Cientistas russos testam nova droga contra câncer e hepatite

Professor Serguêi Rodionov Foto: Tatiana Andreeva/Rossiyskaya Gazeta

Professor Serguêi Rodionov Foto: Tatiana Andreeva/Rossiyskaya Gazeta

Terapia tem como base uso de uma proteína.

A droga foi inventada pelo professor Serguêi Rodionov, médico militar de formação, que trabalhou em Novosibirsk, Tomsk, Perm e agora trabalha em Ekaterimburgo, nos Urais, estudando as propriedades terapêuticas da AFP.

“Meu professor, atualmente falecido, o acadêmico Nikolái Vasíliev, vice-diretor do Instituo de Oncologia da cidade de Tomsk, e eu fomos dos primeiros a começar a estudar as propriedades terapêuticas da AFP.

Notamos uma grande similaridade entre três processos: o crescimento do tumor, o desenvolvimento embrionário e a regeneração, e publicamos um artigo sobre a natureza do câncer”, diz Serguêi Rodionov.

Para o cientista, o câncer não é uma doença, antes um processo biológico que não é típico de organismos superiores, mas sim, de organismos inferiores, desde as hidras até os anelídeos, e representa a chamada embriogênese somática quando de uma célula nasce um organismo inteiro.

Confira abaixo a entrevista que Rodionov concedeu à Rossiyskaya Gazeta.

R. G. :Os vermes são os responsáveis pelas doenças oncológicas? O que a proteína fetal tem a ver com isso?

Rodionov: Você já ouviu alguma vez dizer que um feto de três meses está com câncer? Nunca. Mais do que isso. A pesquisadora suíça Mintz fez a seguinte experiência: ela pegou camundongos puramente brancos e camundongos puramente pretos, provocando nos primeiros a gravidez e nos pretos, um tumor. As células tumorais foram colocadas no feto dos camundongos brancos e estas perderam a malignidade! Nasceu um filhote preto e branco completamente normal.

Histórico


A alfafetoproteína é produzida no desenvolvimento do embrião e do feto.

Uma de suas funções é controlar a execução do programa genético e atenuar a resposta imune da mãe para que o corpo materno não rejeite o feto.

Após o nascimento, a AFP desaparece no organismo humano, mas sua isoforma (atualmente, conhecem-se doze isoformas) aparece no desenvolvimento do câncer.

Por isso, a AFP serve de marcador tumoral. A AFP foi descoberta acidentalmente pelo acadêmico russo Garri Ábelev na década de 50 do século passado.

Isso aconteceu porque existe a proteína AFP, responsável pela supervisão do cumprimento adequado do programa genético. Se uma célula está com defeito, a AFP põe em ação um gene de morte programada e mata a célula defeituosa.

O professor Vasíliev e eu fizemos as primeiras tentativas de tratamento do câncer com a AFP. Em seguida, mexemos com a oncologia e doenças auto-imunes. Uma das áreas mais recentes de meus estudos é a hepatite. Trabalho nesse sentido há mais de três anos. Conseguimos os melhores resultados do mundo.

R. G.:Isso quer dizer que você resolveu o problema logístico, ou seja, um dos mais importantes problemas da farmacologia moderna: o do transporte da droga exatamente para o órgão afetado?

Rodionov: Sim. Em primeiro lugar, usamos a AFP como meio de transporte para a interferona. Mas a AFP tem uma outra característica importante, livrando as células do vírus da hepatite, HIV e herpes. O problema é que o vírus se encontra na célula e não é atingido por uma droga antiviral.

A AFP faz com que o vírus abandone a célula e se torne vulnerável à terapia antiviral. Por enquanto, não sabemos como nem por que isso acontece. Não conhecemos ainda o mecanismo desse processo, mas esperamos conhecê-lo ainda este ano.

Encontramos a confirmação de nossa teoria em estudos norte-americanos: os filhos de pais infectados pelo HIV podem ficar doentes com o HIV, mas o feto de três meses com um nível de AFP muito alto nunca é atingido por essa doença! A proteína manda o vírus abandonar a célula.

Assim sendo, começamos a tratar a hepatite C. Em uma sessão de tratamento de trinta dias, conseguimos acabar completamente com o vírus sem quaisquer complicações. O preço do medicamento é de 45 mil rublos (R$ 2.600). Contando com o uso de interferona, chega a 60 a 70 mil rublos (R$ 3.500 R$ 4.100). Compare-se: na técnica tradicional, gastamos entre 2 e 2,5 milhões de rublos (R$ 119 mil a R$ 149 mil) só para comprar os medicamentos Rebetol e Pegintron. O tratamento dura 12 meses. Está vendo a diferença?

Obtivemos a cura completa da hepatite C dos genótipos 2 e 3. No caso de genótipo 1, mais complicado, nossos resultados são mais modestos: metade dos pacientes se livrou completamente do vírus enquanto os restantes apresentaram uma redução da carga viral em cem vezes.

R. G.: No tratamento tradicional, o vírus reaparece geralmente em dois anos. Quais são os efeitos a longo prazo da terapia por AFP?

Rodionov: Observamos nossos pacientes há mais de cinco anos, eles estão bem. Fui dos primeiros pacientes a passar por essa terapia. Pequei a hepatite C no trabalho, furando a luva durante uma intervenção cirúrgica em um paciente infectado. Estou livre da hepatite C há cinco anos. Até postei meu exemplo clínico em meu site.

A propósito


Atualmente, a droga Profetal obtida por Serguêi Rodionov e sua equipe não está disponível no mercado.

Sua produção deve começar na cidade de Novourálsk, região de Sverdlóvsk, nos Urais, em setembro deste ano.

Estima-se que os investimentos no projeto cheguem a 960 milhões de rublos (cerca de R$ 52 milhões), dos quais 400 milhões são uma bolsa de pesquisa concedida pela Fundação Skolkovo.

Os pacientes deverão assinar o termo de consentimento e serão divididos em dois grupos de testes de 100 pessoas, dos quais um será tratado com o novo medicamento e o outro, com um placebo.

R.G.: Quantas pessoas já foram curadas pela terapia?

Rodionov: Não contei, são muitas.

 

R.G.: Após seu comunicado sobre o início da produção da nova droga, nosso jornal recebeu muitas perguntas de leitores sobre quando e onde o novo medicamento poderá ser obtido.  

Rodionov: É lógico que quando sai uma publicação muita gente fica sabendo de novos métodos e se manifesta desejosa de receber o tratamento. Sei disso pela experiência de meu trabalho à frente do serviço de oncologia do hospital da cidade de Perm (nos Urais), onde fazíamos estudos clínicos.

O telefone não parava de tocar. Até aprendemos a diferenciar os toques de telefonemas vindos de Kamtchatka (Extremo Oriente) e de Kalingrado (região mais ocidental da Rússia). Tínhamos ali pacientes com um câncer muito complicado.

 

G.R.: E como você resolveu o problema?

Rodionov: Não tinha como resolvê-lo. O serviço tinha apenas 15 leitos e estava todo o tempo lotado. Um paciente tinha de aguardar três meses na fila para entrar no hospital. Fazíamos o que podíamos...

Agora nosso desafio é lançar a produção para que cada clínica possa ter esse medicamento. Essa será nossa ajuda aos pacientes. Teremos os melhores laboratórios e a melhor produção, pela menos na Europa. Para isso, temos recursos e potencialidades suficientes.

 

G.R.: Porque ninguém mais no mundo estuda essa proteína mágica? Por que as gigantes farmacêuticas não se apressam em estudá-la para inundar o mercado com novos medicamentos?

 

Rodionov: Está falando sobre as corporações estrangeiras? Sejamos honestos: para elas, o paciente está no início da “cadeia alimentar” e é interessante apenas como objeto para ganhar dinheiro. As gigantes farmacêuticas estão focadas em obter lucros. Como, em sua opinião, elas reagiriam ao surgimento no mercado de um medicamento revolucionário que pudesse minar sua base econômica? Elas pagam um dinheirão aos autores de inovações para que nada de radicalmente novo apareça no mercado. Elas querem que a droga ajude, mas pouco, para não destruir o mercado. 

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