O pluralismo da arte

Em cartaz no Museu de Arte Moderna de Moscou, artista brasileiro Jay Janer expõe mistura de influências que compõem sua vida e obra.

Filho de uma escritora italiana com um empresário sueco, o artista plástico Jay Janer nasceu no Rio de Janeiro e vive em Roma desde 2002, depois de 19 anos nos Estados Unidos, tantos mais em São Paulo, Rio, Buenos Aires, Paris. Não é à toa que sua exposição no MMOMA (Museu de Arte Moderna de Moscou) foi batizada de “Meu eu global”. 


Abrindo com um cavalo de óleo em fórmica, uma homenagem moderna às tradições da Renascença, a obra de Janer ocupa o andar térreo do enorme casarão do MMOMA, que divide com o trabalho de Leonid Sokov, no bulevar Gogol, centro de Moscou. 


Diferente, porém, da debochada “Sots Art” do vizinho, que inclui um bucólico nu de Stálin e uma cópia da Ponte Japonesa de Monet, de cima da qual um homem vomita no rio, Janer foca em retratos sérios e arte abstrata.

“Gosto de alternar os dois, e a exposição é uma retrospectiva dos meus trabalhos durante os últimos 10 anos”, disse Janer à Gazeta Russa. 


A obra do brasileiro também não segue nenhuma escola ou conceito fixo. “Influências eu tenho: pai sueco, mãe italiana, nasci no Rio, uma confusão de origens e influências, e acabo pintando meio sem regras”, explica. 
 

Primeiro as contas


A sorte do artista foi traçada em um curioso autorretrato, desenhado aos 6 anos de idade, também exposto no MMOMA. 

“Fiz esse autorretrato antes de uma festa em casa, ainda no Rio, e ele passou de mão em mão, impressionando a todos. Aos 12 anos fui para Paris e ia todos os dias ao Louvre. Ali disse para minha mãe – e para mim mesmo – que queria ser artista, mas antes precisava fazer dinheiro”, conta.

E assim foi. Depois de se formar em matemática e física, e de se especializar em economia, Janer foi trabalhar em Wall Street. Lloyds Bank, Lehman Brothers, Morgan Stanley foram alguns dos seus locais de trabalho na Nova York dosanos 80, enquanto se dedicava à pintava nas horas vagas. 

Janer nunca fez qualquer curso acadêmico em arte, e dedicou-se ao mundo das finanças por longos anos até que, há doze anos, resolveu mudar de ramo. 

“Procuro não me restringir. Quero me divertir pintando. Se o que estou fazendo estiver me amolando, então simplesmente passo para frente”, diz. 

Seus abstratos primam por contrastes, sobretudo entre fosco e brilho, cuja força não pode ser traduzida em palavras: é preciso ver ao vivo. 

“Uso vários tipos de materiais, madeira, fórmica, tela, vidro, plástico, qualquer superfície, tinta óleo, esmalte... Pesquiso a capacidade dos materiais de brilhar ou não, e de se espalharem”, explica. 

Já nos retratos, o brasileiro diz que seu conceito “é simplesmente ser o mais poderoso possível”. Alternando e misturando influências, como o cubismo no retrato de sua mulher, “Mema” (2011), ou o pontilhismo de “Buster Keaton” (idem), ele certamente alcança esse objetivo.

“Mafalda and Briano”, retrato de uma só pessoa que mais se parece com David Bowie, foi inspirado numa mãe com o filho. “A Mafalda é uma alemã linda de 45 anos que tem um filho de 6. Misturei os dois e saiu essa pessoa andrógina de 25 anos, o olho de um, a boca de outro”, conta Janer. “A própria Mafalda ficou chocada.” 

A exposição “Meu eu global” ficará em cartaz no MMOMA até o dia 20 de junho.

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