“Não restou ninguém para contar a história às novas gerações”

Boris Drozdov Foto: Vladímir Ruvínski

Boris Drozdov Foto: Vladímir Ruvínski

O aposentado Boris Drozdov, cujo pai e o avô foram vítimas do regime de Stálin, pesquisa há dez anos os acontecimentos que mudaram a rotina de sua família. Ele falou sobre a experiência à Gazeta Russa.

Boris Drozdov, 78, começou a pesquisar há cerca de dez anos o destino de seu avô, Aleksêi, um advogado bolchevique, e de seu pai, Pável, um contador que passou mais de uma década em campos de trabalho forçado.

Mesmo com os documentos espalhados por toda ex-União Soviética, Boris conseguiu dar continuidade à pesquisa com a ajuda da ONG de defesa dos direitos humanos “Memorial”.

Como tantos outros, o avô de Boris foi acusado de atividades contrarrevolucionárias na Crimeia, em território hoje ucraniano. Em 1921, Aleksêi foi executado, 18 dias após sua prisão.

Seu pai começou a trabalhar aos 15 anos. “Primeiro foi enfermeiro, mas era um garoto errante e tralhava onde quer que encontrasse emprego”, relembra Boris. Pável acabou preso em junho de 1924, também sob a acusação de conspiração, e foi sentenciado a três anos em um campo de trabalho forçado.

Mesmo libertado dentro desse período, Pável continuou vivendo ali, como muitos outros ex-prisioneiros, para erguer a fábrica de papel local, onde trabalhava como contador. “Acho que foi por isso que meu pai sobreviveu”, conta Boris.

Boris Drozdov nasceu em 1934 em Moscou, enquanto seu pai estava em Vladivostok, no extremo Oriente russo. Novas represálias tiveram início nesse mesmo ano, mas a onda de terror não atingiu sua família até o começo de 1937.

Nessa época, o chefe dos contadores foi preso. “Meu pai não foi para prisão pois tinha que escrever o relatório anual. Ele tinha uma caligrafia bonita e todos os relatórios eram publicados com sua letra”, recorda. 

Em 1938, assim que seu pai terminou o serviço, foi preso novamente. “Soube que meu pai estava vivo somente em 1951, quando o libertaram”, diz.

Pável recebeu, então, uma permissão para levar sua família a Kolimá, no nordeste do país, onde estava exilado.

“Minha mãe e todos nós fomos para lá. Houve uma disputa para pegar o barco a vapor, e a espera poderia chegar a um ano. Quando desembarcamos, havia três homens nos esperando. Olhei para eles e perguntei à minha mãe qual deles era meu pai, que não via havia 13 anos.”

Em 1956, três anos após a morte de Stálin, o Pável foi reabilitado. “Alguém precisa esclarecer as coisas de uma vez por todas”, diz. Segundo ele, as atrocidades cometidas por Stálin superam os pontos positivos. 

“As construções foram realizados às custas dos prisioneiros, e a vitória na guerra se deve ao povo. É uma pena que haja poucas vítimas das represálias ainda por aí. Não há ninguém para contar às novas gerações a história verdadeira”, arremata.

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