O caminho para aquele lugar

Vencedor de prêmio em Cannes, curta-metragem russo retrata homem solitário que se liberta gritando obscenidades aos vizinhos.

A obra “V Tumane” (“No nevoeiro”, em português), do diretor Serguêi Loznitsa, não foi a única a ser premiada em Cannes. O curta-metragem “O Caminho para”, de Taíssia Igumentseva, também levou o grande prêmio da 15ª edição do concurso Cinéfondation, anexo do grandioso festival francês dedicado exclusivamente a jovens cineastas.


A premiação teve mais de 1700 trabalhos inscritos, dos quais apenas 15 produções de 14 países chegaram à grande final. Além do prestígio, Igumentseva também levou para casa um prêmio em dinheiro no valor de 15 mil euros. 


Em aproximadamente meia hora, a cineasta conta a história de um jovem de uma grande cidade cujo único prazer na vida é gritar obscenidades para seus vizinhos. 


Formada pelo Instituto Estatal Russo de Cinema (VGIK, na sigla em russo), onde teve aulas com famoso diretor russo Aleksêi Uchítel, Igumentseva contou à Gazeta Russa com o surgiu a ideia do filme e seus planos para o futuro.


Igumentseva se disse surpresa com a indicação Foto: RIA Nóvosti / Ekaterina Tchesnokova

Gazeta Russa: Como você entrou no festival? 

Taíssia Igumentseva: Enviei meu trabalho ao festival por acaso. O Instituto de Cinema onde estudava envia anualmente ao Festival de Cannes um conjunto de filmes feitos pelos estudantes finalistas e aprovados pela banca de avaliação, mas meu trabalho não foi incluído.

Portanto, imagine a surpresa do júri de Cannes ao receber meu filme depois de um mês, sem estar no pacote enviado pelo VGIK. Devo confessar que não esperava ser admitida no concurso em Cannes.

Trinta dias depois, o telefone tocou. Eles ainda não sabiam se o filme iria pra final ou não, pois programa já estava pronto. Mas na noite daquele mesmo dia recebi uma resposta definitiva, isto é, o convite para participar do Cinéfondation. 


GR: Em sua opinião, por que o júri de Cannes fez exceção para seu filme? 

TI: Os organizadores do festival disseram que meu filme era excelente, cheio de humor e inteligência, com uma ótima direção e bom desempenho dos atores.  

GR: Esse filme foi seu trabalho de conclusão de curso no VGIK. Qual foi a opinião do seu orientador, Aleksêi Uchítel, sobre a obra? 

TI: Uchítel procura apoiar todas as ideias, nos ajudando a encontrar um estilo original. Em “O Caminho para”, estava em busca do meu estilo. A banca de avaliação do TCC da faculdade queria rebaixar minha nota por causa dos palavrões dos meus personagens. Uchítel me defendeu e, depois de longas discussões, acabei tirando uma ótima nota. 


GR: Sua produção nos faz lembrar de filmes indie norte-americanos do Festival de Sundance. Você se inspirou em algum filme estrangeiro? 

TI: Posso ter me inspirado em outras obras e aprender com a experiências do passado, mas minha objetivo foi criar um filme original. “O Caminho para” é um filme sobre a solidão do homem moderno em uma grande cidade, um fracassado que não se encaixa em nenhum sistema atual.

GR: O que significa o nome do filme?

TI: O título se refere ao caminho daqueles mandados para “aquele lugar”. É para esse, digamos, endereço (risos) que o protagonista do filme manda os moradores de seu bloco. 

GR: Você associa o comportamento de seu personagem ao recente surto de ativismo na Rússia, especialmente em Moscou?

TI: De modo algum. Fiz meu filme muito antes dos últimos acontecimentos. Para meu personagem, dizer palavrões é a única maneira possível de escapar da monotonia da vida.

Ele sai ao pátio como se fosse um palco de teatro, com um belo terno e cabelo arrumado, e se transforma de um patinho feio em um belo cisne. Eu não interpretaria isso como simples ato de sair à rua para falar obscenidades.

Realçado pelo excelente desempenho do ator Serguêi Abróskin, esse “ato de vandalismo forçado” produz um efeito extremamente cômico. 

GR: Algum de seus trabalhos anteriores já tinha competido em festivais internacionais?

TI: Todos os meus trabalhos anteriores são documentários. Para falar a verdade, nunca tive o objetivo de criar filmes para festivais. 


GR: Você tem a intenção de fazer um longa-metragem?

TI: Minha roteirista favorita, Aleksandra Goloviná, e eu já escrevemos um roteiro para um longa-metragem e, neste momento, estamos à procura de patrocinadores.

O novo filme não será menos interessante do que “O Caminho para”. Será dedicado a nossa sociedade, amizade e amor. Não posso contar seu enredo, mas adianto que o título será “Soltar as amarras”. 

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