A odisseia do segundo palco do Teatro Mariínski

O projeto da empresa canadense Diamond & Schmitt Architects

O projeto da empresa canadense Diamond & Schmitt Architects

Além do triunfo indiscutível, o teatro Mariínski tem seus problemas, todos relacionados às obras intermináveis do segundo palco e à necessidade de reforma do antigo prédio, que o Mariínksi tenta resolver já há quase dez anos.

A decisão de construir um novo palco foi tomada em 2002. Foi trazido para desenhar o projeto Eric Moss, dono da medalha de ouro da Sociedade de Arquitetos Americanos. Infelizmente, nem os clientes, nem o público estavam preparados para seu design extravagante. A pedido da administração do teatro, o prédio novo e o antigo deveriam ser unidos por uma ponte através do canal Kriukov, pela qual seriam trasnferidos os cenários. Por culpa de Moss, o prédio antigo e o novo ficaram dispostos em altitudes diferentes, o que tornou impossível a rápida transferência de cenários. O arquiteto alegou que os prédios foram colocados atravessando o quarteirão para passar a ideia da pressão da cidade no teatro: é como se o quarteirão tivesse amassado o teatro. Mesmo assim, o projeto de Moss não foi bem aceito e seus opositores apontaram uma ausência de ligação com as tradicionais arquiteturas russas.

"A relação com a vanguarda russa e o construtivismo russo na arquitetura é o aspecto fundamental do nosso trabalho", disse ele em uma entrevista. Além disso, o teatro "é sempre um evento na cidade, é sempre a alma da experiência, é sempre algo incomum". O projeto não foi apreciado na Rússia, fez sucesso durante a Bienal de Arquitetura de Veneza, onde se tornou assunto de um grande debate e acrescentou fama ao seu criador.

Após o fracasso de Eric Moss, foi tomada a decisão de realizar um concurso internacional. Em 2003, em uma cerimônia solene, foi declarado um vencedor. Ele é Dominique Perrault, que se ofereceu para cobrir o edifício futurista com uma cúpula dourada. Depois da demolição de parte do quarteirão histórico, incluindo o prédio do mercado lituano do século 18 e um prédio da época stalinista, o trabalho começava a engrenar, mas sem muito sucesso. Quanto mais a construção avançava, mais problemas surgiam, impedindo transformar as ideias de Perrault em realidade.

Em vez da cúpula de ouro, todos começavam a falar cada vez mais de um "fosso de ouro", cavado debaixo da construção do segundo palco e que já comia todo o dinheiro sem qualquer tipo de resultado visível. Após 5 anos, finalmente veio à luz que o projeto do arquiteto francês não atendia às normas de construção russas. Apesar disso, muitas pessoas tendam a acreditar que a discrepância foi puramente burocrática.

O projeto de Dominique Perrault

De todo modo, os serviços de Perrault foram recusados e foi anunciada uma concorrência para um novo projeto. Para aqueles que não sabem a diferença entre abrir um concurso e uma concorrência, segue uma breve explicação: no concurso, avalia-se o projeto e às vezes até se paga aos arquitetos pelo projeto concursado. Na concorrência, avalia-se em sua maioria as variadas formas de financiamento dos candidatos, que precisam pagar por aquilo que estimaram.

Ganhou a concorrência uma empresa desconhecida chamada KB ViPS, para quem já havia sido entregue antes o projeto de fundação do teatro. Uma vez que não havia um estúdio de arquitetura da KB ViPS, ela entrou na concorrência em colaboração com a empresa canadense Diamond & Schmitt Architects. Em sua proposta, não há nenhum tipo de estrutura particularmente notável de arquitetura, mas o projeto teve como base a qualidade acústica do prédio da casa de ópera 4 Seasons Centre, de Toronto.

Justamente por isso eles caíram no gosto do presidente do teatro Mariínski, Valéri Guerguiev. Se o projeto de Moss era chamado de "serviço de lixeiro" e a variante de Perrault de "folha amassada", então a continuação canadense conseguiu o nome menos romântico de todos: "o supermercado".

O projeto de Eric Moss

Com esse desastre, o Mariínski 2 nunca foi avaliado como puramente estético. O financiamento de suas obras veio de dinheiro do Estado. E durante esses anos de trabalho, o seu custo subiu de 9 milhões de rublos para 19,1 milhões. Se com esse dinheiro tivesse sido construído o projeto de um arquiteto famoso, então ele teria mais chances de recuperar a soma com o turismo. Portanto, na realidade, o dano foi muito maior que 11 milhões de rublos. Mas já não há caminho de volta.

Promete-se a entrega do novo edifício até 2012. Pelo lado positivo, é possível pensar nos seguintes fatos: em primeiro lugar, a finalização da obra é de todo modo visível, e o Mariínski terá um segundo palco, embora não seja tão bonito quanto poderia ser. Em segundo lugar, assim como ocorre na casa de ópera de Toronto, os canadenses de forma muito responsável chegaram a uma sala acústica característica.

Em terceiro lugar, o novo palco não deve ter problemas com a instalação de cenários para performances complexas e de alta tecnologia (no edifício antigo é necessário fechar o teatro por alguns dias para prepará-lo).

Assim que a nova sala for aberta, começará uma nova e complicada fase para o teatro: a restauração do antigo prédio. Só nos resta desejar mais sorte do que a que tiveram na construção do novo palco.


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