Arte à beira do século 3 a.C.

Foto: Lisa Asarova

Foto: Lisa Asarova

Disposto a mudar de vida, arquiteto moscovita mudou-se para aldeia remota e deu início a um movimento que integra arte à natureza.

“Estava cansado de trabalhar em ateliês na cidade. Minha ideia era achar um lugar que tivesse  história, uma igreja antiga e um rio”, explicou o arquiteto moscovita Vassíli Schetinin, fundador da colônia de artistas Nicola-Lenivets.

Em 1989, durante os últimos dias da União Soviética, Schetinin chegou às margens do rio Ugra (na região de Kaluga, a 200 quilômetros da capital russa) procurando um canto remoto longe da civilização. Ali encontrou uma aldeia adormecida à beira do desaparecimento.

Além das paisagens de tirar o fôlego, pouca coisa sobrou da ex-gloriosa zona rural cuja história remonta ao século 3 a.C. Um pedaço da Rússia Medieval, a região foi palco de várias batalhas importantes, incluindo a Batalha do rio Ugra que marcou o fim do domínio tártaro-mongol no século 15.

Schetinin foi logo seguido por amigos arquitetos e artistas. Convidados pelo pintor Nikolai Polisski, os moradores locais largaram a garrafa de vodca, arregaçaram as mangas e ajudaram o artista a criar trabalhos monumentais em madeira, palha e galhos de árvores.

Hoje em dia, o visual da cidade está completamente reformulado por essas criações fantásticas que combinam natureza e arquitetura contemporânea.

No verão de 2006, o primeiríssimo Festival Arkhstoianie deu a artistas russos e internacionais a oportunidade de contribuir com o movimento artístico de Nicola-Lenivets.

Desde então, as margens do Ugra são anualmente  convertidas em uma laboratório espiritual e artístico para dezenas de artistas.

Imagens:


“A arte é observação da natureza, realçando o que há de melhor nela”, diz Oleg Kulik, curador do festival e mestre por trás da exposição “Nove musas do labirinto: a liturgia da floresta”, tema da Arkhstoianie de 2012.

Neste ano, o festival apresenta 24 trabalhos de artistas individuais, assim como obras produzidas por coletivos de arte. Kulik ressaltou que o evento é “uma progressão do regional para o global, das paisagens naturais para o universo interno e psicológico, e uma tentativa de reunir todos esses aspectos.”

Um exemplo disso é o trabalho dos artistas Ivan Kolesnikov e Serguêi Denisov, que literalmente costuraram um barranco como forma de “consertar” a terra, como se fosse um órgão vivo.

Outros dois artistas, Dmítri Alekseev e Aleksêi Ivanov, criaram a área de entrada do festival, num esforço de quebrar as barreiras entre as pessoas. Eles construíram um enorme cone de madeira e material elástico que “escuta, vê, capta ideias espalhadas (das pessoas que passam) e as une”, permitindo que os passantes comecem a enxergar e ouvir os demais.

O ideal de transformar os espectadores proporciona, sem dúvidas, um contraponto perfeito ao típico cenário das galerias moscovitas. 

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