Rússia mantém padrão nas Olimpíadas longe da ilusão soviética

A participação da Rússia nas Olimpíadas está sendo objeto de muitas discussões. Fervorosos patriotas, críticos, nostálgicos da União Soviética e entusiastas em geral ainda avaliam se o desempenho da outrora ‘grande potência esportiva’ foi pífio, satisfatório ou até impressionante. Mas, na frieza dos números e das previsões, uma coisa é certa: o desempenho da Rússia nos Jogos de Londres foi exatamente aquele previsto, sem surpresas.

Para começo de conversa, lembro a análise de Nikolai Dolgopolov da história olímpica russa. Depois, a declaração do ministro dos Esportes da Rússia, Vitali Mutko, alguns meses atrás: ‘Sinceramente, EUA e China não alcançaremos. Sem natação, tênis de mesa e remo nõs não podemos competir com países que, nestes esportes, em comparação conosco, ganham mais 16-17 medalhas. Por isso nosso objetivo principal é concorrer pelo terceiro lugar geral com a Grã-Bretanha e a Alemanha. Eu não diria que um 4º lugar seria frustrante, embora, sem dúvidas, nós devemos brigar pelo 3º’.

Dito isso, vamos aos números (e espero não ter errado mas, se você achar algo estranho, me avise!). O país-sede, numa conta grosseira, consegue um aumento de 20% a 40% em média em seu número total de medalhas. Citando o ‘Esporte Fino’:

Um dos crescimentos recentes mais estupendos foi o da Espanha. Em 1988, nas Olimpíadas de Seul, foram apenas quatro medalhas e o discretíssimo 25º lugar. Já Barcelona viu 22 medalhas do país e um inesquecível sexto posto no quadro de medalhas em 1992. De lá pra cá, foram 17, 11, 19 e 18 medalhas espanholas, num caso comum de perpetuação de política esportiva, apesar dos apenas seis pódios na atual edição dos Jogos.

Por sua vez, a ferramenta ‘Medalhômetro’, do Globoesporte.com, nos mostra a evolução da Rússia (e de todas as nações) com medalhas olímpicas desde o fim da URSS. Via de regra, o país permanece estável, variando das 63 medalhas ainda no fim da geração soviética, em 1996, até as grandes participações da ‘geração russa’ em Atenas e Pequim. E esse piso foi mantido em Londres. No segundo gráfico do ‘medalhômetro’, a espetacular trajetória soviética durante seus anos de existência (claro que isso foi favorecido pelo boicote dos EUA aos Jogos de Moscou, em 1980).

O gráfico seguinte faz uma projeção histórica do número de medalhas conquistadas desde o fim da URSS. O surpreendente Cazaquistão pulou para segunda potência esportiva da ex-URSS, levando em consideração o número de ouros. No total de medalhas de Londres, porém, perde para a Ucrânia, que mantém uma incrível regularidade, variando, basicamente, nas medalhas de ouro. O mesmo vale para Belarus (ou Bielorrússia). O duelo Cazaquistão x Ucrânia, porém, aconteceu somente em Londres. Antes disso, o adversário dos centro-asiáticos era Belarus, que também mantém uma regularidade impressionante.

 

Das outras ex-repúblicas soviéticas, um pouco destacados estão o Azerbaijão e a Geórgia, seguidos de perto por Lituânia, Geórgia e Uzbequistão. Por fim, com desempenhos mais discretos estão a Estônia, a Letônia e a Armênia.

Com participações apenas esportivas temos o Quirquistão, que só medalhou em Pequim (prata e bronze) e Sydney (bronze), e o Turcomenistão, a única ex-república soviética a nunca ter um medalhista olímpico.

Agora, o grande fato a ser atentado é: caso ainda existisse, a briga União Soviética x Estados Unidos continuaria encarniçada, com vantagem para os socialistas no número de ouros, por apenas uma vitória, e no total de medalhas. A China estaria a uma distância confortável das duas potências.

Se, em um exercício de imaginação, criássemos um país somente com as ex-repúblicas soviéticas, deixando a Rússia à parte, a competição teria mais um concorrente de peso. Com 23 medalhas de ouro, 19 de prata e 40 de bronze, essa nação imaginária atingiria 75 medalhas em Londres, ocupando a 4ª posição no total de pódios, atrás da Rússia, e a 5ª posição no total de ouros, atrás da anfitriã Grã-Bretanha.

Pois é. São exercícios histórico-esportivos que nos fazem pensar. Mas a conclusão geral é de que o legado esportivo do antigo império continua vivo e dando frutos – mantendo a tradição.

Porém, a ilusão de que a Rússia seria a sucessora da pujança olímpica soviética vai, evento após evento, caindo por terra. Ainda que uma potência esportiva, o país dos nossos algozes no vôlei masculino não é páreo para as máquinas de fazer medalhas americanas e chinesas.

Mas não é nada que uma nova edição dos Jogos Olímpicos em Moscou não possam mudar.

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