Grafite russo em busca da própria identidade

Manifestação artística alcançou apogeu há cerca de cinco anos na Rússia e passou a ser combatido por prefeituras

Fotos: Janlieske

Na extinta União Soviética, o grafite surgiu ainda nos idos de 1980 como um dos chamados “quatro elementos do hip-hop” (que incluem ainda breakdance, o DJing e o rap). Mas só no final dos anos 90 e início dos 2000 essa cultura saiu da clandestinidade para entrar na moda. 



O grande apogeu dessa arte deu-se há cerca de cinco anos, quando o grafite se tornou, de repente, realmente popular. Grafiteiros iniciantes começaram a interferir em todas as áreas possíveis da cidade para desenhar. O espaço à volta do monumento aos “Agentes do Serviço de Guarda de Fronteiras”, situado no local de confluência dos rios Iáuza e Moscou, virou ponto de encontro dos grafiteiros. 



O grafite deixou de ser visto na sociedade como algo irrelevante ou mera contravenção. “A imprensa passou a falar sobre o grafite como arte urbana. Isso ajudou a mudar a atitude da sociedade para com essa cultura. A internet também deu sua contribuição”, explica o ativista do movimento de pintores de rua Kirill Kto, em entrevista ao portal Code Red. 



“Ampliou-se a noção do que é a arte e das formas que ela pode assumir para não perder o contato com a sociedade”, completa.



Urbano versus design

 

Aproximadamente nessa época muitos grafiteiros se voltaram à arte urbana. “Recentemente o grafite passou a ser utilizado por muitos partidos políticos marginais e oficiais e movimentos sociais para fins de propaganda política, o que não acontece, por enquanto, com os artistas de rua, embora precedentes já existam”, diz Kirill. 



Retratando esse período, a mostra anual russa Faces & Laces completa cinco anos dedicando-se à arte contemporânea alternativa. 



Mas a arte do grafite se tornou fugaz. Quando as imagens e inscrições nas ruas da cidade se tornaram quase tantas quanto as da Nova York do final dos anos 1970, a prefeitura declarou guerra aos grafiteiros, removendo, quase todos os dias, sua arte dos espaços públicos. 



Muitos grafiteiros e artistas de rua apontam, porém, outro problema: a quantidade aumenta, mas a qualidade dos grafites no país, não. 



“Só verificamos o aumento do número de jovens grafiteiros e dos produtos em lojas de grafite. No que se refere aos novos talentos, infelizmente, não temos o que dizer”, disse ao site Look At Me o grafiteiro moscovita Ask, um dos primeiros russos a ter suas obras publicadas regularmente em álbuns europeus e americanos de design gráfico.

“Na melhor das hipóteses, os jovens grafiteiros aprendem a copiar ou a criar suas variações sobre temas explorados por grafiteiros ocidentais conhecidos”, completa. Como muitos de seus colegas, Ask deixou de desenhar nas ruas e se voltou ao design. A história mundial do grafite conhece muitos casos como esse.

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