Que lição a Rússia pode tirar da crise política no Brasil?

Bonecos conhecidos como “Pixuleco” marcaram manifestações contra o governo

Bonecos conhecidos como “Pixuleco” marcaram manifestações contra o governo

Reuters
Insatisfação popular que marca o Brasil às vésperas das Olimpíadas deve servir de alerta para elite política da Rússia, que enfrentou movimentos semelhantes em 2011 e 2012.

Não muito tempo atrás, a comunidade internacional não poupava elogios a Dilma e a Lula. Em 2010, a revista “Time”, por exemplo, estampou o ex-presidente do Brasil no topo da lista dos políticos mais influentes do mundo. Era difícil não concordar com isso: o mundo estava aprendendo lições importantes com o Brasil naquela época. Hoje também não faltam lições – porém, o cenário é outro.

A razão para o declínio dramático da confiança do público em seus líderes se deve, sobretudo, à forte deterioração da situação econômica no Brasil. O país está enfrentando a maior crise econômica desde a década de 1930, e espera-se que este ano o PIB brasileiro caia 3,6%. A título de comparação, no período de 2003 a 2010, o crescimento econômico no Brasil era, em média, de 4,1%.

Também ficou claro que, apesar das populares reformas sociais e econômicas, um país pode entrar em decadência quando infectado pelo vírus da corrupção.

Não se pode mais dizer que os brasileiros ignoram as atividades ilícitas dos políticos no maior país da América Latina, como ainda se vê, em partes, na vizinha Venezuela. Os brasileiros se preocupam com a sua imagem internacional e acreditam que penas severas podem mudar a “cultura política” do país.

“A consciência política dos brasileiros deve ser invejada”, de acordo com a opinião publicada no portal russo Slon. “Até mesmo os cidadãos jovens e analfabetos conseguem fazer ouvir suas posições políticas, rapidamente se reúnem em protestos e organizam manifestações.”

“Ao contrário da Rússia, as pessoas no Brasil não pensam de imediato em acusar os opositores de inflamar o ódio e as divisões na sociedade. A agressão durante as manifestações e, especialmente, por oposição política, é malvista.”

Além do mais, uma vez que os escândalos de corrupção no país começaram no governo anterior, liderado pelo PSDB, a expectativa é que, com a investigação em andamento, não só os representantes do partido no poder, mas também todos os líderes da oposição envolvidos em escândalos tenham sua reputação manchada.

Esperança falida

O fenômeno atual da cultura política brasileira se deve provavelmente ao fato de que o atual partido no poder, PT (Partido dos Trabalhadores), primeiro com Lula como líder, e, em seguida, com Rousseff, aumentou significativamente o nível das expectativas nacionais.

“Lula e Dilma lembram aqueles pais que se orgulham de o filho estar subindo degraus sociais, já sabe como dar o nó na gravata, está em vias de cursar uma universidade e, no bolso, tem um telefone celular e as chaves de uma moto, ou até mesmo de um carro. No entanto, a criança cresceu e agora tem um espírito rebelde. O celular já ficou velho, e a moto está soltando fumaça”, descreveu recentemente o jornal espanhol “El País”.

O PT tem orgulho de, ao longo dos últimos treze anos, ter tirado 30 milhões de brasileiros da pobreza, muitos dos quais já teriam aderido à classe média. No entanto, é justamente grande parte desta classe média que agora está se manifestando pela saída da atual presidente.

Estas pessoas são – se continuarmos a comparação com a Rússia – os típicos “cidadãos raivosos” que realizaram manifestações em Moscou e outras grandes cidades russas no outono de 2011, insatisfeitos com o fato de que as mesmas pessoas ainda permaneciam no poder.

É verdade que no Brasil há dez vezes mais desses manifestantes, e eles estão mais motivados e mostram mais energia para se manifestar. No entanto, seria um erro não aprender lições a partir dos protestos sociais maciços no distante Brasil.

A história mostra que um líder extremamente popular pode se transformar em uma persona non grata se a situação no país começar a se deteriorar rapidamente, as autoridades não ouvirem as crescentes exigências dos cidadãos, os políticos se tornarem uma “classe de intocáveis” e a oposição começar a ser rotulada como “quinta coluna” e “traidores nacionais”.

Texto originalmente publicado pelo Russia Direct

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