Morre aos 80 anos o escritor Vassili Belov

Foto: RIA Nóvosti

Foto: RIA Nóvosti

Um dos mais importantes escritores rurais da Rússia morreu na cidade de Vologda. O anúncio foi feito pelo governo local na semana passada.

Vassili Belov, um dos mais importantes escritores rurais russos, morreu na cidade de Vologda. O anúncio foi feito pelo governo local no início da semana passada.

Belov nasceu na aldeia de Timonikha, em 1932, de onde, em 1959, foi para Moscou, ingressando no Instituto Literário. Já em 1961, as publicações "Derevnya Berdiayka” (Aldeia Berdiayka) e o conto "Privichnoye Delo"(Um negócio corriqueiro) levaram-no à primeira linha dos “escritores rurais”.

Sua fama veio de maneira leve e rápida e logo chegaram a premiação pelo Estado e as medalhas. Na União Soviética, seus livros eram distribuídos em tiragens de milhões de cópias.

Mesmo com a fama, Belov não permaneceu em Moscou e retornou para a aldeia. O inevitável retorno foi um dos temas de sua prosa: "E assim é a alma: nem armadilha, nem sedução, mesmo assim ela sempre volta para casa."

Belov estudou muito a coletivização dos anos 1920 e exigia que ela fosse reconhecida como um genocídio do povo russo. Sobre isso são os romances "Kanuni” (Noite anterior), "Chas Shestyi” (A sexta hora) e "God velikovo pereloma” (O ano da grande reviravolta), suas grandes obras.

Mas os melhores dos seus  livros não descrevem a tragédia dos camponeses russos, mas sim uma luminosa vida rural diária somado ao estudo amoroso das tradições do norte da Rússia, na obra "Lad" (Harmonia), e a linguagem viva do Kuzmá, em "Bukhtini Vologdslie”(Lorotas de Vologda), cujo valor especial consiste no fato de ter sido ouvida por acaso, no próprio lugar.

A aldeia Timonikha desapareceu ainda antes de Belov: nos últimos anos  praticamente nada existia no local, a não ser a sua casinha. Os moradores rurais foram se mudando para a cidade, um atrás do outro, e ninguém voltou.

Mas Belov ficou e não parou a peregrinação de escritores, jornalistas, empresas de TV e até russistas japoneses. Um amigo do escritor, Yasui Rëkhej, na série de ensaios sobre Timonikha, chama-o afetuosamente de "Belov-San". Tudo isso fez com que os governantes locais pensassem várias vezes em transformar Timonikha em uma atração turística.

E provavelmente assim será, embora sem a calorosa presença de Belov. De qualquer forma, vamos lembrar dele não só pelos livros, mas também pela fidelidade ao seu próprio texto,  que se manteve rural, quando até a vila já desaparecera. Incrível como a história é transmitida pela TV: alega-se que supostamente Belov morreu porque a igreja recuperada por ele fora saqueada pelos próprios habitantes rurais. Mas lá não havia ninguém para saquear, por quilômetros. Belov realizava sozinho o seu programa para salvar a aldeia russa.

Rota turística

Em comemoração ao seu 75 º aniversário, em 2007, foi aberta uma rota turística para a sua casa na aldeia.

Lá, os visitantes são levados para a floresta, onde o escritor costumava ir à procura de  cogumelos, e para o rio, onde pescava. São mostradas as casas que ele visitava, sua própria casa, a qual construiu e deu acabamento com as próprias mãos, e a igreja Nikolayevskaya, por ele recuperada. Se o anúncio for verdadeiro, ao final do caminho, depois  de saborear tortas quentinhas saídas do forno, os turistas devem deixar-se possuir pela sensação de "forte e inabalável  sustento espiritual que este cantinho de terra passa para o escritor".

Publicado originalmente pelo jornal Kommersant

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