Final de concurso de moda em Moscou tem brasileiras

Nesta sexta-feira (11), última etapa do Concurso Internacional de Moda para Deficientes Físicos Bezgraniz Couture 2012 terá dez finalistas: quatro alemães, quatro russos e duas brasileiras.

Inspirada em aves brasileiras, coleção da Lira para cadeirantes valoriza parte superior e é fácil de vestir FOTO: Divulgação

Colegas do curso de Têxtil e Moda da USP, onde se formaram em 2010, as brasileiras Inayê Brito, 24, e Júlia Sato, 25, têm motivo de sobra para celebrar o segmento que escolheram ainda antes de terminar a faculdade.

Depois de vencerem premiações na terra natal – como o Concurso de Moda Inclusiva (2009 e 2010) e o "Inova Senai" (2010) -, agora as duas aterrisam na capital russa com sua coleção para cadeirantes inspirada em aves brasileiras que lhes garantiu um lugar na final do Concurso Internacional de Moda para Deficientes Físicos Bezgraniz Couture.

"Poder mostrar o talento da moda brasileira em um concurso internacional que nunca recebeu latino-americanos é uma grande conquista para nós", disse Brito à Gazeta Russa.

A última etapa do concurso, que acontece nesta sexta-feira (11), terá ainda quatro finalistas russos (Firuza Bayanova, Dmítri Klutchévski, Natali Kostina e Elena Shipilova) e quatro alemãs (Cristina Wolf, Lena Lukyanova, Angela Tönnies e Viven Shluter).

Assim, as brasileiras serão também as únicas representantes americanas na premiação.

"Alcançar as finais e representar todo nosso enorme continente é uma grande satisfação, ainda mais porque nos dedicamos a essa fatia do mercado já há 4 anos",  diz Sato.

Design e bolso universal

Angela Tönnies, 49 anos, participa pela primeira vez do Bezgraniz Couture, do qual é uma das quatro finalistas alemãs. Segundo Tönnies, um dos principais motivos que a levou a optar pelo segmento foi que ela queria tornar a moda acessível também às pessoas com deficiência.


“Eu acredito que as roupas devem ser acessíveis em termos de preços. E pessoas dessa categoria  nem sempre têm a possibilidade de trabalhar. Por isso, eu queria mudar algo na vida dessas pessoas, vesti-las bem e fazê-las feliz”, explica.

Tönnies tem um ateliê na cidade de Aerzen, 350 km a oeste de Berlim, onde vende roupas masculinas e femininas especialmente trabalhadas para pessoas que usam próteses nas pernas, braços e , para mulheres, também nos seios. São casacos, capas, ponchos, peles e saias, entre outos.

“Deficientes sempre me trazem roupas para remodelar e modernizar com minhas ideias, mas o que eu quero é criar moda para essas pessoas, e penso que agora é o momento certo”, diz Tönnies.

A ideia de moda inclusiva está diretamente relacionada ao conceito de design universal, que prevê que qualquer produto, embalagem ou espaço seja usado tanto por pessoas com deficiência, como sem.

O conceito nasceu principalmente por meio da arquitetura, com adaptações que mudaram a vida dos deficientes - para melhor. É o caso da instalação de rampas no lugar ou ao lado de escadas, banheiros adaptados etc., facilidades que podem ser usadas tanto por deficientes como por não deficientes.

"Um elevador com botões em braile, por exemplo, não muda sua vida, mas muda totalmente a de um deficiente visual. E nos nossos projetos, e principalmente este último, uma pessoa pode se perguntar: ‘mas que diferença tem aqui?’ São roupas totalmente comuns, mas as adaptações imperceptíveis fazem toda a diferença para um deficiente”, explica Brito.

Video: Elena Potchetova

A coleção para cadeirantes da Lira - marca que Brito e Sato criaram -, por exemplo, busca derrubar obstáculos na hora de vestir. As roupas ou se vestem por cima, ou têm um mínimo de zíperes e abotoamentos por baixo.

Calças e saias têm cintura mais alta, pensada para pessoas que ficam sentadas na maior parte do tempo, e não têm bolsos traseiros, que incomodam e são de pouco uso. Para a cintura, a coleção dá prioridade a cordões reguláveis e elásticos.

Também foram pensados em ajustes laterais por cordões para a altura das pernas, que podem ter comprimentos diferentes, com as diversas alturas dos apoios para pés nas cadeiras de rodas. Além disso, os tecidos têm tratamento bactericida para ajudar a evitar doenças de pele, sempre em contato com a cadeira nos mais diversos ambientes.

“O evento só tem a acrescentar à moda e aos deficientes do Brasil e do mundo com a divulgação de um segmento tão pouco explorado e tão promissor”, arremata Brito.

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