Data marca início da queda da União Soviética

Foto: Corbis/ Foto S.A

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Poucos russos sabem o que se comemora no dia 12 de junho, Dia da Rússia, e maioria acha que data não deveria ser celebrada

Na última terça-feira (12), celebrou-se o 20° Dia da Rússia. Controverso tanto para estrangeiros quanto para a maioria dos russos, o feriado passou a ser intitulado Dia da Rússia apenas em 2002, e é até hoje erroneamente chamado pelos russos de Dia da Independência.

Uma pesquisa realizada pelo Centro Levada em 2011 com 1600 russos verificou que 41% dos respondentes acreditam que o feriado se refere ao “Dia da Independência”, contra 40% que afirmam ser a data “Dia da Rússia”.

O motivo é que os cidadão do país relacionam a palavra “soberania” de seu antigo nome, “Dia da Aprovação da Declaração sobre a Soberania Estatal da Rússia”, com “independência”.

Normalmente, o Dia da Independência é comemorado por países que foram colônia, como, por exemplo, o Canadá ou o Brasil. Países europeus não têm em seus calendários tais feriados nacionais. Já a Rússia, apesar de nunca ter sido colônia em sua história, tem.

Memória popular

A criação do Dia da Independência teve como pano de fundo vários acontecimentos trágicos iniciados em 12 de junho de 1991, cujo significado para a história só poderá ser avaliado pelas futuras gerações.

“No verão de 1991, eu passava as férias com meus pais no litoral do Mar Negro e não conseguia aprender a nadar. Em 12 de junho, quando chegamos à praia, meu pai me disse, apontando para um penhasco: ‘Ali atrás fica a casa de veraneio onde o Gorbatchov é mantido em cativeiro por pessoas más. Você quer libertá-lo? Então tem que chegar até lá a nado”. Foi quando aprendi a nadar”, conta o advogado moscovita Serguêi Kolivanov, 25 anos.

Em 19 de agosto daquele ano, o Comitê Estatal de Emergência (GKCP, na sigla em russo) tentou afastar Mikhail Gorbatchov da presidência da União Soviética e interromper a “perestroika”.

O GKCP decretou estado de emergência, colocou o exército nas ruas de Moscou e nomeou militares para os postos de governadores das repúblicas soviéticas, impôs a censura aos veículos de comunicação e eliminou liberdades e direitos constitucionais dos cidadãos.

O governo da República Russa, a maior das repúblicas que compunham a União Soviética, por meio do então futuro presidente Boris Iéltsin, qualificou as ações do GCKP como golpe de Estado e pediu que aos moscovitas que saíssem às ruas para defender a Casa Branca (sede do governo da República Russa). Como resultado, houve vítimas letais.

“Meu marido era médico, trabalhava em uma ambulância, e chegou a casa depois de trabalhar a noite inteira. Mas quando soube que carros blindados haviam entrado em Moscou, foi à Casa Branca dizendo que poderia haver sangue e que seu dever era atender os feridos”, conta a dona de casa Liudmilla Pogódina, 41 anos.

Mal visto em casa

O dia 12 de junho foi declarado feriado em 11 de junho de 1992. Os russos, porém, acreditam que a data não deva ser celebrada. Uma pesquisa de opinião pública realizada entre 20 e 23 e abril de 2012 entre 1.601 cidadãos de 45 regiões federativas da Rússia mostra que apenas 3% dos russos consideram a data entre os principais feriados nacionais.

Para os historiadores contemporâneos, o Soviete Supremo da República Russa (parlamento da República Rússia) aprovou a “Declaração de Soberania do Estado da Rússia” em 12 de junho de 1990 para reforçar a posição de Iéltsin contra o Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (CC do PCUS) liderado por Mikhail Gorbatchov.

“O dia 12 de junho é para nós uma data memorável embora não o encaremos como feriado no sentido tradicional. Foi o início do colapso da era comunista, que lançou em campos de concentração meus tio e meu avô. Foi também o início da era democrática liderada por Iéltsin e Pútin”, completa.

Os jovens cidadãos da Rússia, a chamada “Geração-90”, não têm, em sua maioria, uma noção clara dos motivos por trás da criação do feriado de 12 de junho.

“Não tenho muitos sentimentos por esse feriado. Ele é para mim mais como um dia de folga no verão. Mas isso não significa que eu goste mais do dia do trabalho, ou que queira ir a essas celebrações como meus pais. Sou grato aos anos 90, porque agora posso ser relações públicas, algo que não existia naquela altura. Isso é um progresso!”, diz o estudante de relações públicas Andrêi Grechak, 20 anos.

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