualmente a Rússia encontra-se à margem do programa espacial brasileiro, apesar do fato de termos certa experiência em cooperação neste campo. Em 2004, foi firmado um acordo bilateral sobre o desenvolvimento de um veículo de lançamento para o Brasil feito por escritórios de design russos. O Programa Cruzeiro do Sul aparentava ser um projeto ambicioso: o governo brasileiro estava disposto a investir nele mais de US$ 700 milhões. Na mesma época, a Rússia começou a preparar o voo do primeiro astronauta brasileiro, que foi realizado em março de 2006, a partir do Cosmódromo de Baikonur. Em 2008, os países firmaram um acordo relativo ao desenvolvimento conjunto do sistema russo Glonass.

No entanto, a cooperação russo-brasileira na esfera espacial está patinando até agora. Um problema persistente é o financiamento. O orçamento do programa espacial brasileiro é reduzido de tempos em tempos. Em 2012, foi aprovado um orçamento estimado para 10 anos no montante de pouco mais de US$ 2,5 bilhões. Posteriormente este total foi reduzido. A crise econômica não permite que a indústria espacial russa trabalhe com base na concessão de crédito. Como resultado, o projeto Cruzeiro do Sul, que anteriormente parecia bastante promissor, foi praticamente congelado.

Existem também dificuldades de ordem diferente. A empreitada do projeto Cruzeiro do Sul tornou-se refém da burocracia russa. Em 2007, o projeto já pronto, de acordo com o qual o primeiro lançamento da base de Alcântara estava programado para 2010, foi transferido para um novo empreiteiro que sugeriu uma nova versão do foguete-portador. Resumindo, restam os constantes atrasos e a compreensível irritação dos parceiros.

Obviamente, tudo isso impeliu o novo governo brasileiro a optar por solucionar a questão da maneira mais simples, ou seja, praticamente transferir o direito ao uso da base de lançamentos para a Nasa. É uma decisão difícil, mas, provavelmente, inevitável para o Brasil nesta fase.

Aleksandr Verchínin é doutor em História e pesquisador sênior do Centro de Análise de Problemas.

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