Pintor mais caro do mundo em cena em SP

Foto: Divulgação

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Protagonizada por Antonio Fagundes, peça retrata obra e pensamento de Mark Rothko, que, no último dia 8 de maio, voltou a ser o pintor mais caro do mundo depois de ter tela vendida por quase US$ 87 milhões em um leilão da Christie's, em Nova York.

Se é mesmo nos primeiros anos de vida que estabelecemos nossas relações com as cores, foi pela Rússia que passaram as cores singulares de Rothko. Nascido no Império Russo em 1903, Markus Rotkovitch era judeu e emigrou para os EUA aos 10 anos, onde se matou em 1970, já como Mark Rothko, um dos maiores pintores de seu tempo. 

Ele agora é tema da peça de teatro “Vermelho”, estrelada por Antonio Fagundes e seu filho Bruno, em cartaz até 29 de julho na nova sala da cidade, o teatro GEO.

O pintor russo foi o maior expoente do expressionismo abstrato que sucedeu ao cubismo e ao surrealismo depois da Segunda Guerra, propondo uma crítica ao “American way of life” imposto como modelo de sucesso depois da destruição da Europa. 

Mas Rothko não é apenas o mais valorizado artista russo de todos os tempos. No último dia 8 de maio, ele voltou a ser o pintor mais caro do mundo ao ter uma tela sua vendida por quase US$ 87 milhões em um leilão da Christie's, em Nova York.

O artista, entretanto, tratava seu ofício como algo sagrado. Pregava uma postura contemplativa para suas obras, e não queria nada entre o quadro e o observador. Os atritos entre essa concepção purista de arte e o ruidoso mercado dos artistas pop americanos dos anos 1960 (como Andy Warhol e cia.) foram questão de tempo.

Intimidade em vários tons

“Vermelho” leva aos palcos dramas filosóficos e artísticos de Rothko. A história se passa no final da década de 1950, quando o russo recebeu uma proposta milionária – a maior até então paga a um pintor - para elaborar uma série de murais para o luxuoso restaurante Four Seasons, no edifício Seagram, em Manhattan. 

“Em dinheiro de hoje, essa quantia seria equivalente a US$ 2 milhões, levando em conta o mercado de arte atual”, disse Antonio Fagundes à Gazeta Russa ao final de uma apresentação.

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John Logan, autor da peça e roteirista de filmes como “Gladiador” e “A Invenção de Hugo Cabret”, insere na história um personagem ficcional, o assistente Ken, interpretado por Bruno. O cenário é o estúdio, a intimidade profissional de Rothko.

A intenção do autor não era fazer uma biografia, mas explorar a face dramática da vida do artista: “Estou aqui para parar o seu coração, para fazer você pensar, não para desenhar coisas bonitas”, diz Rothko em cena. 

Ken chega para ajudar o mestre com os murais do Four Seasons. No primeiro diálogo da peça, olhando para a plateia como para uma tela imaginária, o mestre pergunta a seu assistente: “O que você vê?”.  “Vermelho”, o jovem responde. 

Este diálogo se repete nas últimas falas do espetáculo. A palavra é a mesma, vermelho, mas o tom é outro. Não o tom da cor, que a plateia não vê, mas da voz. A transformação cromática acompanha o estado emocional dos personagens, de um vermelho a outro.

“Para ele, a cor tinha uma função simbólica, assim como para Van Gogh. As cores são vetores de sentimento. Não é à toa que no final da vida Rothko passa a pintar um horizonte preto”, explicou em entrevista exclusiva à Gazeta Russa o pintor e consultor artístico da peça Paulo Pasta.


Entre os “dois vermelhos” que o assistente enxerga do início ao fim da peça está o período em que Rothko pintou os murais para o restaurante e, tempos depois, mudou de ideia, devolveu a fortuna e ficou com as obras. 
Rothko achava que aquele lugar de opulência e ostentação era inadequado para o público admirar seus quadros. 


Telas protagonistas

 
Com cenário de telas que imitam as obras de Rothko, iluminação e trilha sonora de clássicos de Jorge Takla (diretor de “Evita”), e figurinos de Fabio Namatame (“Cabaret”), “Vermelho” termina com os atores batendo um papo informal com o público.

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Mas o espetáculo não traz o período o suicídio do artista, mais de uma década depois do período retratado. Tampouco mostra elementos de sua infância, que coincidiu com os desmandos da Rússia tsarista, a perseguição a judeus e os massacres perpetrados por cossacos. A obra e o pensamento de Rothko são o foco.


“Rothko era um homem muito angustiado, com um sentido da história como aventura humana errante. Não saberia dizer de onde vem isso”, diz Pasta.


As telas de Rothko funcionam como personagens dessa epopeia. Formas retangulares boiando em um campo manchado de cores intensas ou totalmente negros. 


A simplicidade das manchas flutua num “mundo desconhecido”, como o próprio artista afirmou. A expressão inclusive batizou uma retrospectiva do artista há dois anos em Moscou, no Centro de Cultura Contemporânea Garage.

Embora seja muito comum atribuirmos cores a sentimentos e sensações (“roxo de raiva”, “verde de fome” etc.), Rothko fez isso de forma diferente. Em seus trabalhos, as cores se relacionam com a forma e fazem de telas de um negro intenso janelas para a escuridão. Em seu último ato na vida real, parece que Rothko se foi por uma delas.Para saber mais, confira nosso calendário cultural.

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