Rússia lança plano de defesa antimísseis em resposta a escudo americano

Ilustração: Niyaz Karim

Ilustração: Niyaz Karim

A motivação fundamental dos esforços dos EUA para o desenvolvimento de seu escudo antimíssil é seu desejo de garantir a segurança total da parte continental do país. Esse desejo determina também sua mentalidade estratégica e sua política para a segurança nacional.

No entanto, o nível de desenvolvimento tecnológico e econômico do mundo atual é tal que hoje não é possível criar uma proteção segura contra um ataque maciço de mísseis nucleares. Por isso, os EUA decidiram avançar rumo ao alcance de seu objetivo por etapas e instalar primeiro um sistema de defesa antimíssil “limitado, antes da construção de um sistema de defesa antimíssil em grande escala para proteger todo o continente norte-americano contra ataques de mísseis nucleares.

As tentativas de construção de um escudo antimíssil americano (por enquanto, apontado contra as armas nucleares do Irã e da Coréia do Norte) são no momento experimentais e devem lançar uma base tecnológica para o futuro desenvolvimento de um pleno sistema de defesa antimíssil de todo o território dos EUA.

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- Por que a Rússia é contra o escudo antimíssil americano?

Como observou o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, a “segurança absoluta para um significa uma total falta de segurança para todos os outros” e é nesse sentido que a Rússia tomou sua posição em relação ao escudo antimíssil dos EUA.

A Rússia é incapaz de impedir ou retardar a implementação de projetos de defesa antimíssil americanos. Em princípio, Moscou não tem o que oferecer aos americanos em troca da possibilidade de tornar seu território nacional absolutamente invulnerável. Em 1986, Mikhail Gorbachev ofereceu em uma reunião com Ronald Reagan desmantelar por completo o arsenal nuclear russo se os EUA abdicassem de seu plano de defesa estratégica e recebeu, naturalmente, a rejeição. A idéia de ter uma defesa antimíssil está estreitamente ligada à idéia de hegemonia norte-americana, atingindo, portanto, os valores mais elementares da política externa e defensiva dos EUA.

Por esse motivo, não faz sentido negociar com Washington sobre a defesa antimíssil. Como os líderes russos puderam ver ao longo dos últimos anos, tais negociações não tiveram nenhum resultado positivo. Todas as tentativas de envolver os EUA em qualquer acordo de limitação não deram certo. Na verdade, os contatos com os norte-americanos nessa matéria só vieram confirmar que Washington tinha planos de longo alcance em defesa antimíssil. Esses planos, aliás, podem representar, numa perspectiva de longo prazo, uma ameaça para os alicerces do regime de dissuasão nuclear e, portanto, para a segurança nacional da Rússia.

Plano B


Nessas circunstâncias, os líderes russos enfrentavam um dilema: continuar fazendo tentativas inúteis de chegar a um acordo com os EUA sobre a defesa antimíssil ou recorrer a um plano B. Como dirigentes experientes e realistas, Vladímir Pútin e Dmítri Medvédev tinham um plano B, anunciado pelo presidente russo no dia 23 de novembro passado em um momento político oportuno, escolhido cuidadosamente. O principal objetivo do discurso do presidente Medvedev foi dar a entender que o Plano B entrou em ação. As medidas anunciadas pelo presidente não são novidade e já estão sendo colocadas em prática. A Rússia preparou há muito seu Plano B, desenvolvendo e testando novas ogivas nucleares e novos mísseis transportadores como Iars, Láiner e Avangárd, instalando uma rede de radares de aviso prévio, dos quais um na região de Kaliningrado, e criando um sistema de destruição dos meios de informação e controle do escudo antimíssil. Basta lembrar a esse respeito que a Rússia retomou, em 2010, os testes do sistema de laser A-60 do programa Sokol-Echelon, destinado ao combate de satélites norte-americanos da defesa antimíssil, e procedeu à substituição dos sistemas de mísseis Tochka-U pelos novos Iskander-M. Mais cedo ou mais tarde, essa campanha de rearmamento chegará também à 152ª brigada de mísseis estacionada na região de Kaliningrado.  

O rápido crescimento dos gastos militares da Rússia nos últimos anos e o aumento das verbas para a defesa, previsto para a próxima década, permite dar um novo impulso à concretização de muitos desses programas. O presidente Medvedev deu a largada  ao plano B e o desenvolvimento gradual e bastante lento do escudo antimíssil americano proporciona à Rússia tempo e possibilidades para cumprir o programa anunciado.

Ruslán Púkhov - diretor do Centro de Análise, estratégia e tecnologia


 Originalmente publicado no site da http://vpk-news.ru/

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